Nova onda de ações por escravidão na Fazenda Volkswagen: ex-trabalhadores exigem R$ 2 milhões em indenizações
Quatro ex-trabalhadores da Fazenda Volkswagen (Pará) movem novas ações individuais pedindo R$ 2 milhões cada por trabalho análogo à escravidão nas décadas de 70/80. Relembre o caso e a condenação anterior da montadora.
A Volkswagen do Brasil volta a enfrentar o Judiciário por alegações de trabalho análogo à escravidão ocorridas em sua antiga propriedade rural na Amazônia. Quatro ex-trabalhadores da Fazenda Vale do Rio Cristalino, conhecida como “Fazenda Volkswagen”, no sul do Pará, entraram com ações individuais pedindo indenizações milionárias por danos morais e existenciais.
Nova onda de ações por escravidão na Fazenda Volkswagen
Cada trabalhador reivindica R$ 2 milhões da montadora alemã, além do reconhecimento da imprescritibilidade do crime de trabalho análogo à escravidão no caso. As ações tramitam na Vara do Trabalho de Redenção (PA), com prioridade reconhecida pela Justiça devido à idade avançada das vítimas e à gravidade das violações relatadas.
Os autores das ações relatam um cenário de horror nas décadas de 1970 e 1980:
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Aliciamento: Foram recrutados por intermediários com falsas promessas.
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Endividamento Forçado: Ficaram presos à propriedade devido a débitos artificialmente criados, o chamado “cativeiro por dívida”.
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Vigilância: Eram submetidos a vigilância armada, impedidos de deixar a propriedade antes de quitar as dívidas.

Este novo movimento judicial intensifica a pressão sobre a Volkswagen, meses após a empresa ter sido condenada, em agosto de 2025, a pagar R$ 165 milhões por dano moral coletivo — condenação essa que a montadora ainda tenta reverter via recurso.
Relembre o Caso: A Fazenda Oculta na Amazônia
O caso das violações trabalhistas na Fazenda Vale do Rio Cristalino (que chegou a ter uma área maior que o município do Rio de Janeiro, com mais de 139 mil hectares) permaneceu oculto por décadas, apesar de ter sido administrada por uma subsidiária majoritariamente controlada pela Volkswagen do Brasil.
A verdade veio à tona graças à persistência do padre e pesquisador de direitos humanos Ricardo Rezende Figueira. Em 2019, chocado ao perceber que a montadora se “redimia” por sua colaboração com a Ditadura Militar sem mencionar os abusos na fazenda, Rezende procurou o Ministério Público do Trabalho (MPT).
Leia aqui: O segredo sombrio da Volkswagen na Amazônia: Washington Post revela trabalho forçado

Ele entregou um dossiê com mais de mil páginas de evidências detalhadas, compiladas entre 1977 e 1987. O acervo, considerado riquíssimo pelo procurador Rafael Garcia, incluía depoimentos de dezenas de trabalhadores, relatórios policiais e judiciais que narravam a cruel realidade na Fazenda Vale do Rio Cristalino.
Os documentos revelaram que a liderança da subsidiária, que incluía o então presidente da Volkswagen do Brasil, Wolfgang Sauer, e o diretor de recursos humanos, Admon Ganem, atraiu centenas de trabalhadores sazonais e informais. Uma vez na remota propriedade em Santana do Araguaia (PA), os trabalhadores ficavam geograficamente isolados, enredados em dívidas, adoecidos pela malária e forçados a desmatar a floresta sob ameaça de violência. O objetivo era abrir espaço para a criação de gado.
A nova série de ações individuais busca não apenas a reparação financeira para os idosos sobreviventes, mas também uma responsabilização definitiva da montadora por um dos mais graves casos de violação de direitos humanos empresariais da história recente do Brasil.
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Sou Robson Quirino. Formado em Comunicação Social pelo IESB-Brasília, atuo como Redator/ Jornalista desde 2009 e para o segmento automotivo desde 2019. Gosto de saber como os carros funcionam, inclusive a rebimboca da parafuseta.