Mobilete 50 anos: do sonho adolescente à mobilidade sustentável

Em meados dos anos 1970, a Caloi lançou a Mobilete, que conquistou adolescentes que sonhavam em pilotar uma “moto” que dispensava CNH.

Em meados dos anos 1970, a Caloi, então a principal e mais admirada fabricante brasileira de bicicletas, lançou no mercado sua Mobilete, um ciclomotor que conquistou toda uma geração de adolescentes, que passaram a sonhar com a possibilidade de pilotar uma “moto” que dispensava licenciamento e CNH.

Prestes a completar 50 anos, o nome Mobilete volta agora ao mercado, na versão bike elétrica, para cumprir a atual exigência mundial por uma mobilidade urbana sustentável. Na terceira semana de abril, a Caloi colocou à venda pela internet o primeiro lote de produção do novo modelo, que se esgotou em apenas 24 horas.  

Acompanhe a seguir a trajetória desse ícone que está sendo retomado meio século depois do início de sua trajetória de sucesso.

 

Mobilete Caloi 50 original (Foto: Divulgação)

Conheça a história da Mobilete

Mobylette era o nome de um ciclomotor desenvolvido e produzido, em meados do século passado na França, pela Motobécane (mais tarde MBK), que licenciou a marca para a brasileira Caloi. Os primeiros modelos fabricados no País, abrasileirados para Mobilete, chegaram ao mercado em 1975.

O sucesso imediato levou concorrentes do mercado nacional, como Garelli, Motiv e Monark, a lançar seus próprios ciclomotores, imitando o modelo da Caloi.

Provavelmente a versão mais cobiçado pelos adolescentes foi a original, batizada de Mobilete Caloi 50, lançada em 1975 – mais tarde, substituída pela AV10, em 1981, e pela XR 50, em 1986. A Monark, principal rival, oferecia a não menos sonhada Monareta MSL 50, lançada logo em seguida ao lançamento da Caloi – e substituída pela AV-X, no começo dos anos 80, e a S50, em 1986.

Monark Monareta S50 (Foto: Divulgação)

Um dos segredos para o sucesso de todas essas mobiletes era a escolha mecânica. A partir de 50 cilindradas, a legislação brasileira considerava o veículo de duas rodas uma motocicleta. Por isso, as mobiletes ofereciam precisamente o necessário para não enquadrar-se na categoria – o motor tinha exatas 49,9 cc.

O propulsor de dois tempos entregava modestos 3 cv de potência e era movido a gasolina, que ficava acondicionada num tanque de três litros, acoplado a um sistema centrífugo automático de embreagem, com partida no pedal. Quando desligada com ou em casos de pane-seca, a Mobiliete podia ser movimentada como uma bicicleta, bastando destravar a polia.

Com essas características, não era necessário sequer emplacar o veículo. Em termos de consumo de combustível, era extremamente econômica. Isso permitia que as mobiletes fossem razoavelmente acessíveis. Desta forma, tornava-se ideal para os jovens que queriam andar sobre duas rodas e que ainda não tinham idade suficiente para pilotar uma motocicleta.

Febre da customização

Em comparação aos ciclomotores atuais, as mobiletes estavam muitos mais próximas de uma bicicleta do que dos modelos de hoje. Na prática, pareciam-se bicicletas motorizadas, que ficaram conhecidas pelo alto nível de modificação por parte de seus donos.

Jovens com pouca (ou nenhuma) experiência, bucavam customizar suas mobiletes sem que soubessem, precisamente, a modificação que estavam fazendo. Para muitos, o objetivo era simplesmente ultrapassar a barreira dos 60 km/h de velocidade máxima. Na tentativa, valia qualquer coisa – mesmo que na prática a modificação não ajudasse muito no desempenho.

No geral, os veículos customizados eram uma mobilete extremamente barulhenta e que não costumava andar mais rápido do que a versão original. O barulho, no entanto, fazia sucesso entre os entusiastas, e é uma das características mais lembradas pelos proprietários – e saudosistas – da época.

Declínio e fim de uma era

A Caloi produziu sua Mobilete até 1999, ano em que a empresa foi vendida para a a canadense Dorel Industries, por conta da crise financeira pela qual passava.

As vendas do veículo haviam entrado em queda vertiginosa depois que a legislação passou a exigir habilitação para conduzir ciclomotor – desde 1985 é necessária a Autorização para Conduzir Ciclomotor (ACC) ou a CNH na categoria A.

Derrubado o sonho adolescente, o papel da Mobilete tornou-se desnecessário.

A Mobilete elétrica

Nova Caloi Mobilete elétrica (Foto: Divulgação/Caloi)

Aproveitando o passado de grande sucesso, a Caloi resgatou o nome Mobilete para lançar, em março último, uma nova versão pelo preço de R$ 9.199. O ciclomotor foi totalmente repaginado e tornou-se agora uma bicicleta elétrica, com visual moderno e autonomia de até 30 km.

A bike vem com um motor de cubo de 350W de potência (o equivalente a 0,5 cv), que pode ser ativado do modo tradicional – ou seja, pedalando – ou utilizando o acelerador integrado a seu display.

O propulsor é alimentado por uma bateria de íon-lítio de 36 V e 10.4 Ah removível. O conjunto permite ao ciclomotor atingir a velocidade máxima de 25 km/h, conforme informações da empresa.

Feito de alumínio e aço, com um design pensado na facilidade de pilotagem, o modelo pesa apenas 29,7 kg e é levemente rebaixado para facilitar subidas e decidas. Há três seleções de modo de condução pelo pedal: Eco, Mid e High. A nova Mobilete inclui itens como buzina, farol dianteiro e lanterna traseira.

Nova Caloi Mobilete elétrica (Foto: Divulgação/Caloi)

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Paulo Silveira Lima
Escrito por

Paulo Silveira Lima

Jornalista com 20 anos de experiência profissional como repórter nas principais redações de jornais do Brasil, como Gazeta Mercantil, Folha SP, Estadão e Jornal do Brasil e em cargos de coordenação, edição e direção. Formado em Jornalismo pela Caśper Líbero.

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