História da fábrica da Peugeot e Citroën no RJ teve início há 25 anos; relembre
A história da fábrica da Peugeot e Citroën no Rio de Janeiro teve início em 1998 e está intimamente ligada ao hatch Peugeot 206
Há 25 anos, era confirmada a instalação de uma fábrica da Peugeot e Citroën no Brasil, localizada na cidade de Porto Real (RJ). Essa história se cruza com a do primeiro modelo da Peugeot construído no País, o 206 – que, naquela época, não era conhecido nem como protótipo.
A disputa para receber a nova unidade industrial foi intensa. O Estado do Rio de Janeiro despontou como uma possibilidade em 1996, mas Bahia, Goiás, Minas Gerais, Paraná e São Paulo haviam apresentado seus planos para atrair o grupo PSA – que à época reunia as duas marcas e hoje está incorporado à Stellantis.
História da fábrica da Peugeot e Citroën está intimamente ligada ao modelo 206
O mercado estava em ebulição, com vendas em alta, polêmicas envolvendo restrições aos importados e um novo regime automotivo que estimulava a produção regional.
As obras em Porto Real começaram em maio de 1998, e a primeira etapa foi a terraplanagem do terreno de três milhões de metros quadrados. Os trabalhos continuaram mesmo quando o cenário econômico mudou, no segundo semestre daquele ano. A crise global afetou fortemente o Brasil e fez diversas empresas congelarem seus planos de investimento. O grupo PSA, no entanto, seguiu em frente.
Na época, a Peugeot tinha 80 concessionárias no Brasil, e seu carro mais comercializado era o hatch médio 306. Já estava definido que o modelo produzido em Porto Real seria um compacto de apelo popular, o que exigiria a ampliação da rede de revendedores.
O futuro nacional seria o Peugeot 206, cujo desenho definitivo era um dos segredos mais bem guardados da indústria automotiva. Os faróis que lembram olhos felinos só foram conhecidos em março de 1998, no Salão do Automóvel de Genebra.
A estreia foi em forma do protótipo conversível “20❤” – um coração substituía o algarismo 6 nas placas colocadas no carro. Em francês, a pronúncia dessa nomenclatura (“vingt couer”) remete à palavra “vainqueur”, que significa vencedor.
Após um período de apresentações à imprensa, o lançamento oficial do 206 ocorreu em outubro de 1998, na 100ª edição do Salão do Automóvel de Paris. Um desfile pela avenida Champs Elysées celebrou o centenário, e coube ao 206 aparecer à frente de automóveis históricos da Peugeot.
O carro estava em todos os cantos do estande da montadora no parque de exposições Paris Porte de Versailles. Além das versões que chegaram às ruas, havia o modelo que seria usado no WRC (campeonato mundial de rali) e o conceito Escapade. Além de antecipar o nome de versões disponíveis no Brasil, esse protótipo já previa o futuro segmento de SUVs compactos.
A chegada ao mercado nacional foi rápida: o Peugeot 206 estreou em março de 1999. As versões disponíveis eram Soleil, Passion e Rallye, todas importadas da França e equipadas com motor 1.6 (90 cv) a gasolina.
Em abril daquele ano, seu primeiro mês completo de vendas, o novo compacto da Peugeot teve 657 unidades emplacadas. Foi o carro importado mais vendido do País, um ótimo sinal para um modelo que já tinha a produção confirmada no Brasil e na Argentina.
O sucesso trouxe um problema: as filas de espera. Em julho de 1999, quem quisesse um 206 teria de esperar cerca de 60 dias para receber o carro. Nesse mesmo mês, entretanto, teve início a produção na fábrica de El Palomar, região metropolitana de Buenos Aires. Em pouco tempo, o fornecimento para o mercado brasileiro se tornou mais regular.
Enquanto isso, as obras em Porto Real seguiam em ritmo acelerado. As linhas de produção começaram a operar no início de 2001, quando o grupo PSA começou a produzir o hatch compacto e a minivan Citroën Xsara Picasso, lançada em abril.
Por ser um carro de maior volume de vendas, o 206 nacional passou por um período maior de formação de estoque e distribuição pelos concessionários. Suas vendas tiveram início no dia 28 de junho de 2001, com motor 1.0 16v (70 cv) a gasolina.
Ao longo de sua história, o hatch recebeu diferentes motorizações, ganhou carrocerias station wagon (SW) e coupé cabriolet (CC), teve séries especiais com itens exclusivos (como o teto solar da versão Moonlight) e encerrou sua história com mais de 8 milhões de unidades comercializadas mundo afora.
Seja importado da França ou produzido no País, o 206 permaneceu em linha por 10 anos no Brasil. Seu substituto foi o 207, que também teve versões exclusivas: o sedã Passion e a picape compacta Hoggar.
A linhagem teve continuidade com o 208, cuja produção em Porto Real teve início em janeiro de 2013. Seu sucessor manteve o nome, mas se transformou em um carro completamente novo.
Produzido em El Palomar, na Argentina, desde julho de 2020, o 208 atual é derivado da plataforma modular CMP, que revolucionou a história da marca francesa e hoje é utilizada diversos modelos globais do grupo Stellantis, sejam elétricos ou equipados com motor a combustão.
Essa plataforma também está presente no Brasil: um investimento de R$ 220 milhões, anunciado em outubro de 2019, transformou a fábrica de Porto Real em uma das mais modernas do grupo. Lá, atualmente são produzidos o novo Citroën C3 (base CMP), Citroën C4 Cactus e Peugeot 2008 (ambos construídos na plataforma PF1).
Jornalista com 20 anos de experiência profissional como repórter nas principais redações de jornais do Brasil, como Gazeta Mercantil, Folha SP, Estadão e Jornal do Brasil e em cargos de coordenação, edição e direção. Formado em Jornalismo pela Caśper Líbero.