Conheça o novo combustível que pode mudar o futuro dos carros no Brasil
Nada de gasolina ou carros eletrificados. O futuro dos automóveis do País pode estar atrelado ao novo combustível.
O futuro é constantemente debatido. Seja por representantes do governo, ou entidades privadas. Porém, uma coisa é certa: a sustentabilidade é um dos pilares mais consistentes que se deve ser no amanhã. Por isso, muito se fala em carro elétrico e novas formas de reduzir o uso de produtos poluentes. Porém, um novo combustível tem sido tema de reuniões políticas, e claro, entre montadoras também.
Hidrogênio verde: como este novo combustível pode mudar o futuro dos carros no Brasil
Nada de gasolina ou outros derivados de combustíveis fósseis. Porém, o futuro também não será feito exclusivamente de carros elétricos, uma vez que modelos desta categoria ainda enfrentam diversas dificuldades, como o preço elevado, por exemplo.
Desta forma, muito tem se falado em um novo produto, um novo combustível que pode mudar o cenário no País, o hidrogênio verde.
Em razão de sua dimensão continental e particularidades regionais, o Brasil apresenta um enorme potencial para a produção de hidrogênio verde, gerado a partir de fontes renováveis e com o aproveitamento de biomassa e a instalação de parques de energia eólica e solar, entre outras.
A avaliação é dos especialistas que participaram da audiência pública na Comissão Especial para Debate de Políticas Públicas sobre Hidrogênio Verde, presidida pelo senador Cid Gomes (PDT-CE), que aconteceu no último dia 17.
Instalada em abril, a comissão foi criada para debater, no prazo de dois anos, políticas públicas sobre hidrogênio verde, de modo a fomentar o ganho em escala dessa tecnologia de geração de energia limpa e avaliar políticas públicas que fomentem a tecnologia do combustível, gerado por energia renovável ou por energia de baixo carbono.
Mercado interno
Ao longo do debate, Cid Gomes apontou a importância estratégica no desenvolvimento do hidrogênio verde e defendeu o aprimoramento de pesquisas no setor.
“A gente tem que pensar objetivamente no mercado interno. O mercado externo será garantidor dos investimentos iniciais. Em sete anos, a União Europeia terá 55% da matriz energética local de origem renovável e, em 2050, terá 100%. Para atingir essas metas, irão importar hidrogênio verde.” Afirmou.
Ele também ressaltou que “O Brasil tem um mercado potencial, e o desenvolvimento das tecnologias vai contribuir muito mais rápido do que a gente imagina. O hidrogênio, ao longo desses próximos anos, evoluirá. O hidrogênio é componente da água, é o gás que mais facilmente se une a outro. O que tem que fazer para torná-lo puro envolve diversos processos.”
O senador Fernando Dueire (MDB-PE), por sua vez, defendeu o fortalecimento de bases tecnológicas como forma de favorecer a eficiência com diminuição de custos, além da formação de capital humano especializado, planejamento energético e cooperação internacional em favor do hidrogênio verde.
Capacidade de produção
Chefe geral da Embrapa Agroenergia, o professor Alexandre Alonso Alves destacou que várias iniciativas têm surgido na Região Nordeste para a produção de hidrogênio verde. Ele destacou ainda que todas as regiões brasileiras possuem capacidade instalada de produção de biogás, cujos resíduos podem ser usados como um vetor para a geração do “combustível do futuro” e ainda para a produção de fertilizantes.
“Ou seja, produção de fertilizantes a partir do biogás, a partir do resíduo do próprio setor agrícola. O Brasil importa mais de 85% de fertilizante para a produção agrícola. O Brasil tem quantidade fabulosa de biomassa de origem florestal que, eventualmente, pode ser utilizada para produção de combustíveis sintéticos e hidrogênio verde”, afirmou.
Etanol não deve ser esquecido
Professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Thiago Lopes ressaltou que o Brasil tem potencial para produzir ampla gama de hidrogênios, mas, particularmente, contribuir com alguns tipos de combustíveis que são especiais, sobretudo em termos de valor. Ele também defendeu a retenção de cérebros no Brasil e a formação de capital humano especializado para o desenvolvimento do hidrogênio verde.
