Onde as montadoras tradicionais erraram e como podem reagir ao avanço chinês no Brasil?
Descubra como as montadoras tradicionais no Brasil podem combater o avanço chinês. Saiba por que a estratégia protecionista da Anfavea falhou e quais ações criativas podem virar o jogo.
O cenário automotivo brasileiro está sendo rapidamente reconfigurado. O avanço das montadoras chinesas, impulsionado por veículos elétricos e híbridos com tecnologia de ponta e preços competitivos, tem colocado as fabricantes tradicionais em uma posição defensiva.
Onde as montadoras tradicionais erraram?
A reação inicial da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), focada em medidas protecionistas, se mostrou insuficiente e gerou críticas.
Em vez de focar na inovação, a estratégia da Anfavea se concentrou em apelos ao governo por aumento imediato de tarifas de importação e até mesmo a abertura de uma investigação por dumping (venda de produtos abaixo do preço de custo). Essas ações, vistas por muitos como uma tentativa de barrar a concorrência em vez de enfrentá-la de frente, não detiveram o fluxo de veículos chineses e apenas destacaram a falta de competitividade das montadoras já estabelecidas no país.
O avanço chinês não é uma “invasão” a ser contida, mas uma mudança de mercado que exige uma resposta criativa e inteligente. Para conter esse avanço , as montadoras tradicionais precisam repensar completamente sua estratégia, saindo da defensiva e partindo para o ataque.
Onde as montadoras tradicionais erraram e como podem reagir ao avanço chinês no Brasil? Foto: Divulgação
Ações Criativas: Indo Além das Tarifas
A verdadeira resposta não virá do protecionismo, mas de um choque de realidade na forma de produtos e serviços. Aqui estão algumas abordagens que as montadoras tradicionais podem adotar:
1. Foco em Produtos Acessíveis e Confiáveis
As montadoras tradicionais precisam recuperar o terreno perdido no segmento de entrada. A chave é lançar veículos confiáveis, acessíveis e com baixos custos de manutenção. A ascensão de modelos chineses se deve em grande parte à combinação de tecnologia e preço competitivo.
As marcas “veteranas” devem criar uma nova geração de compactos, SUVs e picapes que sejam tão eficientes e tecnológicos quanto os concorrentes chineses, mas com a garantia de uma rede de assistência técnica consolidada e peças de reposição abundantes.
2. Reafirmar a Confiança com Produtos Locais
A confiança é um dos maiores trunfos das montadoras tradicionais. Elas podem capitalizar nisso ao destacar a produção local e a robustez de seus veículos, projetados especificamente para as condições brasileiras.
A narrativa deve ser menos sobre “carros elétricos revolucionários” e mais sobre “a nova geração de carros brasileiros”, com motorização híbrida flex, que é a preferência do consumidor local. Essa estratégia não apenas atenderia às necessidades do mercado, mas também fortaleceria o elo com o consumidor que valoriza a produção nacional.
BYD domina venda de carros elétricos no Brasil – Foto: Nicole Santana/ Garagem360
3. Ofensiva Tecnológica e de Serviços
A batalha não se dará apenas nas concessionárias, mas na tecnologia e nos serviços. As montadoras tradicionais devem investir pesadamente em software, conectividade e em uma experiência digital superior. Além de um produto de qualidade, a excelência no pós-venda e um sistema de carregamento eficiente são diferenciais cruciais. A criação de aplicativos intuitivos, sistemas de carregamento público e pacotes de serviços inclusivos são essenciais para competir de igual para igual.
4. Estratégias de Parceria e de Mercado
A colaboração pode ser uma forma de combater a concorrência. Montadoras tradicionais podem formar parcerias estratégicas para dividir custos de desenvolvimento e produção de novas tecnologias, acelerando a transição para a eletrificação.
Por outro lado, a aposta em mercados secundários, como frotas de empresas e veículos de serviço, onde a confiabilidade e o custo-benefício são essenciais, pode ser uma forma de garantir volume de vendas enquanto se reconquistam os consumidores no varejo.
Sou Robson Quirino. Formado em Comunicação Social pelo IESB-Brasília, atuo como Redator/ Jornalista desde 2009 e para o segmento automotivo desde 2019. Gosto de saber como os carros funcionam, inclusive a rebimboca da parafuseta.