Ford vs. Ferrari: como o Ford GT40 se tornou uma lenda das pistas e conquistou as ruas como GT
Em 1963, Henry Ford II, neto do fundador da Ford, desejava ter mais sucesso nas 24 horas de Le Mans. A ideia foi comprar a Ferrari, mas não deu muito certo.
Neste mês, o filme Ford vs. Ferrari entrou em cartaz no Brasil. Estrelado por Matt Damon e Chistian Bale, o longa conta a história de uma das maiores rivalidades da história do automobilismo. A balhata entre as duas montadoras teve o auge durante as 24 horas de Le Mans, quando a Ford conseguiu vencer a prova de resistência com o seu GT40, que viria a se tornar uma lenda das corridas e um dos grandes supercarros recentes, quando se transformou no Ford GT.
Projeto Ford GT40
Em 1963, Henry Ford II, neto do fundador da Ford, desejava ter mais sucesso nas 24 horas de Le Mans. Seu principal objetivo era comprar certa equipe italiana, a Ferrari, que já era conhecida pelos títulos na Fórmula 1, além dos da prova de longa duração mais famosa do mundo.
Seus planos fracassaram quando Enzo Ferrari recusou a proposta e decidiu continuar com sua companhia. Henry, então, decidiu criar seu próprio protótipo para a competição. O carro que nasceria dessa ideia foi o Ford GT40, ícone que se consagrou nas pistas e, após perder o numeral do nome, se transformou em um dos melhores supercarros dos últimos anos.
Já que não seria mais possível adquirir a marca do cavalinho rampante, os planos da Ford tomaram um novo caminho. Executivo-chefe da montadora na época, Lee Iacocca queria construir um carro moderno e rápido. Após diversos protótipos, muito estudo e muita preparação, o GT40 nascia em 1964.
O 40 de seu nome era uma referência a altura do modelo em polegadas, ou 1,02 m. Seu motor era um V8 de 4,7l e ficava na posição central-traseira. Com 309 cv de potência, sua velocidade máxima ficava próxima aos 320 km/h.
Em sua primeira aparição em Le Mans, o resultado não foi o melhor. A montadora viu seus três carros abandoarem. Apesar da derrota, o modelo tinha desempenho promissor, principalmente na grande reta Mulsanne.
Início do domínio
Para 1965, novas versões do GT40 foram feitas. A Mark I A trocava o motor por um de 4,7l emprestado do Shelby Cobra. Já o Mark II tinha um imenso propulsor de 7,0l de 485 cv. Apesar das novidades, novas quebras impediram o primeiro triunfo do esportivo em Le Mans.
Após os fracassos dos dois primeiros anos, quatro carros foram inscritos para a corrida de 1966. A vitória finalmente foi alcançada com Bruce McLaren – o fundador da equipe de F1 – e Chris Amon. Em segundo e em terceiro ficaram outros dois GT40, que comprovou o domínio do modelo. Henry Ford II finalmente se vingava da Ferrari.
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As vitórias, porém, não acabaram ali. Em 1967 a versão Mark IV venceu novamente a prova, feito repetido em 1968 e 1969 — essa última com um Mark I. O GT40 entrava para a história como uma das lendas das 24 Horas de Le Mans, que depois viu um longo domínio da Porsche.
Para as ruas
A primeira derivação do GT40 feito para as ruas foi de uma versão Mark I. O objetivo da marca era fazer um pé de meia com as vendas, ajudando nos gastos da versão de corrida. Depois, o Mark III foi lançado exclusivamente como versão civil entre 1967 e 1969.
Após várias décadas sem um superesportivo, o modelo renasceu como conceito em 2002. Essa seria apenas uma homenagem aos 100 anos da Ford, mas fez tanto sucesso que virou um modelo de produção.
Foi assim que, em 2004, o Ford GT foi lançado com visual retro e inspirado na lenda das pistas. Porém, o nome GT40 não pôde ser usado por conta de um problema de patente – alguém registrou o nome e impediu que a marca o utilizasse.
Isso não foi problema para o carro. Além do design clássico, o motor era um V8 de 5,4l com supercharger. Ele rendia 558 cv de potência e tinha 69,1 kgfm de torque. A reencarnação do GT40 foi um sucesso de crítica e público, e é candidato a futuro clássico.
De volta às origens
O primeiro GT ficou em produção até 2006 e, por mais que tenha sido um sucesso, ele não foi criado para ser um modelo de competição. O esportivo até chegou a participar de algumas corridas, mas ele foi pensado como um carro para as ruas.
Era preciso voltar às origens do clássico GT40. Como a Ford estava querendo um novo modelo para competir nas provas do mundial de endurance, a solução foi desenvolver um carro de corrida que pudesse ser homologado também para as lojas.
Foi assim que em 2016 uma nova versão do Ford GT foi criada. Com visual mais agressivo, ele até tem linhas que remetem ao clássico dos anos 1960. Porém, ao contrário do modelo da década passada, seu objetivo é vencer corridas.
A modernidade não está só em seu desenho. Em vez de um propulsor V8, o novo GT é equipado com um V6 Ecoboost de 3,5l com dois turbos. Com isso, ele rende 656 cv e tem torque de 74,6 kgfm.
Volta ao topo
O instinto vencedor de seu antepassado também apareceu na versão moderna. Ele já venceu às 24 Horas de Le Mans de 2016 e ficou em segundo na de 2017, pela categoria GTE Pro. Não teria homenagem maior para o legado do GT40, que há 50 anos dominava a prova francesa e se tornava uma das maiores lendas do esporte a motor.
Jornalista formado na Universidade Metodista de São Paulo e participante do curso livre de Jornalismo Automotivo da Faculdade Cásper Líbero, sou apaixonado por carros desde que me conheço por gente. Já escrevi sobre tecnologia, turismo e futebol, mas o meu coração é impulsionado por motores e quatro rodas (embora goste muito de aviação também). Já estive na mesma sala que Lewis Hamilton, conversei com Rubens Barrichello e entrevistei Christian Fittipaldi.