5 desafios que podem dificultar a popularização do carro elétrico no BR
Especialista defende que, para que carro elétrico chegue à popularização no Brasil, alguns desafios precisam ser superados.
Especialista consideram a chegada de fato da chinesa BYD ao País, com o anúncio dos investimentos para o início da produção nacional na Bahia, como o mais importante marco da história do carro elétrico no Brasil até aqui. Porém, para que os veículos movidos à energia das baterias cheguem à popularização por aqui, alguns desafios devem ser superados.
Confira 5 desafios no caminho da popularização do carro elétrico no Brasil
Na primeira semana deste mês de julho, a BYD anunciou oficialmente que realizará um investimento de R$ 3 bilhões na aquisição e adequação da antiga fábrica da Ford, na Bahia, para a produção de veículos elétricos.
Dessa fábrica, sairá o BYD Dolphin EV, modelo que, importado, em poucos dias de mercado alcançou um sucesso de vendas jamais visto antes no segmento do carro elétrico.
O impacto do lançamento fez com que outras montadoras revisassem os valores de seus modelos para baixo. Exemplo disso é a JAC Motors, que anunciou uma redução de R$ 6 mil no preço do modelo e-JS1 (agora R$ 139.990).
Esse cenário de preços decrescentes tende a se intensificar com o lançamento do modelo de entrada da marca chinesa, o BYD Seagull, previsto para o prócimo ano de 2024, já com produção nacional.
Porém, a queda de preços é apenas um dos requisitos para a popularização do carro elétrico no País. Uma das preocupações para os futuros usuários desse tipo de automóvel está na infraestrutura, principalmente no que tange à recarga.
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Segundo Ricardo David, sócio diretor da Elev, empresa especializada em soluções para o segmento da eletromobilidade, existem alguns aspectos que precisam ser observados.
“Estamos vivendo uma real transformação no mercado nacional do carro elétrico, algo que pode ser explicado pela chegada da BYD e pelos incentivos, principalmente no Estado da Bahia. Com isso, outros setores precisam estar atentos e se adequar ao novo cenário”, defende o executivo.
Outro ponto apontado pelo especialista está nas parcerias, como o recente acordo entre a BYD e a 99, que irá adicionar 300 veículos elétricos à frota da empresa de transporte por aplicativos em São Paulo. É muito possível que o ano de 2024 traga um grande aumento das vendas dos veículos eletrificados no País.
Os dados mais recentes da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) apontam que foram registrados 6.435 emplacamentos em maio último, alcançando o recorde mensal de vendas de veículos leves eletrificados desde o início da série histórica da entidade.
David aponta cinco questões de infraestrutura que precisam ser resolvidas para tornar viável a popularização do carro elétrico no Brasil.
1- Condomínios
Imagina um cenário no qual você é o proprietário de um carro elétrico e não pode carregar seu automóvel em casa. Essa é a realidade de muitos moradores de condomínios no Brasil. Segundo David, a infraestrutura necessária para a adaptação pode ser simples, mas necessita de um movimento por parte dos proprietários e síndicos dos codomínios.
“Considerando o potencial de crescimento, os condomínios devem correr para se adaptar. Principalmente com o aumento significativo de carros elétricos em circulação e com o avanço das montadoras nacionais”, defende David.
2- Carregadores públicos e semipúblicos
Em muitas localidades no Brasil, o fornecimento de recarga para os automóveis elétricos é tratado como se fosse um souvenir. Na maioria das vezes o serviço é disponibilizado de forma gratuita como parte da experiência em shoppings e estabelecimentos comerciais.
Mas isso gera alguns problemas, como filas e necessidade de agendamento prévio. O executivo aponta que os estabelecimentos que desejem optar por um carregador devam investir na variedade. Paralelamente aos serviços gratuitos, devem disponibilizar o carregamento privado e pago.
3- Mecânica e manutenção
O especialista afirma que a manutenção do caro elétrico é um dos maiores problemas para os usuários. A quantidade de peças é menor do que a dos veículos a combustão, o que representa uma economia de até 70% na manutenção. Porém, o serviço mecânico ainda precisa se especializar no Brasil.
“Este é o momento no qual os profissionais precisam se adaptar à nova realidade, aproveitando o crescimento do mercado e o barateamento dos veículos”, afirma o executivo.
4- Transporte por aplicativos
O fato de a 99 ter investido significativamente no carro elétrico nos últimos anos não é uma fórmula vazia. A transformação da frota de automóveisà combustão em eletrificada tem como objetivo diminuir os custos operacionais das empresas e proporcionar maior lucratividade.
Porém, David aponta que esse movimento deve ser visto como uma oportunidade para os motoristas de aplicativos, incluindo também Uber, Cabify, InDriver, Blablacar.
“Com o carro elétrico, os motoristas autônomos de aplicativo poderão ter uma oportunidade de lucratividade em suas mãos. O gasto em manutenção e de recarga representa uma economia significativa para as pessoas que dependem diariamente de um automóvel em seus trabalhos”, ressalta o executivo.
5- Ônibus e transporte público
Recentemente, ocorreu o lançamento da fábrica da Eletra, empresa que produzirá ônibus 100% nacionais em São Bernardo do Campo, na região do ABC paulista.
Além disso, a própria BYD já apontou que estará investindo no lançamento de veículos voltados para o transporte público no Brasil, inclusive com sua fábrica de ônibus em Campinas, no interior de São Paulo.
Por outro lado, afirma David, as cidades precisam se adaptar, principalmente considerando a necessidade de um diálogo profundo com a sociedade.
“As cidades precisam pensar em debater essa conversão desde já. Seja por meio de conselhos ou pelo poder Legislativo. Nesse aspecto, o planejamento prévio poderá representar uma economia para o poder público”, aponta.
Jornalista com 20 anos de experiência profissional como repórter nas principais redações de jornais do Brasil, como Gazeta Mercantil, Folha SP, Estadão e Jornal do Brasil e em cargos de coordenação, edição e direção. Formado em Jornalismo pela Caśper Líbero.