Como os carros turbo conquistaram o público; conheça essa história
Conheça a história de como os carros turbo conquistaram o público. Quem nos conta é ninguém menos do que o jornalista Luiz Carlos Secco.
Quase metade dos carros, atualmente, vendidos no Brasil e no mundo é turbo. No entanto, esse sucesso dos carros turbo demorou a ser conquistado. Conheça essa história!
Valente Corcel, vencendo boato e conquistado o consumidor
De acordo com Luiz Carlos Secco*, jornalista e especialista no setor automotivo, mesmo que cerca de 50% dos carros vendidos, hoje, em todo mundo sejam do tipo turbo, eles demoraram muito para conquistar o público.
Assim, precisaram vencer diversos obstáculos (e estigmas) criados muito mais pelo desconhecimento e pelo famoso negativo “boca-a-boca”. Além disso, superar o que, muitas vezes, se baseou em boatos ou fatos isolados – o que pode arranhar e até acabar com a boa imagem de um produto.
Secco conta que há 20 ou 30 anos, o turbo, pelo melhor desempenho, era muito usado em carros tunados ou mexidos. Assim, acabou por ganhar a equivocada imagem de baixa confiabilidade e durabilidade.
Por exemplo, o jornalista fala que parte dos consumidores achava que o motor turbo era coisa de “carro de boy”. Dessa forma, literalmente “torciam o nariz”, porém, sem realmente conhecer seus benefícios. Além disso, porque poucas fabricantes adotaram o turbo como componente de série de seus veículos.
Veja pode se interessar também por: podcast relembra a história do carro elétrico brasileiro
“Nos primeiros anos da indústria, eram comuns ações que criavam boatos no mercado brasileiro. Lembro que, logo após o lançamento do Ford Corcel, precisamos lutar para neutralizar os boatos provocados por empresas concorrentes que queriam desmotivar os consumidores a comprarem o Corcel”, relata Secco.
Conforme o especialista, na época, os comentários no mercado sugeriam que havia contrato da Ford com a Renault. Neste caso, que limitava a produção do carro em tempo e em volume. “Naturalmente, os boatos contribuíram para intimidar uma parcela de consumidores e comprometer o nível de confiança do mercado”, pontua Secco.
“Corcel, o carro do profeta”
O especialista também conta que, como responsável pela área de comunicação da Ford, teve a ideia de produzir editoriais com a tônica de que o Corcel era absolutamente confiável. Além disso, que o modelo representava o principal produto da Ford para o mercado brasileiro e para o futuro da empresa no País.
“Contei com a ajuda de amigos e, pelo correto teor jornalístico, com a produção de artigos publicados em jornais de várias capitais. Por exemplo, Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro; Correio do Povo, na época o principal do Rio Grande do Sul, assim como em jornais de Brasília, São Paulo, Salvador, Fortaleza, Recife e em outras capitais do país”, relembra Secco.
Assim, o especialista conta que foi a primeira vez que um serviço desse nível foi realizado por uma empresa automotiva. Aliás, um desses artigos, publicado no caderno de automóveis da Gazeta Esportiva, transformou-se em peça promocional exposta pela Ford na rede de concessionários.
Com o título “Corcel, o carro do profeta”, mostrava que as previsões catastróficas sobre o fim do automóvel não se concretizavam, e informava que, ao final, o próprio profeta decidiu comprar um Corcel!
Além disso, Secco relembra de outros boatos, Por exemplo, de que o Corcel, por ter tração dianteira não conseguia subir uma ladeira. “Para isso, os ‘gênios’ bolaram utilizar um Corcel em dias de chuva em ruas de paralelepípedos em aclive, com grande movimentação de pessoas”, conta o jornalista.
“O motorista acelerava forte e, com o piso molhado, as rodas dianteiras de tração patinavam e o carro não conseguia subir a ladeira. Coisa de filme!”, diz Secco.
Boatos sobre o Corcel não paravam!
E as histórias mirabolantes não pararam por aí…
Mais uma delas, de acordo com o especialista, era a exposição de automóveis Corcel parados com o capuz do motor aberto nas áreas de estacionamento existentes na serra da Via Anchieta, na subida em direção a São Paulo – a fim de simular um problema de superaquecimento. E, com isso, provocar a falsa impressão de que o carro superaquecia facilmente.
No entanto, o Corcel foi o primeiro modelo com tração dianteira, sistema de arrefecimento com circuito selado (que elimina a inspeção periódica do nível de água no radiador). Além de outras inovações que preocuparam as empresas concorrentes.
“As ações continuaram criadas pela incomodada concorrência. Mas, por suas modernas características para a época, o Corcel tornou-se uma família de veículos com vários modelos e foi símbolo promocional do lançamento do programa Proálcool nos anos 70”, relembra Secco.
Por exemplo, Secco conta que a Ford centralizou no Corcel o apoio ao Proálcool, com a realização de reides promocionais em diversos estados brasileiros, fez a primeira viagem de carros a álcool entre São Paulo e Brasília e até viagem internacional, entre São Bernardo do Campo e Assunção, no Paraguai.
Primeiro recall da história do Brasil
Além disso, os esforços desenvolvidos pela Ford, o trabalho conjunto e o próprio tempo ajudaram a neutralizar os boatos que tinham a intenção de comprometer a imagem do Corcel. Assim, o carro de sucesso motivou a criação do primeiro recall no Brasil, relembra Secco.
“Venceu todas as ondas criadas contra ele e, até hoje, se manteve como o maior êxito de vendas na história da Ford no Brasil”, ressalta o jornalista.
Por exemplo, de julho de 1968 – quando foi lançado – a novembro de 1977, a família Corcel atingiu vendas superiores a 2,5 milhões de unidades com seus modelos sedã de 4 portas, cupê de duas portas, perua Belina e pick-ups Pampa e Courier.
“E não precisou de nenhuma patranha para vencer a guerra que sofreu com os boatos da concorrência”, relembra saudosamente, Luiz Carlos Secco.
Aproveite e confira também esta história em podcast, acessando aqui!
*Luiz Carlos Secco trabalhou, a partir de 1961 até 1974, na empresa S.A. O Estado de São Paulo e Jornal da Tarde, além da revista AutoEsporte. Posteriormente, transferiu-se para a Ford, onde foi responsável pela comunicação da empresa. Com a criação da Autolatina, passou a gerir o novo departamento de Comunicação da Ford e da Volkswagen.
Jornalista por formação com mais de 15 anos de experiência em redação geral e automobilística. Passagens pelo caderno "Máquina e Moto" do Jornal Agora São Paulo, Folha online, Jovem Pan, Uol, Mil Milhas, Revista Consumidor Moderno, Portal No Varejo, entre outros. Atualmente dedica-se a função de editora do portal Garagem360, apurando notícias do universo automotivo e garantindo o padrão de qualidade dos conteúdos veiculados.