O mercado automotivo global, em especial o europeu, está enfrentando um desafio inesperado: um acúmulo significativo de carros elétricos em seus estoques. Esse cenário acende uma pergunta: o Brasil será o próximo?
Mercado europeu sofre com acúmulo de carros elétricos
De acordo com um estudo recente da Indicata, empresa especializada em inteligência de mercado automotivo, revelou que o tempo médio para a venda de um carro elétrico é consideravelmente maior que um veículo a combustão (até 52,5%) e plug-in (29,1%).
Essa diferença contribui para um desequilíbrio no estoque das concessionárias e fabricantes. Ambos usam o MDS (Mean Days to Sell, ou “dias em estoque”) para formular suas estratégias de venda.
Um MDS elevado significa que a oferta é maior que a demanda, desacelerando o mercado de eletrificados.
Já o relatório da Market Watch da Indicata UK mostrou que um carro elétrico usado médio com três anos está agora 43,8% mais barato do que em janeiro de 2023. Os modelos a combustão, no mesmo período, tiveram uma desvalorização de 16,5%.
Entre os pontos que justificam essa desvalorização estão:
Baterias
A tecnologia das baterias para carros elétricos está em constante evolução, com novos modelos mais eficientes e com maior autonomia surgindo constantemente. Isso faz com que modelos considerados mais antigos, embora nem sejam tão antigos assim, sejam considerados obsoletos na visão dos consumidores.
Sistema
Os sistemas e tecnologias também evoluem. Isso significa que os consumidores vão buscar os mais modernos, com mais funcionalidades e recursos de segurança.
Carregadores
A infraestrutura de carregamento evolui ao mesmo passo que expandem e os carros antigos podem não ser compatíveis ou apresentar a melhor taxa de carregamento com os carregadores mais recentes.
Incerteza sobre a vida útil das baterias
Apesar dos estudos e afirmações, o consumidor ainda entende que as baterias não duram muito e preferem os modelos mais novos (ou 0 km).
Percepção do consumidor
Muitos consumidores são saudosistas, preferem os modelos a combustão, de preferência com motorizações mais robustas. Isso ainda contribui para o pensamento de que os carros elétricos são uma tecnologia incerta.
O resultado disso tudo é uma desvalorização mais rápida.
O carro elétrico vai dar certo no Brasil?
O Brasil conta com um estoque de eletrificados importados de 81,7 mil unidades, de acordo com Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
No entanto, esse número está elevado porque as montadoras aumentaram o volume de importações antes do aumento da alíquota de importação para 18% ocorrido em julho.
É necessário, pelo menos esperar até o fim do ano, para avaliar se a oferta será maior que a demanda.
Por aqui, a desvalorização média dos carros elétricos foi de 12%, conforme dados da Webmotors. Ou seja, os estoques estão cheios, mas ainda não afetou tanto a depreciação dos elétricos.
O setor está em franca expansão. Segundo dados da ABVE até agosto de 2024, as vendas de carros elétricos cresceram 122,7% em relação ao mesmo período do ano anterior, chegando a 109.291 unidades vendidas.
A entidade prevê que o ano de 2024 terminará com um novo recorde de vendas, superando as 150 mil unidades vendidas.
É cedo para cravar que o Brasil terá um fenômeno semelhante ao evidenciado na Europa. Temos ainda a chegada dos modelos híbrido-flex, nacionalização da produção chinesa e novos capítulos na novela da taxação dos carros elétricos produzidos no país.
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