Testamos: Com um Volvo V40 na mão inglesa, rodamos 700 km na Escócia
Conduzir do lado direito exige atenção, mas experiência a bordo de um carro automático, como o Volvo V40, tem tudo para ser divertida
Em uma viagem pela Europa, alugar um carro pode ser uma mão na roda para quem deseja estacionar onde quiser a fim de apreciar as paisagens e fazer fotos, sobretudo em países que têm pequenas e belas cidades no interior, mas que nem sempre oferecem acesso de avião ou trem. É o caso da Escócia, que na primavera e no verão tem os campos e colinas tomados por tons diferentes de verde e amarelo, formando cenários espetaculares recortados por boas estradas.
Para ver tudo isso de perto e ao meu tempo, tracei um roteiro no qual teria que dirigir por cerca de 700 km desde Edimburgo, a capital, até as regiões de Loch Lomond e Kingdom of Five, onde estão alguns dos principais pontos turísticos escoceses. Para isso, optei por alugar um carro no aeroporto de Edimburgo, com reserva prévia feita pela internet.
A escolha do carro
Como estava sozinho e com pouca bagagem, escolhi um modelo compacto. No site da locadora, fui informado que receberia um Kia Ceed ou similar. Optei pela versão com câmbio automático, pois sabia que isso facilitaria bastante a minha vida na hora de conduzir na mão inglesa.
Uma vez na locadora, o atendente me informou que eu teria à disposição um Volvo V40 prata completo, com menos de 1.000 km rodados. Satisfeito, fechei com ele um modelo de seguro (optei pelo CDW, com cobertura para perda e danos decorrentes de acidentes, além de terceiros), fui informado que o veículo era abastecido a gasolina e confirmei que o devolveria com tanque cheio (do contrário, teria que pagar a taxa de combustível cobrada pela locadora, que, em geral, é mais cara do que nos postos).
Com o contrato assinado, ele indicou o número da vaga em que o carro estava estacionado e me orientou checar se o V40 tinha alguma avaria – caso positivo, teria que avisar algum funcionário. Fiz isso com calma e também procurei entender como lidar com o compartimento de abastecimento, antes mesmo de sair do estacionamento. Afinal, sabia que teria de encher o tanque sozinho e não queria passar vergonha.
Depois da checagem, coloquei minha bagagem – uma mala média e uma mochila – no porta-malas do Volvo, que comportou tudo com tranqüilidade. Arrumei então os retrovisores, ajeitei o banco com os botões elétricos (confesso que apanhei um pouco para colocá-lo para trás) e procurei me familiarizar com os principais comandos do carro. Afinal, queria estar tranquilo para voltar as atenções à condução propriamente dita, já que nunca tinha dirigido na mão inglesa.
De V40 na Escócia
Confortável, o V40 tinha banco de couro e todos os comandos à mão. Senti falta apenas de uma entrada de conexão USB, já que rodaria muito com o Waze ligado e queria recarregar a bateria enquanto isso. Como eu não tinha um adaptador para a entrada do isqueiro, não havia o que fazer. Por outro lado, o carro contava com um GPS nativo, que me ajudaria caso o celular descarregasse.
Daí para frente, começou a brincadeira para valer. Instintivamente tentei puxar o cinto do lado esquerdo, mas lá estava ele à direita. Dei a partida ao apertar o botão (a chave deve ser encaixada em um pequeno compartimento abaixo dele) e segui em frente.
No início, como já imaginava, estranhei um pouco a condução na mão inglesa. Mas segui as regras básicas para se dar bem nessa situação: manter-se na faixa da esquerda, estar sempre do lado em que o motorista fique mais próximo ao centro da pista nas vias de mão dupla e evitar movimentos bruscos. É bom prestar a atenção no GPS, nas placas e no fluxo do trânsito para conduzir com segurança.
Não demorou, porém, para eu fazer uma curva para a esquerda e encostar o pneu numa guia. Ali, percebi que minha noção espacial do carro estava falha. A cabeça funciona no automático e demora a perceber que tem um carro inteiro à sua esquerda na hora de fazer as manobras.
De Edimburgo a Loch Lomond
Quando eu cheguei à estrada, tudo ficou mais simples. Bastava lembrar-se de se manter à esquerda o tempo todo, sobretudo na hora de entrar nas rotatórias, já que elas são muito usadas na Escócia – principalmente nos cruzamentos de rodovias.
O V40 se comportou bem, e logo me senti seguro para fazer ultrapassagens à direita – os europeus, em geral, só usam a faixa rápida para isso e, na maior parte do tempo, rodam na faixa lenta, sempre próximo ao limite da velocidade da pista. Nas vias principais, era permitido acelerar até 65 mph (cerca de 105 km/h).
Com respostas rápidas, o Volvo se mostrou amigável e ergonômico. Botões no volante permitiam o controle fácil do rádio. Setas, limpador de para-brisa e pedais estão na mesma posição que os carros brasileiros, o que facilita a adaptação. Apenas o câmbio se mantém no console central, mas como ele era automático, não precisei fazer trocas de marcha com a mão esquerda, o que imagino ser um tanto quanto estranho.
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Estradas estreitas pela frente
Aproveitei que era hora do almoço e desviei um pouco da rota para visitar Stirling, onde há um lindo castelo e histórias ligadas a William Wallace, cavaleiro escocês imortalizado por Mel Gibson no filme “Coração Valente”. Depois, segui em frente até alcançar a região dos Parques Nacionais Loch Lomond e The Trossachs.
