Cinco motivos que fazem o carro elétrico chinês ser mais barato

Hoje,  o carro elétrico chinês é confiável, com design atraente, tecnologia de ponta e muito mais barato do que modelos de marcas tradicionais.

Quando surgiu nos mercados mais desenvolvidos, o carro chinês ficou estigmatizado por sua má qualidade, tecnologia antiga e aparência estranha. No entanto, as coisas começaram a mudar quando chineses agarraram as oportunidades oferecidas pela eletrificação. Hoje,  o carro elétrico chinês é confiável, oferece design atraente e tecnologia de ponta, além de ser muito mais barato do que modelos de marcas tradicionais.

O que faz o carro elétrico chinês ser mais baratos do que modelos premium, entregando o mesmo

O sedã elétrico chinês BYD Seal entrega o mesmo que marcas premium por um preço muito menor (Foto: Divulgação/BYD)

As razões para o sucesso chinês não são tão difíceis de explicar. Designers e engenheiros experientes, oriundos de empresas estadunidenses e europeias, foram atraídos para exercer suas atividades na China. E, em troca de salários vantajosos, esses profissionais passaram a orientar o desenvolvimento de veículos chineses muito avançados.

O design de produto, a qualidade e a dirigibilidade foram drasticamente aprimorados, tornando os modelos das marcas chinesas equivalentes (e algumas vezes até superiores) aos fabricados por marcas como BMW, Volvo, Toyota e Tesla. Com a vantagem de ter um preço significativamente menor que a concorrência.

As montadoras chinesas são capazes de produzir um veículo elétrico por € 10.000 (cerca de R$ 56 mil) a menos do que um BMW ou Volvo de configuração semelhante.

Veja cinco motivos que fazem o carro elétrico chinês ser mais barato:

1- Custos trabalhistas mais baixos

Os fabricantes chineses de veículos elétricos podem produzir carros elétricos mais baratos porque têm custos de pesquisa e desenvolvimento menores e custos trabalhistas mais baixos do que os rivais na Europa e nos EUA.

Os salários pagos na China, embora venham crescendo nos últimos anos, permanecem muito abaixo do que os pagos no Ocidente. Como o país é o mais populoso do mundo, seu estoque de mão de obra é gigantesco. 

Além disso, a maioria dos chineses era rural e ou pobre até a virada para o século 21, quando a migração interna virou de cabeça para baixo a distribuição demográfica, invertendo a relação rural-urbana. Esses imigrantes para cidades industriais geralmente estão dispostos a trabalhar muitos turnos por baixos salários.

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O piso salarial dos trabalhadores nas indústrias chinesas é de 2.360 yuans – o que equivale a US$ 330, ou R$ 1.575. O valor é similar ao do salário mínimo brasileiro. A diferença é que o operário chinês chega a cumprir turnos de 12 horas por dia, seis dias por semana – jornada semanal de 72 horas, enquanto no Brasil a jornada de trabalho não passa das 44 horas.

2- Isenção de taxas e impostos

A política de abatimento de impostos foi iniciada em 1985 pela China como forma de aumentar a competitividade de suas exportações, abolindo a dupla tributação de bens exportados. As mercadorias exportadas estavam sujeitas a 0% de imposto sobre valor agregado (IVA). 

Além disso, bens importados também são isentos de impostos. Isso ajuda a manter o custo de produção baixo.

3- Eficiência da cadeia produtiva

Linha de montagem da GWM, altamente automatizada (Foto: Divulgação/GWM)

A produção industrial não ocorre isoladamente, mas depende de redes de fornecedores, fabricantes de componentes, distribuidores, agências governamentais e clientes que estão todos envolvidos no processo de produção por meio da competição e da cooperação. 

O ecossistema de negócios automotivos na China evoluiu bastante nas últimas décadas e hoje é um dos mais eficientes do mundo, resultando em menores custos por carro montado. 

4- Baixa conformidade com as normas (compliance)

Espera-se que os fabricantes ocidentais cumpram certas diretrizes básicas com relação ao trabalho infantil, trabalho involuntário, normas de saúde e segurança, leis salariais e proteção do meio ambiente. Os fabricante chineses são conhecidos por não seguir a maioria dessas diretrizes.

Historicamente, as fábricas chinesas empregam trabalho infantil, têm longas jornadas de trabalho e não oferecem seguro de compensação aos trabalhadores. Algumas empresas chegam a ter políticas em que os trabalhadores são pagos uma vez por ano – uma estratégia para evitar que eles desistam do emprego antes de um ano. 

Além disso, as leis de proteção ambiental são rotineiramente ignoradas, permitindo que as fábricas chinesas reduzam os custos de gerenciamento de resíduos.

5- Controle da produção mineral de componentes das baterias

De acordo com uma pesquisa do jornal “The New York Times”, a China controla cerca de 41% da mineração mundial de cobalto e 28% do lítio, dois dos ingredientes-chave para as baterias de muitos carros elétricos. 

Além disso, o país refina cerca de 73% do cobalto e 67% do lítio do mundo. Também produz cerca de 77% dos cátodos e 92% dos ânodos, dois componentes essenciais nas baterias. Por isso, 6 em cada 10 células de bateria são fabricadas na China.

O controle sobre a linha de fornecimento de baterias tornou a China o lar do maior mercado de veículos elétricos do mundo. Até a fabricante americana de veículos elétricos Tesla montou uma fábrica em Xangai e vendeu 94.469 de seu Modelo Y na China no primeiro trimestre deste ano, mais do que nos EUA (83.664) e na Europa (71.114).

Os EUA, por exemplo, produzem menos de 2% do lítio mundial. A produção estadunidense de cobalto é ainda mais desanimadora: 0,4%. O fato de países como os EUA não terem suprimentos viáveis de metal é um dos principais motivos pelos quais seus veículos elétricos são tão caros.

“A China tem domínio sobre minerais críticos e uma indústria de manufatura robusta”, diz Zayn Kalyan, CEO da Infinity Stone Ventures, fornecedora de metais críticos para energia limpa com sede em Vancouver, no Canadá. “Eles chegaram a um ponto em que podem fabricar carros com eficiência, como smartphones, enquanto a América do Norte ainda está tentando reformular uma cadeia de suprimentos de fabricação desatualizada”.

Os chineses no Brasil

BYD Dolphin é modelo elétrico chinês com grande potencial de mercado no Brasil (Foto: Divulgação)

Quando os primeiros modelos começaram a aparecer no mercado brasileiro, nos anos de 1990, os carros chineses também foram desprezados no País, ganhando a fama de rústicos, desconfortáveis, pouco duráveis e inseguros.

Hoje, o jogo virou. Montadoras como BYD e GWM oferecem no Brasil carros elétricos de alta qualidade, com design atraente, bom acabamento e alta tecnologia, por valores muito mais em conta do que as marcas tradicionais do mercado.

Um dos vários exemplos, é o BYD Seal, que está prestes a desembarcar no País.

Escrito por

Paulo Silveira Lima

Jornalista com 20 anos de experiência profissional como repórter nas principais redações de jornais do Brasil, como Gazeta Mercantil, Folha SP, Estadão e Jornal do Brasil e em cargos de coordenação, edição e direção. Formado em Jornalismo pela Caśper Líbero.

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