Carro elétrico não é para o brasileiro? Veja o que pensa executivo da Stellantis

Principal executivo da Stellantis diz que o Brasil não precisa de carro elétrico, enquanto persegue planos de eletrificação na Europa e EUA.

Um dos maiores grupos da indústria automotiva global, a Stellantis se faz representar, no mercado brasileiro, por marcas como Fiat, Jeep, Peugeot, Citröen e Ram. Seu principal executivo, o português Carlos Tavares, disse esta semana, em entrevista ao jornal ‘Valor Econômico”, que o Brasil não precisa de carro elétrico. Na opinião do executivo, “o elétrico não faz sentido se comparado com o carro que pode rodar com 100% de etanol”.

Posição de chefe da Stellantis sobre o carro elétrico no Brasil causa polêmica

Vendido na Índia, o elétrico Citroën ë-C3 não é para o Brasil (Foto: Divulgação/Stellantis)

Para o CEO da Stellantis, o carro elétrico não faria sentido no País principalmente porque “é muito mais caro para a classe média”. O executivo disse, ainda, que, apesar de ser contra, a montadora não deixará de oferecer carros 100% elétricos no mercado brasileiro: “Não pretendo deixar esse nicho de mercado para meu concorrente, então estarei lá também”.

Na opinião do especialista em mercado automotivo e empresário Gustavo Ferreira os veículos a etanol oferecem a vantagem do menor tempo de abastecimento em relação ao carregamento do carro com motor alimentado pela energia de baterias. “Um carro convencional pode ser abastecido em 5 minutos ou menos, enquanto um carro elétrico pode levar pelo menos 1 hora para ter a bateria carregada – dependendo do tipo e da potência do carregador”, aponta.

Porém, de acordo com Ferreira, os veículos elétricos são mais resistentes do que os movidos a álcool: 

“Uma das vantagens dos carros elétricos é que, de certa forma, eles são mais resistentes que os a etanol. Primeiramente, vale destacar que o motor do carro elétrico é muitíssimo mais simples do que o tradicional, a combustão interna. Eles têm apenas uma peça móvel: um rotor, que gira dentro de um estator. Daí a durabilidade ser consideravelmente maior”, explica.

Visão de executivo para o Brasil contrasta com os planos da Stellantis para o mundo

Stellantis fatura com venda de Peugeot e-208 neste Brasil “que não precisa de carro elétrico” (Foto: Divulgação/Peugeot)

A  Stellantis anunciou, na última segunda-feira (27), investimentos de US$ 155 milhões na aquisição de participação acionária de 14,2% na McEwen Copper, subsidiária da mineradora canadense McEwen Mining, que possui projeto exploração de cobre na Argentina. Ressalte-se que o cobre é uma matéria-primeira estratégica para o futuro da mobilidade elétrica e estima-se que a demanda global pelo metal condutor triplicará nos próximos anos.

Na ocasião, Tavares declarou que a Stellantis estava “dando passos importantes com o objetivo de descarbonizar a mobilidade e de assegurar suprimentos estratégicos de matérias-primas necessárias ao sucesso dos planos globais de eletrificação da companhia”.

Segundo o seu plano estratégico de longo prazo ‘Dare Forward 2030’, a montadora prevê atingir, até o ano de 2030, 100% de participação de veículos elétricos a bateria (BEV) no mix de vendas de carros de passeio na Europa e de 50% no mix de vendas de carros de passeio e comerciais leves nos Estados Unidos.

Portanto, parece que, na visão da Stellantis, o Brasil não faz parte do jogo global e o consumidor brasileiro deverá se dar por satisfeito em absorver a produção de carros com os ultrapassados motores a combustão, que tantos ganhos financeiros têm rendido à empresa no País, enquanto em outros mercados os motoristas usufruem o melhor do que a tecnologia tem a oferecer. 

Por outro lado, seria possível inferir que a opinião do CEO tem pouca influência dentro na empresa (algo muito pouco provável), visto que a Stellantis comercializa no Brasil veículos como o Fiat 500e, que de acordo com o próprio Tavares não seria uma boa opção para a classe média brasileira.

Então, podemos concluir que as palavras de Tavares não traduzem suas reais motivações.

Escrito por

Paulo Silveira Lima

Jornalista com 20 anos de experiência profissional como repórter nas principais redações de jornais do Brasil, como Gazeta Mercantil, Folha SP, Estadão e Jornal do Brasil e em cargos de coordenação, edição e direção. Formado em Jornalismo pela Caśper Líbero.

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