Saiba como a Ford se prepara para o futuro da mobilidade no Brasil 

Marca pioneira na história da indústria automotiva brasileira – foi a responsável pela instalação da primeira fábrica de automóveis no País, em 1919 –, além de ter disputado a liderança de vendas por décadas, a Ford praticamente desapareceu do mercado nacional. No primeiro semestre de 2022, a montadora com sede no Michigan (EUA) emplacou apenas 9.434 veículos, ficando na modesta 14ª posição no ranking das marcas, com 1,11% de participação de mercado.

A decadência está diretamente associada à decisão de encerrar a produção de veículos no Brasil, tomada em janeiro de 2021, com o fechamento das fábricas em Camaçari (BA) e Taubaté (SP) – dois anos antes, já havia encerrado as atividades em sua tradicional unidade em São Bernardo do Campo (SP). 

Hoje, a presença da Ford no mercado local resume-se quase que exclusivamente à picape Ranger, 7º veículo comercial leve mais vendido no semestre (6.671 unidades), segundo os dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), que chega ao País importado da Argentina.

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A empresa, no entanto, ainda mantém atividades relevantes em território nacional. Depois de ter anunciado a ampliação do Centro de Desenvolvimento e Tecnologia, com sede na Bahia, a Ford detalhou, nesta semana, o papel estratégico do Centro de Tatuí, no interior paulista, como “parte vital do seu ecossistema de inovação no País”.

Inovação e eletrificação são as novas apostas da Ford no Brasil

Testes no Centro de Tatuí (Foto: Divulgação/Ford)

Hoje, a Ford Brasil tem como um dos pilares do seu modelo de negócio o desenvolvimento de tecnologia e inteligência automotiva.

“A Ford é a única empresa da América Latina a contar com uma estrutura completa para desenvolvimento e testes automotivos integrada a um time de engenharia local com capacidade para desenvolver veículos globais”, diz Alex Machado, diretor de Desenvolvimento da Ford América do Sul.

Criado há mais de 40 anos, o Centro de Tatuí possui pistas e laboratórios que atendem a padrões e exigências mundiais. Nesta nova fase, a operação passa a adotar um nível superior de digitalização, que é fundamental para o desenvolvimento de veículos conectados, elétricos e autônomos, incluindo a instalação de antena 5G e sensoreamento das pistas para comunicação com os sistemas de direção autônoma. 

Essa mudança se reflete também no novo nome da unidade – Centro de Desenvolvimento e Tecnologia de Tatuí –, antes conhecida como Campo de Provas.

Os profissionais do Centro de Tatuí atuam no desenvolvimento, testes, validações e homologações dos modelos do portfólio atual, tanto para o Brasil quanto para a América do Sul, além de participar de projetos globais, incluindo tecnologias da mobilidade do futuro que ainda chegarão às ruas.

A Ford identificou uma oportunidade de negócio e expandiu a atuação da unidade, que iniciou a prestação de serviços para outras empresas, tanto da área automotiva como de outros setores, o que diferencia o papel do Centro de Tatuí dos demais centros de testes presentes na região.

Com a expansão, a área de desenvolvimento de produto da Ford no Brasil conta, hoje, com um time de 1.500 profissionais e tem a expectativa de gerar uma receita de R$ 500 milhões este ano com a exportação de serviços de engenharia para mercados globais.

“Estamos provando que investir em desenvolvimento de tecnologia e inteligência automotiva é um negócio rentável, mas que requer uma estrutura de desenvolvimento e testes com profissionais altamente capacitados. Por isso, Tatuí representa um diferencial competitivo e estratégico para a Ford no Brasil e no mundo”, diz Rogelio Golfarb, vice-presidente da Ford América do Sul.

Infraestrutura para testes

Testes com a Ford Ranger (Foto: Divulgação/Ford)

O Centro de Desenvolvimento e Tecnologia de Tatuí é um dos sete da Ford no mundo, ao lado dos existentes nos Estados Unidos (três), na Europa, Austrália e China. Sua estrutura de padrão mundial permite testar veículos para o Brasil e também para outras regiões, como Estados Unidos, China e Europa, reproduzindo as condições e os desafios desses locais a partir da correlação de pistas.

O Centro de Tatuí ocupa uma área total de 4,66 milhões de m2, dos quais 3,63 milhões de m2 são de áreas verdes preservadas, com árvores nativas e mais de 360 espécies de animais. Seus 40 km de pistas de terra e 20 km de pistas pavimentadas incluem áreas de alta e baixa velocidade com diferentes tipos de piso e traçados, como areia, cascalho, pedras e lama, além de lombadas, obstáculos, tanque de transposição de água e rampas com até 40º de inclinação.

O local está preparado para realizar mais de 440 tipos de testes, como avaliação de durabilidade, calibração, desempenho e segurança, além de homologação.

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Aposta na eletrificação

A Ford anunciou investimentos globais em eletrificação de US$ 50 bilhões até 2026 e projeta que 50% das suas vendas sejam de veículos elétricos até 2030. Ao mesmo tempo, desenvolve uma série de iniciativas para garantir o suprimento de baterias e matérias-primas, com uma meta de produção global de mais de 2 milhões de veículos elétricos por ano até 2026.

Tanto o SUV Mach-E quanto a van E-Transit são sucessos globais de vendas. Na América do Norte, eles ajudaram a Ford a crescer o triplo do segmento de veículos elétricos em julho – a E-Transit é dona de 95% das vendas de vans elétricas. 

“Esses modelos estão sendo testados aqui em Tatuí, no Brasil, com o objetivo de avaliar o seu comportamento na região da América do Sul e relação com as características dos nossos consumidores”, afirma Golfarb.

O executivo destaca que não se trata de um anúncio de lançamento desses modelos no Brasil, mas reforça o papel de Tatuí no futuro da mobilidade, testando os produtos mais icônicos da marca.

Paulo Silveira Lima
Paulo Silveira LimaJornalista com 20 anos de experiência profissional como repórter nas principais redações de jornais do Brasil, como Gazeta Mercantil, Folha SP, Estadão e Jornal do Brasil e em cargos de coordenação, edição e direção. Formado em Jornalismo pela Caśper Líbero.
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