Como a volta do horário de verão pode impactar rotina dos motoristas de aplicativo
Analisamos como a volta do Horário de Verão no Brasil afeta motoristas de aplicativo, impactando diretamente a segurança, a renda e a jornada de trabalho.
A possível volta do Horário de Verão no Brasil – uma medida ainda em avaliação pelo Governo, mas que periodicamente ressurge no debate – representa uma mudança no cotidiano que vai além da economia de energia. Para a crescente categoria de motoristas de aplicativos, que hoje contam com milhões de profissionais, essa alteração no relógio pode trazer impactos diretos na renda, na jornada e, principalmente, na segurança.
A dinâmica do trabalho por aplicativo é intrinsecamente ligada aos hábitos dos passageiros. Mudar a percepção de dia e noite em uma hora redistribui a demanda e impõe novos desafios logísticos aos condutores. Veja os principais pontos:
1. Renda e Demanda: O Deslocamento do “Pico”
O principal impacto do Horário de Verão é econômico, e se manifesta de duas formas:
Aumento da Demanda Noturna de Lazer
Com o relógio adiantado em uma hora, a noite de verão começa mais tarde. O final de tarde estendido com luz natural costuma incentivar atividades de lazer após o trabalho. Pessoas tendem a ficar mais tempo em parques, bares e restaurantes, atrasando o retorno para casa.
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Impacto Positivo: Isso pode levar a um aumento de corridas no período entre 19h e 23h, estendendo a faixa de “horário de pico” tradicional (fim do dia). Mais corridas nesse período, muitas vezes com tarifa dinâmica, podem significar um aumento no faturamento para o motorista.
Mudança no Horário de Ponta
Historicamente, o Horário de Verão foi criado para economizar energia, aproveitando a luz do sol para deslocar o pico de consumo para mais tarde. Embora a efetividade da medida para a rede elétrica tenha diminuído (o pico de demanda hoje é mais influenciado pelo uso de ar-condicionado à tarde), o comportamento de consumo de viagens muda:
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Impacto Neutro/Negativo: O pico da manhã (viagens para o trabalho), que já é lucrativo, se mantém. No entanto, o motorista precisa se reajustar para capturar o pico da noite, trabalhando em um horário que, na prática, é uma hora mais tarde em seu relógio biológico.
2. Segurança: Mais Horas de Luz, Menos Risco
Para uma categoria que lida com a insegurança urbana diariamente, o fator luz solar é um ponto crucial de atenção.
Maior Exposição à Luz Natural
O principal benefício para os motoristas é que a alteração faz com que o período de maior demanda da noite ocorra sob a luz do sol por mais tempo.
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Viagens de Retorno: Muitas corridas de retorno para casa, que antes seriam feitas já no escuro (entre 18h e 19h), passam a ser realizadas com visibilidade.
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Melhora na Percepção de Risco: A luz natural é um fator inibidor de crimes, tornando embarques e desembarques mais seguros e reduzindo a sensação de vulnerabilidade para o motorista. Muitos profissionais buscam evitar rotas e áreas de risco em horários de pouca iluminação. O Horário de Verão expande a janela de trabalho percebida como “segura”.
Jornada e Fadiga
Estudos sobre a plataformização do trabalho (como os do Ipea) mostram que motoristas e entregadores já enfrentam jornadas longas e extenuantes em busca de maior renda. A mudança de horário, mesmo que de apenas uma hora, pode afetar o ciclo de sono e a produtividade nos primeiros dias.
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Adaptação: O motorista precisa de um período de adaptação, o que pode aumentar temporariamente a fadiga no trânsito, elevando o risco de acidentes, principalmente no final de longas jornadas.
3. Logística e Adaptação
O motorista de aplicativo opera em um mercado com excesso de mão de obra, o que já pressiona as tarifas e a renda. A adaptação à mudança de horário exige uma estratégia de trabalho.
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Estratégia de Rota: Os motoristas precisam ajustar suas rotinas para priorizar as áreas de lazer e entretenimento que terão movimento estendido. O foco se desloca dos centros comerciais para bairros de bares e restaurantes, que se tornam o novo ponto focal do surge noturno.
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Comunicação com o Cliente: Embora o fuso horário seja ajustado automaticamente pelos aplicativos e pelo celular, o motorista pode se beneficiar de uma boa comunicação com os passageiros, especialmente aqueles que precisam de conexões de transporte (como rodoviárias e aeroportos) em áreas de fuso ou que não adotam o Horário de Verão.
A potencial volta do Horário de Verão no Brasil apresenta-se como uma “faca de dois gumes” para os motoristas de aplicativos. Por um lado, ela oferece o potencial de maior faturamento ao estender o período de alta demanda noturna e, crucialmente, proporciona uma camada extra de segurança ao adiar o anoitecer.
Por outro lado, a mudança exige um reajuste na rotina, que pode causar fadiga e exigir uma adaptação logística rápida para que o profissional possa se beneficiar das novas janelas de oportunidade.
Sou Robson Quirino. Formado em Comunicação Social pelo IESB-Brasília, atuo como Redator/ Jornalista desde 2009 e para o segmento automotivo desde 2019. Gosto de saber como os carros funcionam, inclusive a rebimboca da parafuseta.