“Temos também a peculiaridade de poder contribuir com emissões negativas de carbono a partir do etanol. O etanol tem condições de descarbonizar, reduzir as emissões na ponta, aliado a emissões negativas na produção. O Brasil tem potencial para desempenhar um papel geopolítico mundial significativo, pagando uma dívida histórica que temos, com as emissões de gás de efeito estufa.”
O professor Paulo Emílio de Miranda, do Programa de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da Coppe/UFRJ, destacou que existe compatibilidade total entre o veículo a hidrogênio e a motorização elétrica, o que reforça a importância futura do combustível.
“O hidrogênio já é produzido, armazenado, transportado e utilizado em larga escala. São mais de 100 milhões de toneladas por ano, e o Brasil contribui com cerca de 1% disso atualmente. Esse hidrogênio produzido hoje é utilizado majoritariamente no mesmo local.”
No entanto, ele explica que em 2050, o mundo deverá produzir cerca de 540 milhões de toneladas de hidrogênio, e 75% desse volume será mercantil, produzido num lugar e consumido em outra localidade.
Dessa forma, hidrogênio vai permitir o acoplamento de setores energéticos que hoje são estanques; tanto vai poder ser utilizado onde hoje são utilizados combustíveis convencionais como no setor que hoje usa eletricidade. Então haverá interconexão entre setores que vai incentivar o desenvolvimento da cadeia de valor do hidrogênio no Brasil e no mundo.
Combustíveis sintéticos
Coordenador-geral de Tecnologias Setoriais da Secretaria de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (Setec) e representante do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o engenheiro agrônomo Rafael Silva destacou o lançamento pelo governo, em 2007, do plano de ação em favor do hidrogênio verde, assim como de chamadas públicas mais recentes para o desenvolvimento desse combustível e de combustíveis sintéticos.
Já pró-reitor da Universidade Federal do Ceará, engenheiro civil Augusto Teixeira de Albuquerque, detalhou projeto desenvolvido no Porto de Pecém, que abriga um parque tecnológico destinado à produção de hidrogênio verde:
“O tema do hidrogênio verde por vezes é tratado por certo ceticismo, pois tudo que envolve risco tecnológico envolve pioneirismo. Hoje os Estados Unidos e a China dominam quase todo o segmento. Ficou muito claro que a contribuição do hidrogênio verde na transição energética é muito promissora, mas, para ser efetivada essa tecnologia, ainda é necessário [esforço], e a comunidade brasileira está preparada para esse desafio.”
Novo combustível também deve beneficiar outros setores da economia
O diretor técnico da Braspell Bioenergia, Afonso Bertucci, defendeu investimentos para a produção de hidrogênio verde.
“Temos que aumentar o plantio florestal de forma que leve renda ao campo para garantir suprimento de energia. Temos que fazer agora a parceria com produtores rurais para produção de hidrogênio, o plantio integrado com atividade agrícola e pecuária. Temos que achar solução economicamente viável para o produtor ganhar dinheiro. [O hidrogênio verde] favorece a mineração, a siderúrgica,” afirmou.
Representante da Petrobras, Alex Sandro Gasparetto afirmou que as iniciativas desenvolvidas no centro de pesquisa da empresa buscam a produção de hidrogênio sustentável.
A Petrobras, segundo ele, é hoje a maior produtora e consumidora de hidrogênio classificado como cinza (produzido a partir de gás natural). Os segmentos priorizados no plano de negócios para o período 2023-2027 incluem energia eólica offshore, hidrogênio, captura de carbono e biorefino.
Com informações: Agência Senado
Jornalista e especialista em comunicação empresarial, com bagagem de mais de três anos atuando ativamente no setor automotivo e premiada em 2016 por melhor reportagem jornalística através do concurso da Auto Informe. Atualmente dedica-se à redação do portal Garagem 360, produzindo notícias, testes e conteúdo multimídia sobre o universo automobilístico.