De Kia Rio a Lotus brasileiro: as maiores mentiras do mundo automotivo
Algumas histórias do mundo automotivo foram praticamente feitas para 1º de abril. As fake news variam desde modelos que foram prometidos, mas nunca chegaram ao Brasil, até fraudes, omissões graves e projetos nacionais que prometiam muito e entregavam pouco. O Garagem 360 separou uma lista com os melhores casos.
LEIA MAIS: VW Golf TSI sai de linha no Brasil; versão GTI é a única que segue viva
VW T-Cross consegue nota máxima no Latin NCAP; Toyota Yaris alcança quatro estrelas
Mentiras do mundo automotivo
1. Kia Rio no Brasil
Adiada diversas vezes, a chegada do Kia Rio ao Brasil já é tratada como lenda por muitos fãs do mundo automotivo. A novela começou em 2016, quando a Kia lançou uma nova geração do modelo e afirmou que ele chegaria às concessionárias nacionais até o final do ano. Depois, a montadora alegou um atraso na fábrica do México e confirmou o carro para 2017, mas ele nunca deu as caras.
Em 2018, a Kia levou o Rio ao Salão do Automóvel de São Paulo e confirmou a chegada do modelo em 2019. Entretanto, ela destacou que valorização do dólar em relação ao real poderia continuar atrapalhando os planos de importação de veículos. Com a moeda norte-americana avaliada em aproximadamente R$ 3,80, resta esperar para ver se o compacto chega ou não ao Brasil até o final do ano.
2. Emme 422T
A complexa história do Emme 422T começou em 1996, quando o modelo foi parar nas páginas da Revista Auto Esporte, que o definiu como “o novo sedã brasileiro de luxo, com motor Lotus”. Lançado oficialmente em 1997, no Brasil Motor Show, o modelo seria fabricado pela Megastar Veículos. A empresa tinha se instalado em Pindamonhangaba, em São Paulo, em um terreno cedido pela prefeitura, que aprovou uma série de benefícios para que a montadora inaugurasse sua linha de produção na cidade.
O veículo seria vendido em três versões: duas com motores 2.0 desenvolvidos pela Megastar e uma com um propulsor Lotus 910 turbo de 264 cavalos – o mesmo usado no esportivo Espirit. Vale destacar que a versão mais apimentada tinha até o logotipo da montadora inglesa.
Em 1998, a empresa começou a vender o modelo e até abriu um escritório em São Paulo (SP). O problema é que, no ano seguinte, após entregar pouco mais de dez veículos aos compradores, a Megastar Veículos fechou e desapareceu do mapa sem dar qualquer tipo de satisfação.
Na época, algumas pessoas até tentaram procurar os responsáveis, mas eles nunca foram encontrados. Nem a prefeitura de Pindamonhangaba sabia informar o que tinha acontecido com Megastar Veículos, que deixou sua fábrica completamente abandonada. Além disso, foi descoberto que a empresa brasileira não tinha um vínculo oficial com a Lotus, que nunca se pronunciou sobre o caso. A suspeita é de que ela comprava os motores descartados pela montadora (como os que tinham defeitos de fabricação) e usava as unidades aproveitáveis para produzir o Emme 422T.
3. Ford Pinto
O Ford Pinto, que foi barrado no Brasil por conta do nome sugestivo, protagonizou uma das mentiras mais absurdas (e perigosas) do mundo automotivo. O carro tinha um grave problema: caso sofresse uma colisão traseira, o tanque de gasolina podia quebrar e causar uma explosão.
Antes de colocar o modelo no mercado, a Ford já sabia da falha, mas fez as contas e percebeu que indenizar possíveis mortes e casos de queimaduras sairia bem mais barato do que regularizar a linha de produção. No final, depois de mortes e ferimentos graves, a montadora convocou as unidades para recall e teve que pagar milhões em indenizações.
4. IBAP Democrata
Nos anos 1960, o empresário Nélson Fernandes teve a visionária ideia de desenvolver carros modernos, para a época, genuinamente brasileiros. Para realizar seu projeto, ele fundou em 1963 a Indústria Brasileira de Automóveis Presidente (IBAP), cuja fábrica ficaria em São Bernardo do Campo (SP).
O plano inicial era criar três modelos inéditos: um popular, um utilitário e um de luxo, o Presidente Democrata. Este, foi o que ficou eternizado na história da indústria brasileira. O projeto buscava desenvolver duas carrocerias, sedã de quatro portas e cupê de duas portas. Em ambas, o motor seria traseiro de 2,5 litros e seis cilindros.
