Cinto de segurança é indispensável

O uso do dispositivo, inclusive no banco de trás, garante proteção ao motorista e aos passageiros

No mês passado, o caso do cantor sertanejo Cristiano Araújo chocou o Brasil. Ele e a namorada, Allana Moraes, circulavam sem o cinto de segurança no banco traseiro do veículo. Após o motorista perder o controle, o carro em que estavam capotou e os dois acabaram não resistindo aos ferimentos. O trágico acidente acabou levantamento uma questão importante, mas pouco discutida: a importância de se utilizar o dispositivo de segurança também nos assentos de trás.

Só para se ter uma ideia do descaso da população com este tema, um levantamento realizado pelo Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp) verificou que 53% dos passageiros não utilizam o mecanismo de retenção obrigatório quando circulam no banco traseiro. A pesquisa, feita nos 6,4 mil quilômetros do Programa de Concessões Rodoviárias do Estado de São Paulo, que é composto por 45 estradas, também constatou que 15% dos passageiros do banco dianteiro e 13% dos motoristas ainda ignoram o uso da proteção.

Outro estudo, este elaborado pela Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), indica que o cinto de segurança consegue diminuir o risco de mortes no banco traseiro em 75% e reduz em 45% as chances de óbito do motorista e dos passageiros do banco da frente em casos de acidentes.

Dirceu Rodrigues Alves Junior, chefe do Departamento de Medicina de Tráfego Ocupacional da Abramet, explica que, no momento da batida, as pessoas são projetadas para cima ou para frente, com uma força que equivale a 20 vezes o peso delas. “Quem está no banco de trás pode sofrer politraumatismos e ser ejetado do veículo, o que quase sempre resulta em óbito”, explica.

O especialista diz ainda que, em casos de frenagem brusca ou colisão, o passageiro do banco traseiro acabará prejudicando quem está sentado na frente. “Isso porque ele irá colidir diretamente com o encosto do banco dianteiro, podendo causar traumatismo craniano e na coluna cervical. Em alguns casos, a pessoa ficará tetraplégica”, afirma.

Uso do cinto de segurança no banco traseiro diminui as chances de morte | Foto: MorgueFile

Rafael Braga, de 32 anos, sobreviveu a um sério acidente em 2003. Ele estava no banco de trás sem o cinto de segurança quando o veículo colidiu a 209 km/h. “Sofri muitos danos por estar sem o equipamento. Tive politraumatismo no braço, perna, fêmur, tornozelo, bacia, costela e até na face”, conta o engenheiro elétrico de São Paulo. O impacto da batida também fez com que ele tivesse uma hemorragia no pulmão.

Apesar da situação complicada, Braga conseguiu se recuperar de todas as lesões. Vale salientar que sobreviver a uma ocorrência como esta, e não ter sequelas, é raro, mas o uso do cinto poderia ter evitado parte dos danos. “Hoje em dia procuro sempre estar de cinto, principalmente quando pego estrada”, garante.

Infração

Além de colocar a segurança em risco, o artigo 65 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) indica que transitar sem o cinto de segurança, nos bancos dianteiros e traseiros, é considerado uma infração grave. Quem for pego em flagrante recebe uma multa de R$ 127,69 e perde cinco pontos da Carteira Nacional de Habilitação (CNH).

Todos os passageiros do veículo devem usar o cinto de segurança | Fotos: sxc.hu

No ano passado, o Departamento Estadual de Trânsito (Detran) de São Paulo aplicou 149.113 multas referentes à falta do uso do cinto de segurança em perímetro urbano. Apesar das campanhas de conscientização, o número só diminuiu 1% em relação a 2013, que teve 150.622 violações. A Polícia Militar, os órgãos de trânsito rodoviários, o Departamento de Estradas e Rodovias (DER) e a Polícia Rodoviária Federal também fiscalizam esse tipo de infração.

Alves Junior, da Abramet, explica que é dever dos motoristas exigir que todos os passageiros estejam com o cinto de segurança devidamente colocado. “Os condutores aprendem sobre a importância do cinto antes de tirarem a CNH. Apesar das campanhas, uma iniciativa de educação no trânsito nas escolas e nas faculdades poderia ser uma boa opção para ajudar no processo de conscientização”, ressalta. Ele também acredita que a fiscalização e as punições para quem descumpre a lei deveriam ser mais severas.

 

Escrito por

Maria Beatriz Vaccari

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