Kia EV6 surpreende em teste de 4.365 km; saiba detalhes 

Em ação de reposicionamento de marca, a Kia enviou seu elétrico EV6 para o Brasil, onde foi submetido a teste em viagem até o Uruguai.

Com o reposicionamento de marca e de portfólio de produtos, a Kia Corporation decidiu enviar duas unidades do EV6 para a América do Sul, com o objetivo de divulgar as novas tecnologias da montadora. 

A montadora sul-coreana tenta reverter os maus resultados comerciais na região, onde não possui unidades de produção – por aqui, os carros chegam importados do México. Historicamente, a Kia tem mais de 400 mil unidades vendidas no Brasil, porém o desempenho de vendas vem em forte declínio. 

No ano passado, a Kia fechou 2021 com participação de apenas 0,17% no total de vendas no País. O portfólio da importadora brasileira é composto por quatro modelos:  o sedã Cerato, o SUV híbrido Stonic, a van Carnival e o SUV Sportage.

O Kia EV6

A aposta do momento é o elétrico EV6. Uma das unidades foi enviada para o importador brasileiro, José Luiz Gandini, que estruturou o Kia EV6 Experience – um teste de longa duração, realizado entre os dias 17 e 27 de março, num percurso de 4.365 km, pelo trajeto Itu-Montevidéu-Punta Del Este-Montevidéu-Itu.

Acompanhe como foi o teste

Para realizar a primeira parte da jornada – de Itu (SP) a Montevidéu, capital do Uruguai –, os jornalistas Cesar Urnhani (piloto de testes), Eduardo Passo (Quatro Rodas) e Vagner Aquino (Jornal do Carro) revezaram-se ao volante do EV6. 

O planejamento da viagem teve início dois meses antes, em janeiro, tendo como tarefa principal a checagem dos pontos de carregamento em território brasileiro, especificamente nos Estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. De Chuí, no extremo sul do País, até Montevidéu, já havia garantia de carregamento, já que o Uruguai possui a infraestrutura das Rotas Elétricas, com pontos de abastecimento entre 7quilowatts/h e 43 quilowatts/h, na média.

Embora a autonomia do EV6 seja de 530 km, os organizadores da jornada estabeleceram uma margem de segurança de 50 km, ou seja, trabalharam considerando autonomia de 480 km. A precaução era justificada por conta de possíveis pontos de carregamento inativos – fato que ocorreu em Pelotas, penúltima cidade brasileira antes da divisa com o Uruguai –  ou em caso de manutenção desses pontos.

De Itu a Florianópolis

Recarregamento do Kia EV6 (Foto: Divulgação/Kia)

O primeiro trecho, de 756 km entre Itu (SP) e Florianópolis (SC), foi feito em 13 horas, com três paradas para carregamento: posto Graal/Buenos Aires em Registro (SP), posto Túlio Caraguatá em Campina Grande do Sul (PR) e posto Sinuelo Sul em Araquari (SC). 

Em Registro, o carregamento ocorreu em pouco mais de uma hora, já que se tratava de uma estação de carregamento rápida da EDP; em Campina Grande do Sul, a estação de carregamento era do tipo wallbox, muito lenta; e em Araquari, novamente carregamento rápido do eletroposto Celesc. A expedição chegou ao hotel Slaviero, em Florianópolis, por volta das 21h, onde o EV6 foi conectado a uma estação também lenta do tipo wallbox.

De Florianópolis a Porto Alegre

A segunda etapa da viagem compreendeu o trecho de 454 km entre Florianópolis e Porto Alegre (RS). O EV6 largou com autonomia de 514 km, suficiente para alcançar a capital gaúcha. No entanto, havia sido programada uma parada, de modo a chegar ao Hotel Deville, onde também existe um ponto de carregamento, com a maior autonomia possível, o que evitaria uma espera mais longa. 

Ainda assim, a expedição optou por fazer duas paradas por pura precaução: uma no posto Ipiranga Cabeçudas, em Laguna (SC), e outra no posto Petrosimon, em Maracajá (SC).

De Porto Alegre a Pelotas

No trecho de 263 km entre Porto Alegre a Pelotas (RS) não foram realizados recarregamentos. Após abastecer na estação do tipo “wall box”, de 11 KWh, no estacionamento do Hotel Deville, a expedição seguiu direto para o hotel Jacques Georges, em Pelotas, a penúltima cidade antes de cruzar a fronteira com o Uruguai.

Lá o EV6 pernoitou conectado a uma estação comum de 220 volts, de apenas 1 kWh. O objetivo inicial era fazer o carregamento no estacionamento da Unimed Pelotas – o ponto havia sido desativado, enquanto o mapeamento o indicava como ativo.

