Caros no Brasil, carros elétricos são realidade no exterior

Veículos ainda não são populares no mercado nacional, mas fazem bastante sucesso em outros países

Ainda distantes do consumidor brasileiro, os carros elétricos já são produtos habituais aos motoristas de outros países, como Estados Unidos e Canadá. Menos poluentes, e bem mais caros do que as versões abastecidas a etanol ou gasolina, eles podem chegar com mais intensidade ao Brasil nos próximos anos, e o Garagem 360 desvenda a engenharia por trás deste tipo de veículo.

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Nissan Leaf tem autonomia de bateria de até 160 quilômetros | Foto: Divulgação

A primeira coisa a entender é que estes automóveis dispensam o uso de combustível. Movidos à eletricidade, eles necessitam, unicamente, de uma tomada específica (mais robusta, como as de ar-condicionado) na voltagem correta (geralmente 220 volts) para serem abastecidos.

O processo de recarga leva de duas a oito horas para ser concluído e permite percorrer entre 80 e 500 quilômetros com apenas um abastecimento, dependendo do veículo. O Nissan Leaf, por exemplo, tem autonomia de 160 km, enquanto o Fiat 500e roda até 140 km sem precisar parar para abastecer.

A bateria, aliás, é o ponto que o diferencia de um modelo convencional. “Ela armazena a energia elétrica e é responsável por, pelo menos, 50% do valor cobrado pelo veículo”, afirma Celso Novais, engenheiro eletricista com especialização em eletrônica.

Segundo o especialista, outra distinção entre os carros tradicionais e os elétricos está na complexidade das peças. “O motor elétrico tem engenharia muito mais simples e usa muito menos partes do que o de combustão. Se desmontarmos ambos e colocarmos as peças dispostas em duas bancadas, a mesa que apoiará as do propulsor convencional precisará ser muito maior”, diz.

O profissional, que atualmente é coordenador do projeto de mobilidade elétrica da hidrelétrica Itaipu Binacional, em Foz do Iguaçu, no Paraná, relata ainda que o avanço da tecnologia e a finidade dos recursos naturais fazem dos propulsores movidos por eletricidade itens indispensáveis para o futuro. “O motor elétrico será uma realidade, pois não há para onde fugir. O petróleo irá se esgotar e o homem precisará recorrer à outras formas de energia”, prevê.

Como explica Handerson Gomes, professor do curso de Engenharia Mecânica do Centro Universitário Newton Paiva, em Minas Gerais, os carros elétricos funcionam de forma diferente dos tradicionais: “Eles trabalham por meio de campos magnéticos que são gerados por bobinas que, quando expostos à uma diferença de potencial, geram esse campo que se traduz em força”. Com isso, a força magnética gerada pela bobina do motor torna-se responsável por girar o eixo do propulsor e entregar o torque necessário para o sistema de transmissão.

Benefícios

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Carros elétricos são mais econômicos e menos poluentes que os movido a combustível fóssil| Foto: Divulgação

A lista de vantagens dos carros elétricos é grande, a começar pelo fato de eles geram economia para o bolso. Pelos dados de um estudo realizado pela Companhia Piratininga de Força e Luz (CPFL), com estes tipo de automóvel, o gasto com combustível é de cerca de R$ 0,05 por quilômetro rodado, enquanto os veículos movidos a etanol gastam, aproximadamente, R$ 0,19 pela mesma distância. Em uma conta rápida, a economia chega a ser quase quatro vezes maior com os movidos a eletricidade.

Fora isso, eles são menos poluentes do que os modelos tradicionais. Outro estudo, este feito em Roma, na Itália, revelou que se entre 10% e 20% das frotas municipais fossem de elétricos, as reduções nas concentrações de partículas que causam doenças respiratórias e cardíacas chegaria a 30%. Já a diminuição de dióxido de nitrogênio, potente gás tóxico, seria de 45%.

Assim como Novais, Gomes também acredita que os carros que utilizam combustíveis fósseis estão com os dias contados. “Por questões ambientais e limitação dos recursos energéticos, principalmente combustíveis fósseis, os veículos tradicionais não viverão por muitos outros anos.”

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Preço e popularização

O carro elétrico ainda é um item que está longe da realidade do consumidor brasileiro. Por exemplo, enquanto no Estados Unidos, o BMW i3 é vendido por US$ 42.400 (cerca de R$ 135,5 mil), no Brasil o valor cobrado é de R$ 225.950. Além disso, leis estaduais do país norte-americano permitem a redução de impostos que podem resultar em descontos. “Aqui, o preço é elevado por questões de investimento em pesquisa específica, regulamentação e logística, bem como custos e impostos de importação de equipamentos e instrumentação”, explica Gomes.

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Preço da bateria e os altos impostos ainda são um empecilho para a popularização do modelo | Foto: Divulgação

Em 2013, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) apresentou um plano que facilitaria a popularização desse tipo de automóvel no País. De acordo com o órgão, o projeto teria duas fases em que a primeira seria a criação de leis para o incentivo a importação de modelos e a segunda, em 2017, trataria a respeito da produção nacional dos veículos. Procurada para comentar a situação atual, a associação respondeu que o porta-voz oficial não estava disponível e que, por isso, não poderia se pronunciar.

No último dia 17, Luiz Fernando Pezão, governador do Estado do Rio Janeiro, esteve reunido com Joaquim Levy e Armando Monteiro, ministros da Fazenda e da Indústria, Desenvolvimento e Comércio Exterior, respectivamente, para discutir possíveis benesses para aumentar a industrialização de automóveis elétricos no estado. Segundo ele, o governo federal já estimula a produção de carros convencionais e seu plano é estender esse benefício também para os automóveis movidos com eletricidade.

A aposta do peemedebista é que a concessão de incentivos seja aceita pelos ministérios já que a mesma aqueceria a indústria automobilística, geraria empregos e poderia aumentar as exportações. A nova fábrica funcionaria com a marca da Nissan. Procurada, a montadora japonesa não se manifestou a tempo do fechamento desta reportagem.

Pontos de recarga

Além do valor cobrado, outro fator que impede a popularização dos electric cars por aqui é a falta de instalações e redes de reabastecimento. Uma viagem entre as capitais de São Paulo e do Rio de Janeiro tem cerca de 450 km e necessitaria da recarga da bateria durante o trajeto. O problema é que o Brasil ainda é carente das estações de reabastecimento elétrico – pelos dados da Associação Brasileira dos Veículos Elétricos, são apenas 50 pontos em todo o território nacional.

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Estações de recarga de bateria ainda são raras no Brasil | Foto: Divulgação

Para efeito de comparação, um tanque cheio de gasolina do Palio Fire 2015 (48 litros) tem autonomia de 480 km na cidade e 739 km na estrada e, mesmo se precisasse encher o tanque, postos de combustível não são difíceis de encontrar.

“Aumentar a rede é um dos desafios da ABVE e muitas parcerias estão sendo concretizadas nesse momento”, garante o órgão por meio de seu departamento de imprensa. A sociedade com o Shopping Pátio Paulista e a Scheneider-Eletric, por exemplo, que passaram a disponibilizar recarregadores no estacionamento do empreendimento comercial foi um dos exemplos citados pela entidade, assim como um projeto da CPFL para desenvolver eletropostos nas rodovias paulistas.

 

 

Rodrigo LoureiroRodrigo Loureiro é repórter do site Garagem 360 e da Agência Entre Aspas. Em 2014 atuou na redação do portal UOL Esporte e também já escreveu para as editorias de tecnologia e turismo de outros portais e publicações.
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