Montadoras chinesas vão sofrer duro golpe no Brasil
Montadoras chinesas vão sofrer duro golpe no Brasil. Veja o que pode acontecer por pressão das marcas tradicionais no país.
A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) está estudando apresentar ao Ministério do Desenvolvimento um pedido de investigação contra as montadoras chinesas de carros elétricos sobre a prática de dumping.
A notícia agitou o mercado automotivo brasileiro e reacendeu a discussão sobre a competição entre as montadoras tradicionais e as estreantes chinesas.
Montadoras chinesas na mira da Anfavea
A alegação das montadoras tradicionais é que as empresas chinesas estariam vendendo seus veículos no Brasil a preços abaixo do padrão de mercado, configurando concorrência desleal.
A Anfavea, que representa as montadoras tradicionais como Volkswagen, Toyota, Chevrolet, Stellantis (dona da Fiat), etc, defende a “livre concorrência”, mas alega que é preciso “prevenir práticas que prejudiquem o mercado automotivo brasileiro”.
A entidade teme que a prática de dumping possa enfraquecer a indústria nacional, que também está investindo no desenvolvimento de carros elétricos e híbridos.
ABVE – preocupação com o impacto nos veículos eletrificados
A ABVE, Associação Brasileira do Veículo Elétrico manifestou preocupação com a possibilidade de a investigação se voltar contra os veículos elétricos em geral, o que poderia prejudicar o avanço da eletrificação no país.
O presidente da ABVE, Ricardo Bastos, ressalta que é preciso verificar se o pedido estará focado em veículos eletrificados. Se for este o caso, a investigação deve se limitar ao início da produção local das empresas chinesas BYD e GWM.
“De qualquer maneira, e antes de mais nada, este é um debate que precisa ser feito avaliando os ganhos de eficiência e produtividade, em um comparativo de veículos eletrificados e a combustão. Não se pode acusar de dumping sem uma análise mais profunda antes.”
Empresas negam prática
As duas empresas chinesas, alvo das queixas, negaram categoricamente a prática de dumping.
A BYD, que está construindo uma fábrica em Camaçari – BA, afirmou que agora é uma empresa brasileira e que por décadas, o setor foi deixado em segundo plano pelas montadoras tradicionais.
“Estamos comprometidos com o desenvolvimento da indústria automotiva brasileira que, por décadas, foi deixado em segundo plano pelas montadoras tradicionais que tentam […] utilizar artimanhas para esconder a falta de competitividade”, afirmou a BYD em nota enviada à imprensa.
A GWM, que também está instalada no Brasil, afirmou que vê “a ação com tranquilidade, pois segue estritamente as regras internacionais e a legislação brasileira para o comércio exterior”.
histórico de medidas protetivas
Não é de hoje que as montadoras chinesas estão na mira da Anfavea. No fim de junho do ano passado, a associação pediu formalmente ao governo o aumento da alíquota de importação de veículos híbridos e elétricos para 35%.
No fim de 2023, ficou definido um escalonamento desse imposto, começando com 12% nos híbridos e 10% para os elétricos. Seis meses depois, o imposto foi para 20% (elétricos) e 18% para híbridos.
Em 2026, a alíquota deve chegar aos 35%.
Líder em vendas de elétricos
Juntas, as duas montadoras chinesas são as que mais vendem veículos eletrificados no país (100% elétricos e híbridos).
A BYD lidera o segmento com 7 em cada 10 carros 100% elétricos no país. Em 2024, a empresa emplacou mais de 70 mil unidades. O BYD Dolphin Mini, que em 2024 vendeu 21.946 unidades, é o carro elétrico mais vendido do Brasil.
Entre os híbridos, o Song Plus é o mais vendido com 17.908 emplacamentos em 2024. Em segundo o GWM Haval com 17.851 emplacamentos.
Veja os mais vendidos de cada categoria de acordo com dados da ABVE:
100% elétricos
Modelo |
Vendas |
21.968 |
|
2º) BYD Dolphin |
15.212 |
3º) GWM Ora 03 |
6.326 |
4º) BYD Seal |
3.528 |
5º) Volvo EX30 |
2.748 |
6º) BYD Yuan Plus |
1.634 |
7º) BYD Yuan Pro |
1.237 |
8º) JAC E-JS1 |
1.227 |
9º) Renault Kwid E-Tech |
1.051 |
10º) Volvo XC40 |
804 |
Híbridos
Modelo |
Vendas |
1º) BYD Song Plus |
17.908 |
2º) GWM Haval H6 |
17.851 |
3º) Toyota Corolla Cross |
13.459 |
4º) BYD Song Pro |
9.671 |
5º) GWM Haval H6 GT |
4.981 |
6º) BYD King |
4.938 |
7º) Toyota Corolla |
4.389 |
8º) Volvo XC60 |
3.263 |
9º) Toyota RAV4 |
2.458 |
10º) Caoa Chery Tiggo 7 |
2.446 |
Montadoras tradicionais receberam mais de R$ 8 bilhões em incentivos
Conforme apurou “O Fator“, a partir de dados do Portal da Transparência, as montadoras filiadas à Anfavea foram beneficiadas por pelo menos R$ 8,1 bilhões em renúncias fiscais federais em 2024.
Esses números não estão atualizados e podem chegar a cifras maiores, como evidenciado em 2023, quando as renúncias fiscais chegaram a quase R$ 180 bilhões somando as empresas de todo país.
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Sou Robson Quirino. Formado em Comunicação Social pelo IESB-Brasília, atuo como Redator/ Jornalista desde 2009 e para o segmento automotivo desde 2019. Gosto de saber como os carros funcionam, inclusive a rebimboca da parafuseta.