Para viabilizar o negócio, Fernandes pensou em um modelo de negócio baseado em ações. Os acionistas teriam participação nos lucros da empresa, além de descontos na hora de comprar um carro. Com os investimentos, a IBAP conseguiu produzir cinco veículos, que foram utilizados para tentar atrair novos sócios.
Porém, esses foram os únicos modelos fabricados, todos como protótipos. Poucas pessoas acreditaram no sonho de Fernandes, que também passou a ser investigado pela Polícia Federal e pelo Banco Central. Até mesmo uma CPI foi feita para que o empresário provasse que sua empresa era legítima.
Essas desconfianças fizeram com que a maioria dos acionistas desistissem do projeto. Sem o investimento, a fábrica não conseguiu produzir outros veículos, encerrando suas atividades em 1968. Após 22 anos do encerramento, Fernandes foi inocentado pela justiça.
5. Moto movida a água
Em 2015, o portal UOL divulgou uma reportagem com o título “Moto que anda até com água do Tietê faz 500 km por litro“. O artigo contava a história de um funcionário público de Itu, no interior de São Paulo, que decidiu adaptar uma moto e conseguiu fazer com que o veículo funcionasse com água, em vez de gasolina ou etanol.
A ideia revolucionária, que teria potencial para transformar completamente o mercado automotivo que conhecemos hoje, começou a ser contestada por leitores e especialistas, que duvidavam do projeto. Para piorar a situação, o criador da geringonça se negava a explicar como algumas partes do sistema funcionavam, alegando que ainda não tinha patenteado a tecnologia.
No mesmo dia, o portal de notícias entrevistou especialistas para tentar descobrir se o sistema era cientificamente possível. Para resumir, os cientistas concluíram que algumas partes do sistema eram viáveis, mas que, por usar uma bateria, a moto era elétrica, e não movida a água.
6. Diesel limpo da Volkswagen
Em 2009, a Volkswagen decidiu que iria produzir carros mais “ecológicos”. Com isso, a empresa atraiu diversos motoristas preocupados com o meio ambiente. Ao longo dos anos, as vendas voltaram a crescer, e a pegada ecológica começou a chamar a atenção de especialistas, que queriam entender como a montadora conseguia alcançar emissões tão baixas. A resposta foi chocante: ela não conseguia.
Os profissionais descobriram que o software usado pela Volkswagen para medir a poluição gerada pelos carros foi fraudado, entregando dados falsos. Quando a bomba estourou, em meados de 2015, a montadora já tinha vendido milhares de carros com a tal tecnologia ecológica.
No fim das contas, além de assumir a mutreta e enfrentar um dos maiores papelões da história automotiva, a Volkswagen teve que desembolsar bilhões de euros para pagar multas e ressarcir os clientes afetados.
7. Pegadinhas automotivas
Antigamente, algumas companhias automotivas aproveitavam as brincadeiras de 1º de abril para divulgar lançamentos fictícios. O problema é que alguns jornalistas não percebiam que as notícias eram falsas e acabavam publicando tudo como se fosse verdade.
A BMW, por exemplo, chegou a fabricar um protótipo real de uma picape. O modelo, que tinha frente de M3 e motor V8, poderia entrar facilmente para a lista de carros mais feios do mundo. Já a Nissan resolveu apostar em algo mais maluco: um “botão academia” que desativa vários sistemas do carro (como a direção hidráulica) para que o motorista faça exercício dirigindo.
