Hidrogênio, biodiesel e até fezes: combustíveis alternativos ajudam a preservar o meio ambiente
Apesar disso, tecnologias não devem substituir gasolina, diesel e etanol tão cedo
Hidrogênio, biodiesel, eletricidade, lixo e até fezes. A busca por novas fontes de energia, em substituição aos combustíveis tradicionais (gasolina, etanol e óleo diesel) não para. Apesar de serem opções eficientes, especialistas não acreditam que muitos deles irão se popularizar a curto ou médio prazo. “Um dos motivos é o preço do barril do petróleo, que tende a continuar baixo por um bom tempo. Somente quando o valor dele é maior que US$ 70 (cerca de R$ 251) é que costuma-se viabilizar novas alternativas”, explica Mauricio Trielli, professor do curso de Engenharia Mecânica da Fundação Educacional Inaciana (FEI).
Hidrogênio
Os veículos movidos a hidrogênio, livres da emissão de gases tóxicos, podem funcionar de duas formas. A primeira consiste em usar o hidrogênio comprimido (criogênico), que é liquefeito por meio de temperaturas baixas. “Ele é utilizado de forma semelhante ao gás natural veícular (GNV). Isso significa que é dosado por injetores montados nos coletores de admissão, pórticos ou mesmo no interior dos cilindros (injeção direta)”, diz Trielli.
A tecnologia também pode ser colocada em prática usando o hidrogênio como elemento produtor de energia elétrica, por meio das denominadas células de combustível. “É importante lembrar que este é um elemento difícil de ser obtido diretamente da natureza, e sua produção por eletrólise ou fotólise é onerosa e também potencialmente poluente”, ressalta o professor.
Toyota e Honda, inclusive, têm projetos com este tipo de combustível: Mirai e Clarity Fuel Cell, respectivamente. O primeiro foi apresentado em novembro de 2014 e, desde fevereiro do ano passado está sendo produzido no Japão. O modelo da Honda, também à venda no país do sol nascente, tem autonomia de aproximadamente 750 km.
Biodiesel
O funcionamento dos carros a base de biodiesel, combustível biodegradável derivado de fontes renováveis como óleos vegetais e gorduras animais, é semelhante ao dos com sistemas alimentados por óleo diesel.
Apesar de diminuir a emissão de dióxido de carbono (CO2) e já ser encontrada em alguns lugares do Brasil, Trielli ressalta algumas dificuldades da tecnologia: “Seria necessário plantar uma área imensa do planeta com oleaginosas ou ter gordura animal disponível em abundância para uma substituição, ainda parcial, do óleo diesel”, afirma.
Entretanto, o especialista garante que este é o melhor combustível para veículos de transporte de cargas leves e meio-pesadas que usam óleo diesel em seus motores de ignição espontânea. O combustível liquido é renovável, de alto número de cetano e tem potencial poluidor menor do que o óleo diesel de origem fóssil.
Gás natural veicular (GNV)
Dentro as fontes de energia alternativas citadas nesta matéria, o gás natural veicular é o mais comum. Ele, de acordo com a Companhia de Gás de São Paulo (Comgás), emite em média 15% a menos de CO2 em relação ao etanol e 20% a menos na comparação com a gasolina. A empresa explica que trata-se de um combustível limpo e, devido à sua composição, produz queima uniforme, com redução de fuligem, particulados e outras substâncias que prejudicam o meio ambiente.
Para que o carro funcione com ele, é necessário fazer a conversão em oficinas especializadas. Atualmente, utiliza-se mais comumente o Kit GNV de Geração 5, composto de diversas peças como chave comutadora, bicos injetores, válvula de abastecimento, redutor de pressão, tubulação, variador de avanço e, o mais importante, o cilindro, que vai instalado no porta-malas.
Com este sistema, a partida do veículo é realizada pelo combustível original (gasolina ou etanol). Após o motor atingir a temperatura ideal, que gira em torno de 90ºC, é que o gás entra em operação. “O ideal é que os carros sejam redimensionados para o uso desse combustível e não simplesmente objetos de uma adaptação feita em motores originalmente movidos a etanol e/ou gasolina”, comenta o professor de engenharia mecânica da FEI.
Eletricidade
Os carros elétricos vieram para ficar, tanto que praticamente todas as montadoras já invetem neste tipo de tecnologia. E tem modelos rodando até no Brasil como o Nissan Leaf, os BMW i3 e i8 e os Renault Twizy e Zoe. Estes veículos tem como diferencial a não utilização de propulsor a combustão. Em seu lugar, são empregadas baterias de íon-lítio, que geram energia para o funcionamento do motor e, normalmente, podem ser carregadas de duas formas: na tomada convencional de 110 V ou 220 V e nos quick charges (centrais de carga rápida).
Na comparação com os automóveis movidos a gasolina ou etanol, os que rodam com eletricidade têm uma série de vantagens como a não emissão de poluentes e um deslocamento mais barato e muito mais eficiente. Mas tem algo que pesa contra eles: os preços elevados. A torcida é para que, com a resolução da Câmara de Comércio Exterior (Camex), que elimina o imposto de importação cobrado para estes, os valores se tornem mais acessíveis.
Exóticos
Pelo mundo, profissionais do setor automotivo, pesquisadores e curiosos trabalham no desenvolvimento de outras fontes de energia. Em 2009, um grupo de engenheiros da Califórnia, nos Estados Unidos, desenvolveu um veículo movido a lixo. Para fazer o carro funcionar foi necessário colocar um forno no bagageiro, onde é jogado o lixo que alimenta o veículo.
Conforme o material vai queimando, o sistema extrai o vapor gerado. Tubos instalados direcionam o gás ao carburador, assim, o efeito é similar ao dos outros combustíveis. Apesar de ser inovador, o projeto ainda não obteve resultados bons o suficiente para sair do período de testes.
Na Inglaterra, a empresa GENeco Sustainable Solutions, desenvolveu veículos movidos basicamente a fezes. Para rodar, eles utilizam o gás biometano, que é gerado por meio da decomposição do cocô, de alimentos e materiais encontrados em esgotos.
Apesar de parecer algo extremamente fedido e desconfortável, seu processo não libera nenhum tipo de odor. Antes de serem utilizadas, as substâncias passam por uma espécie de tratamento que retira cheiros. Até agora, a empresa já testou o Bio Bus e o Bio Bug. O primeiro é um ônibus (Scania Enviro 300), com espaço para 41 pessoas. O segundo é um Volkswagen New Beetle adaptado para funcionar com a tecnologia ecológica.