Ali, as estradas são estreitas e de mão-dupla. Por duas ou três vezes, quando um ônibus ou caminhão vinha na faixa contrária, instintivamente joguei o carro mais do que devia para a esquerda, comendo a faixa lateral. Tudo pela falta ainda da noção espacial correta do veículo.
Em seguida, acessei uma via em que só passava um carro. Quando tive que encostar para dar passagem para um automóvel que vinha na direção oposta, o fiz pela direita, e não pela esquerda, como devia, causando estranheza no outro condutor. De resto, porém, tudo correu normalmente e eu ainda pude parar por diversas vezes para fazer fotos dessa linda região da Escócia.
As paisagens de Loch Lomond e FiFe
No dia seguinte, rodei por cerca de 100 km pela região e visitei locais como o shopping Lock Lomond Stores, à beira do lago que o batiza, e a Glengoyne, uma das destilarias de uísque mais famosas da Escócia. E aí vi uma das poucas desvantagens de estar ao volante: não pude participar da degustação.
Depois de mais um pernoite pela área, segui para a região de Kingdom of Five, onde conheci o parque Balbirnie e o espetacular hotel de golfe Gleneagles, que ostenta um Rolls-Royce verde na porta. Também visitei cidades como Anstruther, onde é servido o melhor fish and chips (peixe com batata-frita) do Reino Unido, no Anstruther Fish Bar, e St. Andrews, palco de ruínas maravilhosas de castelos e igrejas. Foi nesta última, inclusive, que o príncipe William conheceu Kate Middleton, quando ambos estudavam na prestigiada universidade local.
O caminho por essas bandas é belíssimo. A cada curva aparece uma paisagem mais impressionante, sempre com colinas e campos verdejantes, flores do tipo dente de leão e muitas ovelhas. Pena que não há muitos pontos de parada nas estradas, pois dá vontade de fazer fotos o tempo todo. De qualquer forma, aproveitei um mirante aqui e ali para estacionar o V40 e curtir o visual.
Também usei o GPS dele, já que fiquei sem conexão de internet. É preciso rodar o botão para encontrar as letras e definir o destino, mas até que o processo é rápido. Em funcionamento, a ferramenta funcionou perfeitamente e, falando em inglês, me levou ao local que indiquei, sempre exibindo um mapa bastante claro no centro do painel.
Como abastecer o carro na Europa
Com cerca de 350 km rodados, o tanque de combustível do V40, que tem capacidade para 62 litros, chegou à metade. Resolvi abastecer. Para isso, procurei no Waze um posto no meio do caminho e, uma vez nele, parei ao lado de uma bomba vazia. Como o compartimento de combustível ficava próximo à porta do motorista, e a mangueira estava no oposto, tive que manobrar o carro. Ela não alcançava o outro lado.
Uma vez com o veículo na posição correta, o processo para colocar gasolina não poderia ser mais simples. Abri a portinha da entrada do combustível, inseri a mangueira com a descrição Unleaded (a outra era Diesel) e apertei o gatilho. Quando o tanque encheu, o abastecimento se encerrou sozinho. Fui então à loja de conveniência do posto, informei o número da bomba, paguei o valor devido com o cartão de crédito e pronto, segui em frente.
Estacionamento nas cidades pequenas
Durante minha passagem pelas cidades pequenas, tive que deixar o V40 em estacionamentos públicos e também em algumas ruas normais. A baliza para o lado direito, do motorista, é simples, mas do lado esquerdo requer um pouco mais de cuidado. De qualquer forma, nessa altura já estava mais acostumado ao carro, então não tive problemas.
Já nos estacionamentos públicos da Escócia é importante checar se há cobrança, a fim de evitar multas. Nesse caso, é preciso ir à máquina, definir o tempo em que ficará estacionado e pagar com moedas (de preferência o valor correto, pois nem sempre vem troco) ou via um aplicativo indicado no próprio equipamento.
Alguns parquímetros aceitam cartão, mas é a minoria. No fim do processo, um recibo é emitido, e você deve deixá-lo dentro do carro, em cima do painel, de modo que os fiscais o localizem facilmente.
Devolução do carro na locadora
No último dia de viagem ainda visitei a cidade de Dundee, uma das mais cosmopolitas da Escócia, antes de retornar a Edimburgo, de onde partiria meu vôo para São Paulo, com conexão em Londres. A estrada era ótima, bem pavimentada, então deu para acelerar o carro com tranquilidade e curtir o visual.
Localizei no Waze um posto próximo ao aeroporto e, uma vez lá, abasteci o V40 novamente. Mais meio tanque, que custou em torno de 30 libras.
Dali para a região em que as locadoras de carros ficam foi um pulo, embora não haja boa sinalização. Algumas rotatórias depois, cheguei ao meu destino, deixei o carro, que foi rapidamente fiscalizado, apanhei o recibo, peguei minha bagagem e segui a pé para o setor de embarque do aeroporto de Edimburgo. Já com saudades, deixe para trás o Sir. V, apelido que dei ao V40, meu companheiro de viagem, mas voltei para casa com ótimas lembranças e a certeza de que dirigir na mão inglesa é, sim, algo bem divertido.