Por que a produção da BYD no Brasil atrasou tanto? Explicamos todos os detalhes
Por que a produção da BYD no Brasil atrasou tanto? Explicamos todos os detalhes neste post que envolve burocracia, trabalho análogo a escravidão e muita coisa.
A chegada da BYD ao Brasil foi cercada de grande expectativa. A gigante chinesa, líder mundial em veículos elétricos e híbridos plug-in escolheu a antiga fábrica da Ford em Camaçari – BA como seu endereço para a produção local. No entanto, houve atrasos.
Desde o anúncio da compra, em dezembro de 2023, muita coisa aconteceu, gerando atrasos significativos em relação ao cronograma inicial. Mas o que explica essa demora?
Por que o início da produção da BYD no Brasil atrasou?
O ponto central da estratégia da BYD no Brasil e América Latina é a aquisição e reativação do complexo industrial que pertencia à Ford. Com o investimento inicial de R$ 3 bilhões, a planta renderia uma estrutura pronta e uma localização privilegiada para atender o continente.
Contudo, a complexidade da transação e a necessidade de adaptação de uma planta projetada para a produção de veículos a combustão para a manufatura de carros elétricos se mostraram desafios maiores que o previsto.
Burocracia e licenciamento
Um dos entraves iniciais foi a burocracia brasileira. A aquisição de uma planta industrial de grande porte envolve uma série de licenças ambientais, autorizações municipais e federais, entre outros trâmites legais que, no Brasil, são demorados.
A transferência de propriedade, a regularização de todas as pendências da antiga operação e a obtenção de novas licenças para as atividades da BYD exigiram um tempo considerável.
Adaptação da planta
Embora a estrutura física da fábrica de Camaçari estivesse de pé, ela foi projetada para veículos a combustão. A BYD, com foco em elétricos e híbridos, necessita de uma adaptação substitutiva das linhas de produção.
Embora a empresa inicie a operação no sistema SDK, foram necessárias grandes mudanças. Nesse sistema, o carro chega pré–montado e na fábrica são feitos os ajustes finais.
No caso da BYD, toda a produção será nesse sistema, no entanto a marca promete nacionalizar até 70% da produção até 2027, incluindo o processo de pintura e estampagem.
Denúncia de trabalho escravo
Para essas adaptações foram necessárias novas obras. A BYD optou por terceirizar a construção contratando a chinesa JinJiang Construction Brazil e Tonghe Equipamentos Inteligentes do Brasil (atualmente denominada Tecmonta Equipamentos Inteligentes Brasil).
Porém a empresa terceirizada foi denunciada pelo Ministério Público do Trabalho pela suspeita de trabalho escravo de chineses. Segundo o processo, os trabalhadores tiveram o passaporte retido, dormiam em alojamentos lotados precários, com camas sem colchão, jornadas longas, sem descanso semanal e até limitações no uso do banheiro.
Relatos que noticiamos aqui no Garagem360 revelam que havia filas de horas para o uso do banheiro (1 para mais de 30 pessoas).
“Todos os 220 trabalhadores entraram no país [Brasil] de forma irregular, com visto de trabalho para serviços especializados que não correspondiam às atividades efetivamente desenvolvidas na obra”, destacou o MPT.
O Ministério Público do Trabalho busca a condenação da BYD ao pagamento de uma indenização por danos morais e coletivos de R$ 257 milhões e uma indenização individual equivalente a 21 vezes o salário contratual, mais uma quantia por cada dia a que o trabalhador foi submetido a condição análoga à de escravo.
Em contrapartida, a empresa afirmou colaborar com Ministério Público do Trabalho “desde o primeiro momento”, reafirmando seu compromisso com os direitos humanos e trabalhistas. Além disso, informou que vai se defender nos autos, respeitando a legislação brasileira.
Leia também: MPT investiga BYD por trabalho análogo à escravidão
Mais burocracia
Por fim, a BYD solicitou a redução dos impostos. A empresa paga 18% só de taxa de importação. Com a produção nacional, esse percentual diminui para 10%, já que vai utilizar o sistema SDK.
O pedido foi feito em abril, mas ainda passa por análise do órgão responsável.
Quando a BYD começa a produzir seus carros no Brasil?
A produção na fábrica de Camaçari, na Bahia, começa no dia 26 de junho de 2025, às 9h. A informação foi confirmada pelo presidente do Conselho de Administração da BYD Brasil, Alexandre Baldy.
“Quero convidar todos vocês para poderem ver localmente o BYD sendo fabricado aqui no nosso Brasil”, afirmou Baldy.
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Sou Robson Quirino. Formado em Comunicação Social pelo IESB-Brasília, atuo como Redator/ Jornalista desde 2009 e para o segmento automotivo desde 2019. Gosto de saber como os carros funcionam, inclusive a rebimboca da parafuseta.