Total flex: tecnologia completa 20 anos, mas seu futuro é incerto

A tecnologia total flex surgiu no Brasil há exatos 20 anos, quando a Volkswagen lançou o Gol Power 1.6 Total Flex. Relembre a história.

A tecnologia total flex – que permite que um carro seja abastecido com gasolina, etanol ou a mistura dos dois combustíveis em qualquer proporção – surgiu no Brasil há exatos 20 anos, quando a Volkswagen lançou o Gol Power 1.6 Total Flex, em 2003.

Conheça a trajetória do carro com tecnologia total flex

O pioneiro VW Gol 1.6 Total Flex 2003 (Foto: Divulgação/Volkswagen)

Desde então, 40 milhões de carros dotados da tecnologia flex foram vendidos no País, segundo os dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) até o mês de fevereiro. Confira um pouco dessa história.

A história do carro flex tem origem cerca de 30 anos antes do surgimento dessa tecnologia. Na década de 1970, como resposta à crise do petróleo, que diminuiu a oferta e aumentou os preços dos combustíveis fósseis em todo o mundo (cujo ápice aconteceu em 1973), o governo brasileiro criou o Programa Nacional do Álcool (Proálcool), mais precisamente no ano de 1975.

O Proálcoool visava incentivar o desenvolvimento de tecnologia nacional para a fabricação de motores movidos a etanol, em substituição à cada vez mais rara e custosa gasolina. Em 1979, surgiu o primeiro “carro a álcool”, o Fiat 147. Dotado de um motor 1.3, o carro logo caiu no gosto do brasileiro, pela economia que proporcionava com combustível. 

Na época, o litro do combustível derivado da cana custava cerca da metade do preço da gasolina. Uma conjuntura muito diferente da atual, na qual abastecer com etanol já não compensa do ponto de vista financeiro.

Em seguida ao Fiat 147, chegaram ao mercado o Volkswagen Fusca, o Ford Corcel II e Chevrolet Opala movidos a etanol.

Em 1979, o Fiat 147 foi o primeiro carro a álcool do Brasil (Foto: Divulgação)

Na segunda metade da década de 1980, 96% dos 0km à venda no País eram carros a álcool. Porém, as usinas tiveram problemas de crédito, travaram quedas de braço com governos e o combustível começou a rarear. Enquanto faltava etanol nas bombas, o preço da gasolina se estabilizava no mundo e também no Brasil. 

Assim, a gasolina começou a recuperar espaço no Brasil na década de 1990. Mas as qualidades do etanol – biocombustível obtido do processamento de matéria orgânica renovável e, além disso, menos agressiva ao meio ambiente – fizeram com que se buscasse uma sobrevida para o seu uso em automóveis.

Em março de 2003, Volkswagen mostrou ao público o Gol Power 1.6 Total Flex, p primeiro modelo no País capaz de rodar com gasolina, etanol ou a mistura dos dois combustíveis em qualquer proporção.

Na sequência vieram o Chevrolet Corsa 1.8 FlexPower, o Fiat Palio 1.3 e  o Ford Fiesta 1.6. O uso dos motores flex, na época, recebeu o incentivo do governo, que concedeu um abatimento de 14% no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).

A Volkswagen relata que a investigação da possibilidade de usar misturas de etanol e gasolina foi iniciada em 1992, juntamente com o desenvolvimento do sistema de injeção de combustível com controle digital. 

No início dos anos 2000, a decisão da marca alemã em implementar o Total Flex “foi suportada pela existência de infraestrutura estabelecida para o etanol, pelo interesse do consumidor, e pela maturidade da tecnologia de controle digital dos motores, desenvolvida ao longo da década de 1990”.

Muito mudou em termos de tecnologia desde então. A VW lançou a primeira versão de um carro flex sem o “tanquinho” no Polo eFlex, em 2009. Aqui um parêntesis: os amigos carros movidos a etanol tinham dificuldades de dar a partida, especialmente em dias mais frios. O “tanquinho” equipava os primeiros modelos flex para injetar gasolina no momento da partida, caso o carro estivesse abastecido com etanol.

Etanol tem incentivo, mas futuro do motor flex é incerto

A tecnologia flex possibilita o uso do etanol. Mas para isso, o motorista precisa escolhê-lo no momento do abastecimento. Por isso, a Volkswagen incentiva essa escolha. No app Meu VW, é possível fazer as contas com a calculadora digital para saber qual combustível é mais vantajoso, etanol ou gasolina. Muito além da questão financeira, a ferramenta mostra qual será a emissão de CO2 de acordo com o combustível escolhido, considerando a metodologia “poço-à-roda”.

Jeep Compass 4xe aponta para o futuro, com motorização híbrida a etanol (Foto: Divulgação/Jeep)

Um outro incentivo ao uso etanol virá com a estratégia de montadoras como a Stellantis (dona das marcas Fiat, Jeep, Peugeot, Citroën, entre outras), a Toyota e a própria Volkswagen. Essas empresas apostam, para o futuro (em particular no Brasil), no carro híbrido com motor a etanol. Essas gigantes do setor automotivo enxergam no etanol a saída para uma mobilidade mais sustentável.

Será que o motor flex está com os dias contados?

Escrito por

Paulo Silveira Lima

Jornalista com 20 anos de experiência profissional como repórter nas principais redações de jornais do Brasil, como Gazeta Mercantil, Folha SP, Estadão e Jornal do Brasil e em cargos de coordenação, edição e direção. Formado em Jornalismo pela Caśper Líbero.

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