Após a grande queda verificada no mês de abril, a indústria automotiva apresentou números bem melhores em maio, crescendo 27% (produção) e 9,8% (vendas) em relação ao mês anterior. A grandeza dos números poderia indicar uma significativa recuperação, o que não é o caso: o setor continua patinando e ainda não conseguiu superar os efeitos da pandemia. Entenda.
Dados de maio mascaram os problemas que a indústria automotiva tem enfrentado
Abril de 2023 foi um mês especialmente ruim para a indústria, que caiu 19,2% e 19,4% em vendas e produção, respectivamente. Isso se deveu principalmente à grande quantidade de paralisações de fábrica e do menor número de dias úteis, visto que houve três feriados durante o mês.
Portanto, o acréscimo de vendas em maio não foi suficiente sequer para cobrir o buraco aberto no mês anterior. Por sua vez, a produção teve um acréscimo significativo devido exatamente ao maior número de dias com as fábricas em funcionamento – sem paralisações ou feriados em excesso.
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Em coletiva de imprensa nesta terça-feira (6), o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Marcio de Lima Leite, reforçou que mesmo com os números melhores em relação a abril, este foi o 3º pior mês de maio desde 2006.
Quando eclodiu a pandemia de Covid-19, no início de 2020, a indústria automotiva foi um dos setores mais afetados. A cadeia de suprimentos, que tem caráter global, principalmente no que se refere aos componentes eletrônicos, foi quebrada – o microchip fabricado na China, por exemplo, escasseou, impedindo a montagem de veículos. Por sua vez, as restrições à circulação nas cidades levaram à queda drástica da demanda por carros.
Dessa forma, em maio daquele ano, foram emplacados apenas 62 mil veículos no Brasil. A quantidade vendida no maio anterior havia sido de 245 mil. Em maio de 2023, foi registrado o emplacamento de 177 mil veículos. Portanto, o mercado automotivo está num nível 27,8% abaixo do verificado no período pré-pandemia.
No acumulado do ano, os números continuam positivos. A produção atingiu 943 veículos, com aumento de 6,2% sobre o mesmo período de 2022, e as vendas cresceram 9,3% (809 mil unidades), tornando factíveis as modestas metas traçadas pela Anfavea para 2023.
Estoques em alta
Segundo destacou o presidente da Anfavea, no mês passado o mercado funcionou em compasso de espera, em função da expectativa de redução de preços – cujo pacote foi finalmente anunciado na segunda-feira (5) pelo governo federal. Com a produção crescendo mais do que as vendas (27% x 9,8%), o efeito foi o aumento dos veículos em estoque, da ordem de 45 mil unidades (de 206,1 mil para 251,7 mil).
Porém, Lima Leite minimizou esse dado. “Desses 251,7 mil veículos, 115 mil são elegíveis ao pacote de redução de preços do governo”, disse, indicando a expectativa de que o consumidor voltará à compras a partir desta semana.
A coletiva de imprensa, que ocorreu de forma virtual via YouTube, contou com uma breve participação do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, que também ocupa o cargo de ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Alckmin detalhou o pacote de incentivos à indústria automotiva, formalizado por Medida Provisória publicada nesta terça, destacando os seus pontos positivos.
“É um programa inteligente, pois leva em consideração três fatores: o social (ao conceder maior desconto quanto menor é o preço do veículo), o ambiental (quanto menos polui maior é o desconto) e a densidade (o desconto sobe quanto maior for a proporção de componentes nacionais no veículo)”, afirmou o ministro.
O programa de incentivos federais concede descontos de R$ 2 mil a R$ 8 mil, por meio da concessão de créditos tributários às montadoras, nas compras de veículos realizadas nos próximos 120 dias.