A partir de Fuscas e Omegas, oficina cria réplicas de Porsche e de Alfa Romeo em São Paulo; veja alguns modelos
Em Caieiras, cidade localizada na região metropolitana de São Paulo, uma oficina produz há cerca de 15 anos réplicas fieis de modelos da Porsche.
Em Caieiras, cidade localizada na região metropolitana de São Paulo, uma oficina produz há cerca de 15 anos réplicas fieis de modelos da Porsche. A GRF Réplicas Artesanais começou seu trabalho como um passatempo para o pai de Rogério Furlan, o proprietário do local, mas cresceu e se tornou referência na produção desse tipo de veículos no País.
“Tudo começou para ocupar o Sr. Geraldo, que sempre trabalhou com oficina mecânica. Ele tinha se aposentado e estava parado. Um dia em uma conversa com um amigo, tivemos a ideia de comprar um kit de carro para meu pai montar. Foi assim que tudo começou”, conta Rogério.
Grosso modo, kits de carro são como jogos de Lego em tamanho real. Empresas especializadas vendem modelos desmontados – com partes como carroceria, chassis e motor compondo o kit. Entusiastas adquirem esse conjunto, levam para casa e montam. Como Rogério e seu pai fizeram no início da oficina.
Após concluir o primeiro projeto, Rogério e seu pai venderam a réplica de Porsche para um juiz de Brasília. “Ele veio de avião e voltou rodando com o carro. Fez uma viagem de vários dias, parando no caminho. A partir disso, a coisa tomou forma e não parou”, relembra o proprietário da GRF.
Professor de Educação Física, Rogério precisou largar a vida de malhação para se dedicar exclusivamente à oficina. “Eu vendi a academia que tinha e decidi ficar só aqui, para ajudar meu pai na época. Queria ficar mais próximo da família. Aprendi tudo sobre os carros com ele.”
Hoje, a oficina produz réplicas do Porsche Spyder 550, que originalmente era um modelo de corrida, além de versões do Porsche 356 conversível e cupê, do Alfa Romeo 1931 e também do lendário Shelby Cobra e do Jaguar XK 120. “Esses são os carros de nossa linha, mas hoje a gente faz qualquer carro que o cliente queira, dentro da configuração que ele quiser”, explica Rogério. “Por conta da parceria que temos com o Miguel Rosário, da fábrica de aviões Seamax, eles têm uma CNC que faz a usinagem em isopor. Então a gente consegue fazer o projeto e imprimir em 3D qualquer carroceria.”
Além desses modelos, a GRF está atualmente produzindo uma réplica do PGO Cevennes, que foi uma releitura moderna do Porsche 356 lançado há alguns anos na França. A versão brasileira terá como base o Audi A3 de primeira geração, inclusive na parte mecânica.
Fabricação
A base para as réplicas de Porsche e Shelby Cobra utiliza chassis tubulares. No caso dos veículos da marca alemã, a origem mecânica é de modelos da Volkswagen. Se for um refrigeração a ar, o motor é doado por algum Fusca. Caso o cliente queira que seu carro seja refrigerado a água, então o motor utilizado é um AP, que foi utilizado por muitos anos no Gol, Santana, na Parati e na Saveiro, em versões 1.6, 1.8 e 2.0.
No Cobra, o propulsor geralmente é doado por algum Ford Galaxie, que usava um V8 de 4,8 litros. Todos os motores são revisados e passam por uma retífica completa antes de serem aplicados nos carros. Rogério ainda oferece garantia de três anos para o veículo completo e faz toda a manutenção necessária na própria oficina.
Tudo é produzido na própria GRF. Desde a laminação da carroceria em fibra de vidro, até as etapas de construção e pintura, tudo é feito pela equipe de Furlan. No caso das réplicas de Porsches, mesmo que o motor seja de origem do Fusca, Rogério afirma que não utiliza nenhuma outra peça do besouro da VW. “A coluna de direção, por exemplo, é do Palio, que é mais precisa e mais confortável. A suspensão é independente nas quatro rodas, desenvolvida para as estradas atuais”, conta.
Exportação
O sucesso das réplicas de Rogério não se restringe ao mercado brasileiro, onde seus principais mercados são nas regiões Sul e Nordeste. Suas produções já conquistaram espaço na Europa, onde são vendidas principalmente na França e na Alemanha. Com o sucesso de seus projetos no velho continente, alguns investidores franceses estão interessados em transformar a GRF em uma linha de produção. A ideia, segundo Rogério, é produzir réplicas do Alpine A108, que foi vendido no Brasil como Willys Interlagos, além de manter os projetos atuais.
Fibra de carbono
Embora utilize carrocerias em bolhas de fibra de vidro, Rogério conseguiu desenvolver um processo de laminação em fibra de carbono em sua própria oficina, sem a necessidade de um forno. O primeiro veículo produzido com essa tecnologia será um Spyder 550, que terá Miguel Rosário como proprietário. Embora sua especialidade seja produzir aviões, o engenheiro firmou parceria com a GRF, onde tem colaborado com os projetos.
Primeira réplica de Porsche feita em fibra de carbono no Brasil, segundo Furlan, ela pode até receber um propulsor original da marca alemã. “Estamos tentando esse patrocínio com eles. Se não der certo, vai ser mecânica Volkswagen AP, mesmo”, afirma Rogério.
Custo
Os modelos mais em conta são os do 550 Spyder. O projeto com mecânica a ar sai a partir de R$ 55 mil. Existe uma modalidade que sai por R$ 10 mil a menos, mas o motor é apenas revisado e a garantia é de apenas três meses. Já o Porsche 356, sai a partir de R$ 60 mil, enquanto que o Shelby Cobra tem preço inicial de R$ 90 mil.
Tudo pode ser personalizado pelo cliente. “Tem gente que importa peças de Porsche, mesmo, traz de outros países. É uma loucura, quando a gente vê o projeto já foi completamente alterado, de tanta peça que trazem para nós”, conta Rogério.
Todos os veículos são legalizados e podem ser licenciados e rodar normalmente nas ruas brasileiras. A documentação é feita pela oficina e as réplicas são vistoriadas e aprovadas pelo Inmetro.
Jornalista formado na Universidade Metodista de São Paulo e participante do curso livre de Jornalismo Automotivo da Faculdade Cásper Líbero, sou apaixonado por carros desde que me conheço por gente. Já escrevi sobre tecnologia, turismo e futebol, mas o meu coração é impulsionado por motores e quatro rodas (embora goste muito de aviação também). Já estive na mesma sala que Lewis Hamilton, conversei com Rubens Barrichello e entrevistei Christian Fittipaldi.