Dirigir na “mão inglesa” torna a condução estressante

Adaptação ao modelo britânico de estradas e carros é complicado e exige atenção do motorista

Apesar de não pertencer mais ao Reino Unido, a Irlanda (do Sul) possui algumas características dessa época. Uma herança, que permanece até hoje, é o trânsito: o volante fica do lado direito do carro e a direção das ruas (chamada de “mão inglesa”) é invertida em relação ao modelo brasileiro. Para alguém acostumado com o estilo tupiniquim de dirigir, como eu, guiar nesse ambiente foi desafiador e exigiu muita atenção aos detalhes, tornando a atividade tensa. Entretanto, nem o olhar atento impediu “pequenos erros” – como entrar na contramão.

A primeira surpresa foi o próprio câmbio do automóvel, um Hyundai i10 (que não existe no Brasil). Apesar de o volante ser do lado direito, a alavanca é idêntica às que equipam os modelos que estão à venda na nossa terra natal. Na prática, isso faz com que a primeira marcha seja posicionada na direção oposta à perna do motorista (ou “para fora”). Consecutivamente, a quinta também fica ao contrário.

Mão das ruas na Irlanda é invertida em relação ao Brasil

Mão das ruas na Irlanda é invertida em relação ao Brasil

Foi preciso assimilar todas essas diferenças da marcha rapidamente – e ainda aprender a fazer isso com a mão esquerda (provavelmente um pesadelo para a maioria dos destros). Outro detalhe confuso é o retrovisor interno. Como ele fica inclinado para o lado oposto, a visão da traseira muda. É difícil se acostumar, e na maior parte do tempo ele acabou sendo apenas ignorado.

Já com o carro andando, precisei me atentar a todo o momento que a mão estava “errada”. Para alguém com anos de habilitação no Brasil, foi impossível “relaxar a e aproveitar a viagem”. Nos cruzamentos, especialmente confusos, a saída era seguir o carro da frente.

Falta de sinalização

Um problema do trânsito irlandês – que inclui a Irlanda do Norte – e dificulta a vida do motorista novato na região é a falta de sinalização. No Brasil, dá para saber que uma rua tem dois sentidos pela cor das faixas, que geralmente são amarelas. Já nesses países do norte isso não acontece – todas as faixas são brancas. Em alguns momentos tive de simplesmente contar com a sorte para adivinhar as “mãos da rua”.

Essa ausência de sinais, somada a quantidade de detalhes que o condutor não acostumado com a “mão inglesa” precisa levar em conta, levou ao pior erro de direção da viagem, que começou em Dublin, na Irlanda, e foi até Belfast, na Irlanda do Norte. Na ânsia de não perder uma saída da estrada, ninguém que estava no carro se atentou ao fato de que a rua não poderia ser acessada.

O erro só foi percebido quando outro automóvel, na direção contrária, deixou tudo bem claro com uma boa e velha buzinada. Neste momento, tive de fazer um balão no meio da estrada para corrigir a falha. Com isso, parei o trânsito por alguns segundos e diversos veículos foram obrigados a esperar, mas, felizmente, não houve nenhum acidente.

No Hyundai i10 irlandês, o volante fica do lado direito

No Hyundai i10 irlandês, o volante fica do lado direito

Dirigir já é uma atividade que exige atenção. Quando tudo fica “ao contrário”, então, essa atenção precisa ser redobrada e surge uma grande tensão. O ato de dirigir, que no Brasil é prazeroso, torna-se um desafio quando praticamente tudo fica do outro lado, e a sensação desagradável, provavelmente, deve se repetir com um britânico ou irlandês que tentar dirigir no Brasil.

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Flávio Carneiro
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Flávio Carneiro

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