Risco de acidentes é 4 vezes maior em rodovias que têm gestão pública

Estudo com base nos acidentes registrados em rodovias federais de 2018 a 2021 revela que rodovias sob gestão pública são muito mais perigosas.

Estudo inédito realizado pela Fundação Dom Cabral (FDC), por meio da Plataforma de Infraestrutura em Logística de Transportes (PILT), analisou os acidentes de trânsito registrados em rodovias federais pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) entre 2018 e 2021. A conclusão é de que as taxas de acidentes (TAc) e de severidade (TSAc) são consideravelmente maiores nas rodovias sob gestão pública do que nas concedidas.

Por meio de um tratamento científico que reduz a influência do Volume Médio Diário Anual (VMDA) dos veículos que circulam no trecho de ocorrência do acidente – amenizando o fato de que rodovias mais movimentadas tendem a apresentar um maior número absoluto de acidentes –, o estudo da FDC demonstra que nas rodovias sob gestão pública o risco de acidentes é cerca de quatro vezes maior do que nas rodovias concedidas.

8 em 10 acidentes ocorrem em rodovias sem concessão

Os pesquisadores da FDC utilizaram a base de dados disponível na seção de dados abertos do portal da PRF na internet. Foram estudados registros de 2018 a 2021, totalizando 264.196 acidentes, dos quais 99,4% ocorreram em rodovias sob jurisdição federal. O estudo se debruçou sobre duas categorias de ocorrências: em rodovias sob gestão pública e em estradas delegadas às concessionárias privadas.

“Acidentes acontecem em qualquer rodovia e quanto maior o volume de tráfego maior a possibilidade de acidentes – isso é demonstrado nos percentuais relativamente próximos de acidentes nos conjuntos de rodovias concedidas e sob gestão pública (43,4% e 56,6%, respectivamente), explica Paulo Resende, professor da FDC e pesquisador responsável pelo estudo.

O problema fica mais claro quando são consideradas as Taxas de Acidentes – que ponderam os números absolutos de acidentes pelo VMDA. Neste caso, o percentual referente às rodovias sob gestão pública salta para 79,7%, ao passo que nas concedidas se reduz para 20,3%. Ou seja, a cada dez acidentes, oito ocorrem em rodovias sem concessão.

Quando, além do VMDA, é considerada a gravidade dos acidentes, a Taxa de Severidade nas rodovias sob gestão pública corresponde a 80,4% e nas concedidas a 19,6%. “Fica claro que os investimentos em segurança viária feitos nas rodovias concedidas são bem superiores àqueles executados nas estradas sob gestão pública”, reforça Paulo Resende.

(Fonte: Fundação Dom Cabral)

 

Mesmo considerando o fato de que as rodovias concedidas tendem a apresentar maior volume de tráfego no total de quilômetros por elas administrados, acidentes costumam ser bem mais graves nas rodovias sob gestão pública.

(Fonte: Fundação Dom Cabral)

 

Entre os Estados brasileiros com maiores taxas de acidentes, destacam-se o Rio Grande do Sul e o Paraná. Além de apresentar as maiores taxas de acidentes (TAc), essas unidades da Federação também estão nas primeiras colocações no ranking das taxas de severidade das ocorrências (TSAc). Os dois são seguidos mais à distância por um segundo bloco composto por Minas Gerais, Santa Catarina e Rio de Janeiro.

BR 101 é a rodovia federal com mais acidentes

Um dos recortes analíticos do estudo ressalta as 20 rodovias federais com as maiores taxas de severidade. As rodovias BR 101 e BR 116 – que são os principais eixos rodoviários do País, interligando Sul e Sudeste a Norte e Nordeste – ocupam as duas primeiras posições, tanto em número absoluto de acidentes quanto nas taxas de acidentes e de severidade dos mesmos. 

Porém, é notável que a severidade das ocorrências é mais intensa nos trechos que permanecem sob gestão pública do que nos concedidos às empresas privadas.

(Fonte: Fundação Dom Cabral)

 

Taxa de severidade

Um outro recorte analítico aborda a escala de severidade dos acidentes, com seus respectivos percentuais, em 2018 e 2021 (ano inicial e o final da série analisada).  Chama atenção como rodovias sob gestão pública acumulam elevadíssimo percentual das taxas de severidade (cerca de 80%, na média dos dois anos extremos), abarcando distintos tipos de acidentes (desde apenas ‘com danos materiais’ até ‘com perda de vidas’), em comparação com as rodovias concedidas (cerca de 20%).

Observa-se que nas rodovias concedidas os percentuais da taxa de severidade correspondentes a cada tipo de acidente se mantêm nos dois anos em baixos patamares; ao passo que nas sob gestão pública, qualquer que seja o tipo de acidente, estes percentuais são sempre quatro vezes maiores que os verificados nas concedidas.

(Fonte: Fundação Dom Cabral)

 

Uma das principais conclusões do estudo diz respeito à necessidade de se criar fontes alternativas de financiamento para a manutenção e a melhoria da segurança nas rodovias que permanecem sob a gestão direta da União, “já que o orçamento público não possui mais condições de investir no mesmo patamar que as concessionárias privadas investem”, afirma a FDC.

Escrito por

Paulo Silveira Lima

Jornalista com 20 anos de experiência profissional como repórter nas principais redações de jornais do Brasil, como Gazeta Mercantil, Folha SP, Estadão e Jornal do Brasil e em cargos de coordenação, edição e direção. Formado em Jornalismo pela Caśper Líbero.

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