Recalls bizarros
Na galeria, confira alguns carros que, assim como o Ford Pinto, passaram por recalls bizarros:
- Fiat Tipo: depois que algumas unidades pegaram fogo sozinhas, a Fiat convocou um recall para substituir o tubo convergedor de ar quente do motor. Mesmo com a manutenção, alguns veículos continuaram pegando fogo, e foi preciso fazer um segundo chamado para consertar vazamentos de fluido da direção hidráulica, já que o líquido vazava pelo escapamento e provocava os incêndios
- Fiat Tipo | Foto: Divulgação
- Ford Pinto: o veículo, que foi barrado no Brasil por conta do nome sugestivo, protagonizou um recall polêmico nos Estados Unidos. Se o carro sofresse uma colisão traseira, o tanque de gasolina podia quebrar e causar uma explosão. Antes de colocar o modelo no mercado, a Ford já sabia do problema, mas fez as contas e percebeu que indenizar possíveis mortes e casos de queimaduras sairia bem mais barato do que regularizar a linha de produção. No final, depois de mortes e ferimentos graves, a montadora convocou as unidades para recall e teve que pagar milhões em indenizações | Foto: 2000Scooby via VisualHunt.com / CC BY-NC-ND
- Ford Pinto | Foto: France1978 via Visualhunt.com / CC BY-SA
- Citroën C3 Picasso: em 2011, 22 unidades da Inglaterra foram chamadas para recall por conta de um motivo um tanto o quanto exótico: quando o passageiro da frente pisava com força no assoalho do carro, era possível acionar o sistema de frenagem sem querer. Isso acontecia porque as versões inglesas tinham os volantes e pedais migrados para o lado direito da cabine, mas o mecanismo continuava passando por baixo do forro do assoalho da parte esquerda (do passageiro). A solução foi reforçar o isolamento dos fios | Foto: RL GNZLZ via VisualHunt / CC BY-SA
- Citroën C3 Picasso | Foto: RL GNZLZ via VisualHunt.com / CC BY-SA
- Mercedes-Benz Classe A: durante seu lançamento mundial em 1997, o modelo capotou quando participava do “teste do desvio do alce”. Para evitar que a situação se repetisse, a montadora implantou um sistema eletrônico de estabilidade e fez mudanças na suspensão sem alterar o valor final do carro | Foto: Carlos Octavio Uranga via Visualhunt.com / CC BY-NC-ND
- Mercedes-Benz Classe A | Foto: Carlos Octavio Uranga via Visual hunt / CC BY-NC-ND
- Airbags mortais: Ao menos 16 pessoas morreram por conta das bolsas infláveis defeituosas da empresa japonesa Takata. Os itens projetaram fragmentos contra os ocupantes. O escândalo foi revelado em 2014 e já atingiu grandes montadoras, como Honda, Toyota, BMW e General Motors, que precisaram realizar convocações para recall de seus carros | Foto: Divulgação
- Honda foi uma das atingidas pelos Itens defeituosos da Takata | Foto: Divulgação
- Toyota Corolla: a má fixação do tapete do carro fazia o item deslizar e travar o pedal de aceleração do veículo. Algumas unidades aceleraram sozinhas e causaram acidentes graves. A Toyota convocou mais de 100 mil unidades brasileiras para fazer manutenções no sistema de fixação dos tapetes e explicar a forma ideal de posicioná-los | Foto: Divulgação
- Toyota Corolla | Foto: Divulgação
- Ford F-150 (Foto: Divulgação)
- Ford F-150 | Foto: Divulgação
- Chevrolet Sonic: logo após o lançamento do modelo nos Estados Unidos, a GM percebeu que mais de quatro mil unidades saíram de fábrica sem as pastilhas de freio. A falha afetava o desempenho do carro e virou motivo de recall | Foto: Divulgação
- Chevrolet Sonic | Foto: Divulgação
- Volkswagen Fox: mais de 500 mil unidades vendidas no Brasil contavam com um defeito que decepava a ponta dos dedos das pessoas que tentavam rebater os bancos do carro. Isso porque o sistema era um pouco “arisco” e funcionava como uma guilhotina. A montadora convocou o recall, modificou o sistema e incluiu avisos indicando a maneira correta de posicionar as mãos e os dedos durante a ação | Foto: Divulgação
- Volkswagen Fox | Foto: Divulgação
- Chevrolet Saturn Ion, Pontiac Pursuit, Pontiac G5, Cobalt, Saturn Ion, HHRs, Pontiac Solstice e Saturn Sky: outro caso polêmic é o recall de mais de um milhão de unidades da GM nos Estados Unidos. A montadora demorou mais de 10 anos para divulgar que os veículos tinham um defeito na ignição. A falha está relacionada a cerca de 13 mortes acidentais e rendeu uma multa de US$ 35 milhões à empresa norte-americana | Foto: Divulgação
- Chevrolet Cobalt | Foto: Divulgação
- Fiat Stilo: algumas unidades fabricadas entre 2004 e 2010 tinham um defeito que podia causar a soltura das rodas traseiras durante a condução. Depois do registro de acidentes, a Fiat convocou um recall imediato para substituir o conjunto do cubo da roda. A montadora ainda teve que pagar uma multa de R$ 3 milhões por colocar um produto com defeito de fabricação no mercado | Foto: Divulgação
- Fiat Stilo | Foto: Divulgação