Por que o carro elétrico ainda não deslanchou no Brasil? Entenda o que pode ser feito

O crescimento do carro elétrico no Brasil, de 197% em 2022, tem na importação um dos seus principais vetores. Mas isso não é suficiente.

O crescimento acelerado do segmento de carro elétrico no Brasil, com 8.458 unidades vendidas em 2022, representando um aumento de 197% em comparação ao ano anterior, tem na importação um dos seus principais vetores. Porém, recentemente a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) tem defendido o aumento da produção nacional dos eletrificados.

O cenário não é novo, e cada vez mais empresas têm investido na produção de elétricos nacionais – o caso mais evidente é o da montadora chinesa BYD, que tem frequentado o noticiário com a possibilidade da criação de uma fábrica brasileira para seus automóveis. Mas, ainda assim, faltam incentivos reais para o desenvolvimento do segmento.

Para deslanchar no Brasil, carro elétrico teria de ser produzido aqui

Produção do carro elétrico no Brasil ainda é insipiente (Foto: Divulgação/GM)

Ricardo David, sócio diretor da Elev, empresa especializada em soluções para a eletromobilidade, defende que o setor teria muito a ganhar com o avanço da produção nacional de carros elétricos. O executivo sugere a elaboração de um plano nacional para o setor.

“O Brasil tem um potencial gigantesco quando tratamos da possibilidade de produção local de automóveis elétricos e isso vai além de produzir para o nosso mercado interno”, diz. “Quando pensamos de forma ampla, nós temos todos os recursos necessários para a produção destes automóveis também para a exportação. Deste modo, acredito que precisamos superar o paradigma de país importador e nos tornar suficientes na produção”, afirma o executivo.

David acredita que o País tem caminhos para obter um crescimento mais acelerado em eletromobilidade:

“O preço é um forte indutor do crescimento de vendas do VE, mas ele só será possível com a implantação de uma Política Nacional de Eletromobilidade, pela qual toda a cadeia produtiva precisa ser incentivada. Além disso, um Marco Legal da Eletromobilidade também precisa ser elaborado, para garantir um ambiente jurídico seguro para aqueles que pretendem investir no setor.”

No Brasil, a exportação de automóveis tem demonstrado força. Em janeiro último, foram embarcados 33.058 veículos. O número representa um crescimento de 5,9% sobre dezembro e um crescimento de 19,3% em comparação ao ano anterior, segundo dados da Anfavea. 

Carros elétricos da BYD devem ser produzidos localmente no BRasil (Foto: Divulgação/BYD)

O especialista em comércio exterior Fábio Pizzamiglio, diretor da Efficienza, empresa de logística internacional, aponta que o País tem potencial para fortalecer-se na indústria do carro elétrico na América Latina com a exportação.

“O Brasil tem uma posição de destaque como exportador na América Latina. Neste momento, o segmento de automóveis tem demonstrado capacidade não apenas de manutenção de números positivos como o de expansão. Deste modo, se houver investimentos no segmento, pensando no mercado externo, o País tem muito o que ganhar”, afirma Pizzamiglio. 

O especialista também aponta que o Brasil já conta com isenções modernas que podem ser utilizadas para a ampliação do segmento, como é o caso do ‘drawback’ – regime aduaneiro especial que consiste na suspensão ou eliminação de tributos incidentes sobre insumos importados para utilização em produto exportado.

Ricardo David ressalta que com o desenvolvimento da produção nacional de veículos elétricos os preços reduziriam, tendo em vista que seriam excluídos do preço final todos os impostos de importação, frete e despesas aduaneiras envolvidos. No entanto, aponta, a produção nacional precisa ser suportada por medidas internas, como a desoneração tributária e o subsídio a alguns setores específicos, como transporte público e de carga. 

“É de se esperar que tenhamos uma redução de 20% a 25% no preço final ao consumidor, se todas essas medidas forem tomadas e houver um esforço integrado de governos federal, estadual e municipal”, afirma David.

Enquanto o Brasil engatinha no mercado de carros elétricos na região, temos visto cada vez mais a ampliação da China na América do Sul. Com cada vez mais importações de automóveis. os chineses tem se expandido em mercados que anteriormente o Brasil dominava, como é o caso do transporte público. Isso porque a maior parte das cidades da região que tem convertido a sua frota em elétricos vem optando por automóveis chineses.

Escrito por

Paulo Silveira Lima

Jornalista com 20 anos de experiência profissional como repórter nas principais redações de jornais do Brasil, como Gazeta Mercantil, Folha SP, Estadão e Jornal do Brasil e em cargos de coordenação, edição e direção. Formado em Jornalismo pela Caśper Líbero.

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