De Pelotas ao Chuí

O quarto trecho, entre as cidades gaúchas de Pelotas e Chuí, foi o mais desafiador. São 260 km de distância e a autonomia anotada no hotel Jacques Georges era de 239 km. A próxima parada foi no Paradouro Costa Doce, no Taim, a 142 km. Pouco antes do almoço, a expedição chegou no posto com apenas 69 km de autonomia, quando – na realidade – o correto era ter chegado com 97 km (239 – 142 = 97 km). 

“Acontece que a maneira de conduzir o veículo não altera a distância, mas pode alterar a autonomia e foi exatamente isso que ocorreu”, analisa Márcio Alexandre, engenheiro da Kia. Ele explica que se o veículo tivesse sido conduzido de maneira econômica, haveria um ganho na autonomia e, consequentemente, economia de tempo, com uma recarga mais rápida.

Por conta do carregador comum de 220 volts no Paradouro Costa Doce, o EV6 permaneceu naquele local das 11h30 às 19h, já na escuridão dos Pampas. E ainda com apenas 118 km de autonomia, em vez dos 130 km previstos, devido às fortes oscilações na rede de energia do posto. 

Diante desse cenário, uma decisão foi tomada: o experiente piloto e expert em pneumáticos, Cesar Urnhani, sugeriu elevação da pressão dos pneus e adotar modo de condução do automóvel mais econômico, para vencer os 118 km restantes. 

Dessa forma, Chuí brasileira e Chuy uruguaia foram alcançadas com êxito para, na sequência, ter mais um obstáculo.

Chegada ao Uruguai

Do Paradouro Costa Doce ao Posto Ancap Chuy, já em território uruguaio, foram percorridos 120 km. O EV6 estacionou diante da estação de carregamento do ANCAP com 28 km de autonomia. 

Foi registrado um ganho de 26 km somente com a maneira de dirigir. Nos trechos anteriores, o saldo de autonomia foi negativo, em razão do modo de condução, subidas, trânsito em alguns trechos. No trecho de 120 km, o saldo foi positivo.

Diante de uma estação de recarga da UTE , a companhia de energia do Uruguai,  uma grande surpresa: a estação não tinha o cabo de conexão com o veículo – o escritório regional da UTE em Chuy retira o cabo de conexão durante o período noturno. Assim, a equipe teve de voltar para pernoitar em Chuí, no Brasil.

 O reabastecimento foi realizado no dia seguinte, no período da tarde, por mais de três horas e meia, para chegar à autonomia de 340 km e vencer a distância de 327 km.

Em Montevidéu, o EV6 foi direto para o posto de abastecimento da Anca para carregamento total. Fim da primeira etapa. Em paralelo, a Kia Uruguay, empresa pertencente ao Grupo Gandini, providenciava a aquisição de um cabo de conexão, para o caso de haver outros imprevistos.

Jornalistas uruguaios

O projeto Kia EV6 Experience contemplou também uma sessão de test-drive com os jornalistas uruguaios Maximiliano Alegre (Exóticos UY) e Nicolas Scheck (Autoblog Uruguay), em percurso aproximado de 400 km, entre Montevidéu e Punta Del Este, passando por trechos de serra da cidade de Minas e litorâneo de Punta Ballena.

Com autonomia de 530 km, o EV6 poderia ter feito o percurso ida e volta sem carregamento adicional. Mas próximo a Punta Ballena, durante o almoço, o SUV foi recarregado por 1h20, chegando à autonomia de 526 km para vencer o percurso de volta.

Kia EV6 2022

A volta para o Brasil

Na noite de 23 de março, foi realizada a recarga completa do EV6 na estação do Parque Rodó, em Montevidéu, para, no dia seguinte, iniciar a viagem de retorno ao Brasil, passando novamente por Chuí, Pelotas, Porto Alegre, Florianópolis e, finalmente, alcançar a cidade de Itu, onde fica a sede da Kia Brasil. Saída de Montevidéu com autonomia de 526 km.

A viagem de volta transcorreu sem incidentes. Os integrantes da expedição entenderam que o EV6, 100% elétrico, de elevada autonomia está preparado para a mobilidade sustentável, uma realidade se aproxima para os brasileiros. 

No entanto, há muito o que se debater sobre a infraestrutura de recarga de baterias. Diferentemente de viagens com automóveis a combustão interna, os veículos elétricos precisam ter postos pelo menos a cada 200 km e com maior número de pontos de recargas nessas estações.

Escrito por

Paulo Silveira Lima

Jornalista com 20 anos de experiência profissional como repórter nas principais redações de jornais do Brasil, como Gazeta Mercantil, Folha SP, Estadão e Jornal do Brasil e em cargos de coordenação, edição e direção. Formado em Jornalismo pela Caśper Líbero.

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