A Harley-Davidson vive uma disputa interna que vai além dos motores e cromados. Dois grandes investidores — H Partners Management e Purple Chip Capital — estão unindo forças para pressionar a diretoria da marca, exigindo a saída imediata do CEO Jochen Zeitz e de dois membros do conselho: Thomas Linebarger e Sara Levinson.
Tudo começou quando a H Partners perdeu seu assento no conselho após seu representante pedir demissão, em protesto por não ter influência na escolha do novo CEO. Agora, com a entrada da Purple Chip, que detém cerca de 1% das ações da Harley, a pressão aumentou.
As principais críticas dos investidores
Harley- Davidson – Imagem gerada por IA – Foto: Garagem360
Segundo os dois grupos, a Harley-Davidson estaria desviando dos princípios que a tornaram um ícone. Eles acusam a atual gestão de abandonar a identidade da marca e negligenciar a cultura que sempre envolveu o universo Harley.
📌 Reclamações principais:
Estratégia Hardwire considerada equivocada
Perda de identidade clássica da marca
Falta de foco na rede de concessionárias
Desprezo por modelos clássicos e acessórios de qualidade
Os investidores querem o fim imediato da linha elétrica LiveWire, alegando que ela vai contra o que os clientes esperam da Harley-Davidson. Na visão deles, motocicleta elétrica não combina com a “potência americana bruta” que tornou a marca famosa.
🛑 Eles pedem:
O encerramento da produção da LiveWire
O retorno da Sportster 883 como modelo de entrada
O relançamento de motos com foco em cromados, aço e couro
Uma reformulação geral da linha de produtos
O outro lado da história: mercado, futuro e realidade
É aí que entra a contradição. Os problemas da Harley-Davidson não surgiram porque a marca se afastou das suas origens. Na verdade, muito do que pesa nas finanças da empresa vem do excesso de apego ao passado.
O público clássico está envelhecendo. Motos de R$ 200 mil não são acessíveis para quem está começando. O que o mercado pede são motos mais simples, mais leves, mais baratas — e não uma volta à década de 80.
🚨 Onde o mercado cresce hoje?
Motocicletas entre 300 e 500 cc
Modelos com baixo custo de manutenção
Segmento urbano, com foco em eficiência e preço
Exemplo: Triumph 400, Royal Enfield, Yamaha e Honda em baixa cilindrada
Tentar ressuscitar a Sportster 883 como “porta de entrada” mostra total desconexão com o consumidor atual. Isso pode até funcionar em discurso de acionista, mas não no showroom.
E a LiveWire?
Encerrar a LiveWire seria um tiro no pé. Ela pode não ter acertado a mão em sua estreia, mas representa o que todas as grandes marcas estão buscando: um braço moderno, sustentável e inovador. A tecnologia está longe de ser perfeita, mas é necessária para manter a Harley competitiva nas próximas décadas.
Investir em pesquisa e desenvolvimento não é um erro — é uma obrigação para qualquer fabricante de veículos. A Harley precisa aprender com os erros da LiveWire, não apagá-la do mapa.
A desconexão está em outro lugar
No fim, a Purple Chip Capital encerra sua crítica afirmando que a diretoria está “claramente desconectada” do espírito Harley. Mas, na prática, são os próprios investidores que parecem estar fora de sintonia. Eles pedem um retorno ao passado, mas o que a marca precisa é justamente o contrário: se reinventar sem perder a alma.
As cruisers ainda estão no catálogo, as baggers continuam em destaque, e os cromados seguem firmes. Mas é preciso ir além disso. A nostalgia é um tempero, não a receita principal. E insistir no que já não funciona pode custar o futuro da Harley-Davidson.
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