A dança dos preços: por que a produção nacional da BYD ainda não barateou seus carros?
Entenda por que os carros da BYD, como Song Pro e King, não ficaram mais baratos mesmo com a produção nacional. Saiba sobre a cota de importação SKD/CKD, o aumento do imposto e os descontos de venda direta para PCD e Táxi.
A chegada da BYD e o anúncio de sua fábrica no Brasil, com um investimento total elevado, geraram uma grande expectativa de que os carros elétricos e híbridos da marca chinesa tivessem seus preços reduzidos drasticamente. No entanto, o que se observa é que os valores de tabela se mantêm elevados, mesmo com a montadora operando sob um regime especial de importação.
Por que a produção nacional da BYD ainda não barateou seus carros?
A explicação para a manutenção dos preços está em uma complexa equação que envolve os custos iniciais da produção local, o aumento das tarifas de importação e, principalmente, o fato de a BYD ainda estar operando em uma fase de transição no Brasil.
Apesar do entusiasmo com a futura fábrica em Camaçari (BA), a BYD ainda não está produzindo carros de fato. Atualmente, a empresa opera em um regime de montagem de kits:
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SKD (Semi Knocked Down) e CKD (Completely Knocked Down): Os veículos chegam ao Brasil desmontados ou parcialmente montados (em forma de kits de peças) e são finalizados localmente.
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Alíquota Zero Temporária: Para facilitar a transição e a montagem desses kits, o governo concedeu à BYD uma cota especial de importação de componentes com alíquota zero de imposto de importação. Essa cota é de até US$ 463 milhões e tem validade de seis meses a partir de julho de 2025.
Esse regime de montagem, embora reduza o imposto de importação das peças, não elimina os custos logísticos, de infraestrutura para a montagem e os inerentes a uma operação industrial em fase inicial no país.
O Fator Imposto
O principal desafio de preços para a BYD é a retomada gradual do Imposto de Importação (II) para veículos eletrificados (elétricos e híbridos). O governo federal encerrou a isenção total e estabeleceu um cronograma de aumento que impacta diretamente o preço final, mesmo para as marcas que ainda dependem da importação ou dos kits:
Categoria | Alíquota em Julho de 2025 | Previsão Julho de 2026 |
Elétricos (BEV) | 18% | 35% |
Híbridos Plug-in (PHEV) | 28% | 35% |
Híbridos Comuns (HEV) | 30% | 35% |
Mesmo a BYD se beneficiando da cota temporária de alíquota zero para kits, o mercado já opera com a pressão dessas novas tarifas. Além do II, os veículos no Brasil carregam outros impostos pesados, como IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), PIS e Cofins, que incidem sobre o preço final ao consumidor.
Custos de Produção e Investimento Elevado
A BYD anunciou um investimento total de R$ 5,5 bilhões no Brasil para o complexo fabril. Esse valor cobre a aquisição da antiga fábrica, obras de reforma, instalação de maquinários e o desenvolvimento da cadeia de suprimentos local. Os custos iniciais de investimento em um projeto dessa magnitude são altíssimos.
Para que os preços caiam, é preciso que a fábrica atinja a produção em escala e um alto índice de nacionalização de peças. Enquanto a maior parte dos componentes (incluindo as baterias) ainda é importada, o ganho real de custo é limitado, mesmo com a isenção temporária para os kits.
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Onde o Preço Fica Mais Baixo: Descontos Especiais
Apesar da manutenção dos preços de tabela, a BYD tem oferecido descontos significativos nas modalidades de venda direta, voltados para frotistas e categorias profissionais específicas, onde as isenções de impostos são legalmente aplicáveis:
Modelo | Preço Público Sugerido (PPS) | Desconto CNPJ/Prod. Rural | Preço Final CNPJ | Desconto PCD/Táxi | Preço Final PCD/Táxi |
Dolphin Mini GL | R$ 118.990 | 10% | R$ 107.091 | IPI+ICMS (estimado) | R$ 99.990 / R$ 98.590 |
BYD King GL | R$ 169.990 | 15% | R$ 144.492 | IPI+ICMS (estimado) | R$ 132.090 / R$ 124.990 |
Song Pro GL | R$ 189.990 | 15% | R$ 161.492 | IPI+ICMS (estimado) | R$ 147.990 / R$ 132.990 |
As reduções para PCD (Pessoas com Deficiência) e Taxistas são as mais substanciais, pois combinam descontos da montadora com as isenções legais de IPI e, dependendo do estado, de ICMS e IPVA.
Para o consumidor comum (pessoa física), a esperança de preços mais baixos depende da produção nacional efetiva (sem ser apenas montagem de kits) e da otimização da cadeia logística, processos que só devem gerar impacto significativo nos preços nos próximos anos.
A cota de importação da BYD e a retomada dos impostos justificam os preços atuais dos modelos no Brasil? Qual o verdadeiro impacto da nacionalização em um mercado com tanta tributação? Deixe seu comentário.
Sou Robson Quirino. Formado em Comunicação Social pelo IESB-Brasília, atuo como Redator/ Jornalista desde 2009 e para o segmento automotivo desde 2019. Gosto de saber como os carros funcionam, inclusive a rebimboca da parafuseta.