Veículos pesados respondem por 47% das mortes nas rodovias federais
Apesar de os veículos pesados representarem apenas 5% da frota total, eles respondem por 47% das mortes nas rodovias federais.
Apesar de os veículos pesados (ônibus e caminhões) representarem apenas 5% da frota total brasileira, eles respondem por 47% das mortes e por 31% dos feridos graves e mortes nas rodovias federais brasileiras.
Em 2021, acidentes envolvendo ônibus e caminhões mataram 2.853 pessoas e deixaram outras 5.453 gravemente feridas nas rodovias federais brasileiras. Veja detalhes.
Veículos pesados são 5% da frota, mas respondem por 47% das mortes nas rodovias federais
Os dados, que constam do Anuário Estatístico da Polícia Rodoviária Federal, revelam a urgência de se investir em políticas públicas voltadas a esses motoristas profissionais, segundo a avaliação da Associação Mineira de Medicina do Tráfego (Ammetra).
Em outro triste ranking, o transporte rodoviário figura entre as cinco atividades com maior número de mortes por acidente de trabalho no Brasil – um país onde o instituto público de seguridade (INSS) concede 2,5 milhões de benefícios previdenciários acidentários por ano, incluindo auxílios-doença, aposentadorias por invalidez, pensões por morte e auxílios-acidente, uma despesa anual de mais de R$ 120 bilhões.
Motorista rodoviário exerce atividade desgastante e de alto risco
“A categoria dos motoristas rodoviários é uma das classes de trabalhadores que mais se submetem a graves riscos e infortúnios em virtude da natureza do trabalho e das particularidades das suas condições de trabalho: jornadas exaustivas, baixa remuneração, precarização da saúde física e mental, insalubridade e insegurança”, analisa o diretor científico da Ammetra, Alysson Coimbra.
Esse cenário fica ainda mais delicado quando se considera exclusivamente as condições de trabalho e os custos fixos e variáveis dessa atividade.
“Nos últimos 12 meses, o diesel teve um aumento de 49% e o valor do frete seguiu estagnado. Essa desproporcionalidade entre despesa e receita é o início de um círculo vicioso que envolve o não cumprimento dos períodos de pausas estabelecidos pela Lei do Descanso, excesso de velocidade, uso de substâncias psicoativas para cumprir os prazos e ainda buscar alguma bonificação pela entrega do frete em prazo mais curto, ou seja, a inflação no setor é compensada com o aumento do risco”, enumera Coimbra.
Segundo o especialista, reduzir os acidentes e as mortes dessa categoria requer ações interinstitucionais capazes de promover a segurança viária por meio do cumprimento de medidas que já existem em lei.
A Lei nº 9602/1998, por exemplo, determina que parte do valor arrecadado com multas aplicadas pelos municípios, Estados e União seja usada para custear despesas com a operacionalização da segurança e educação de trânsito. Porém, nos últimos 16 anos, apenas 19,7% do Fundo Nacional de Segurança e Educação de Trânsito (Funset) foi aplicado no trânsito.
Por sua vez, a Lei nº 6194/1974 define que 5% do valor arrecadado pelo seguro contra Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre (DPVAT) deve ser convertido em programas de educação e prevenção de acidentes.
Já a Lei nº 1303/2015 garante aos motoristas profissionais o acesso gratuito a programas de formação e aperfeiçoamento profissional; atendimento profilático, terapêutico e reabilitador pelo Sistema Único de Saúde (SUS); proteção do Estado contra ações criminosas que lhes sejam dirigidas no exercício da profissão; serviços especializados de medicina ocupacional e o tratamento de motoristas dependentes de substâncias psicoativas.
“O simples cumprimento dessas leis – associado ao aumento da fiscalização e a ações educativas, de conscientização sobre a importância de cuidar da saúde, os riscos do consumo de drogas e álcool e a necessidade de respeitar a Lei do Descanso – já constituiria importantes mecanismos para a redução do número de sinistros de trânsito”, considera Coimbra.
O diretor da Ammetra reforça a necessidade de criar políticas públicas específicas para motoristas profissionais que contemplem o acompanhamento de saúde de forma descentralizada pelo SUS e ações que garantam a melhoria das condições de trabalho.
“Pensar em um modelo de transporte rodoviário socialmente responsável só será possível com a participação ativa de todos os atores e elos dessa cadeia”, afirma. “Precisamos discutir saúde do motorista, remuneração, qualificação profissional, reparo e modernização da frota, ampliação dos postos de descanso, fiscalização regular e segurança”, lista Coimbra.
“Não dá mais para negligenciar um modal responsável por 61% do transporte de cargas no Brasil, cujos gastos podem representar até 7% do PIB nacional”, afirma o especialista.
Jornalista com 20 anos de experiência profissional como repórter nas principais redações de jornais do Brasil, como Gazeta Mercantil, Folha SP, Estadão e Jornal do Brasil e em cargos de coordenação, edição e direção. Formado em Jornalismo pela Caśper Líbero.