Relembre o Trabant, carro símbolo da Alemanha Oriental
Em 1957, quando a Alemanha ainda era dividida pelo muro de Berlim, a montadora Sachsenring lançou o Trabant. O veículo, chamado carinhosamente de Trabi
Em 1957, quando a Alemanha ainda era dividida pelo muro de Berlim, a montadora Sachsenring lançou o Trabant. O veículo, chamado carinhosamente de Trabi, foi produzido por 30 anos, mas nunca recebeu alterações significativas. Até hoje, ele surpreende fãs de automóveis por conta de algumas peculiaridades e das tecnologias “pitorescas” adotadas pelas montadoras do lado oriental da cortina de ferro.
Logo de cara, o Trabi chama a atenção pelo tamanho. O veículo de pequeno porte (cerca de 3 metros de comprimento por 1,5 metro de largura) tem capacidade para transportar quatro pessoas, sendo que a galera do banco de trás sofre com a falta de espaço para as pernas. “O mais engraçado é que na Alemanha o pessoal tende a ser bem alto. Portanto, precisam jogar o banco bem para trás na hora de dirigir, deixando a parte traseira praticamente sem nenhum espaço para as pernas. Fazer um passeio com a família toda no carro não devia ser nada fácil”, comenta Mario Reuter, que está na seleta lista de brasileiros donos de Trabants.
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“Há cerca de 10 anos, importei três Trabants da Alemanha. A ideia inicial era vender para colecionadores. Quando os carros chegaram em Santos (SP), tive um problema com o meu despachante e eles acabaram ficando presos no porto por uns nove meses. Nesse tempo, a atmosfera salina deixou os veículos péssimos, por isso, tive que reformar os três”, destaca Reuter. Quando os carros ficaram prontos, ele decidiu que iria usá-los para promover sua empresa importadora de cervejas.
Um dos fatos curiosos sobre o pequeno carro alemão é que, na época do regime comunista, um modelo usado valia mais do que um zero quilômetro. Isso porque as concessionárias não tinham unidades em estoque. Depois de adquirir um Trabant, o proprietário precisava esperar cerca de três anos para receber o veículo.
Por dentro do Trabi
O Trabant é equipado com um motor de dois tempos de 594 cc, que desenvolve míseros 25 cavalos de potência e atinge velocidade máxima de 112 km/h. Uma das vantagens é que a estrutura leve do veículo – o modelo pesa pouco mais de 600 kg – colabora com o desempenho do propulsor. (Como medida de comparação, o Ford KA, um dos menores modelos do mercado, pesa pouco mais de 1.000 kg.)
“As partes que encaixam na carroceria (como capô, portas e tampa do porta-malas) eram feitas com uma espécie de resina chamada Duroplast. Ela é uma mistura de sobras das indústrias têxtil e plástica da Rússia e Alemanha”, explica Reuter.
O modelo da Sachsenring não tem medidor de combustível. Para saber se o carro ainda tem gasolina, é preciso estacionar, abrir o capô e enfiar uma varetinha no reservatório. Bomba de gasolina também era luxo na Alemanha Oriental. No Trabant, o combustível desce para o tanque por gravidade. “Os carros contam com uma chavinha que permite que o líquido desça ou não. Durante a condução, ela deve ficar aberta. Quanto o carro estiver estacionado, é preciso fechá-la. Caso contrário, a gasolina fica vazando e pode causar acidentes. Imagina se alguém joga um bituca de cigarro por perto?”, destaca o fã de carros antigos.
O carro com carburador de dois tempos também não tem bomba e reservatório de óleo. É preciso misturar o óleo diretamente no tanque de combustível. Com isso, a gasolina fica um pouco borrenta e pode acabar entupindo o carburador caso o veículo fique parado por muito tempo.
Na hora da condução, é preciso ficar atento às setas, que não desligam automaticamente após as curvas. O farol alto é acionado quando o motorista pisa em um botão próximo aos pedais. Não há ar-condicionado, mas os alemães ficavam quentinhos com o sistema de aquecimento do Trabant. Basicamente, ele jogava todo o calor do compartimento do motor para a parte interna do veículo.
Do lixo ao luxo
Quando o muro de Berlim caiu, em 1989, os alemães conheceram os automóveis do lado ocidental do país. Eles eram mais modernos que o Trabant. Por isso, muito donos se desfizeram de seus Trabis ou os rejeitaram, abandonado vários exemplares pelas ruas.
Atualmente, o pequeno carrinho socialista é visto como um símbolo cultural do país. Em Berlim, por exemplo, existe uma locadora de carros especializada em Trabants. O modelo também é tema de uma série de encontros de automóveis regionais e internacionais.
Na galeria, veja o processo de restauração dos Trabants de Reuter e mais detalhes do modelo: