Especial: Conheça o Auto Union Type C, o carro de corrida que chegava a 340 km/h em 1936
O campeonato mundial de Fórmula 1 foi criado em 1950. Porém, antes dele, já existiam provas pela Europa em bólidos semelhantes aos da F1.
O campeonato mundial de Fórmula 1 foi criado em 1950. Porém, antes dele, já existiam provas pela Europa em bólidos com características semelhantes aos dos carros da categoria máxima do automobilismo. Lançado em 1936, o Auto Union Type C tinha um imenso motor de V16 de 527 cv. Com isso, ele chegava aos 340 km/h – em plena década de 30.
Influência de Hitler
É importante relembrar o contexto da época. Passada a Primeira Guerra Mundial, a Europa ainda tentava se reerguer quando aconteceu a quebra da bolsa de valores de Nova York, em 1929. Com o golpe na economia, DKW, Audi, Horch e Wanderer se uniram e criaram a Auto Union para encararem a nova realidade.
Com a fusão das empresas, o logotipo das quatro argolas foi criado – e cada uma representava uma das fabricantes. Enquanto essa união era feita, Adolf Hitler assumia o poder na Alemanha. Ele percebeu que as corridas poderiam ser uma propaganda para sua ideologia e ofereceu 500 mil Reichsmark para a Mercedes-Benz desenvolver um modelo vencedor.
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Quando estava quase tudo certo, Hitler mudou de ideia. Dividiu o valor por dois e deu metade à Mercedes. A outra parte destinou à Auto Union. Com o dinheiro em caixa, só faltava um projeto para a marca das quatro argolas. E foi justamente o fundador da Porsche – e criador do Fusca – quem ajudou no projeto.
Ajuda de Porsche
Ferdinand Porsche já era um engenheiro famoso, mas não havia criado suas duas maiores invenções. Nessa época, ele era ligado à Wanderer e topou fazer parte do projeto. O Type C foi projetado para ser um carro compacto, leve e potente.
Para conter custos, Porsche colocou o motor na traseira, contrariando o padrão da época, que era com o propulsor na dianteira e tração nas rodas de trás. O gigante de 16 cilindros em V e mais de 500 cv tinha 32 válvulas e seis litros de volume.
O que Porsche não sabia é que sua configuração se tornaria padrão dali a alguns anos na Fórmula 1, já que até hoje os carros da categoria usam o motor atrás do piloto, com a tração também sendo nas rodas posteriores.
Além da preocupação com a posição do motor, os engenheiros do Type C também se preocuparam com a aerodinâmica. Por isso a carroceria do modelo foi desenvolvida no Instituto Alemão de Aerodinâmica. Tudo para ter a maior eficiência possível.
Vencedor
No Grand Prix de 1936, o Type C venceu três das quatro corridas que valiam para o campeonato europeu, todas com o alemão Bernd Rosemeyer. Embora apenas as provas em Mônaco, Alemanha, Suíça e Itália contassem para o campeonato, diversas outras provas aconteceram pelo mundo.
De acordo com os registros da época, houve até uma corrida no Rio de Janeiro. Em junho de 1936, Vittorio Coppoli venceu a bordo de um Bugatti. O Auto Union Type C, porém, não participou dessa prova.
Legado
Três anos depois, em 1939, o Type D foi lançado e foi tão vencedor quanto seu antecessor, vencendo o Grand Prix daquele ano. Porém, com o começo da Segunda Guerra Mundial, as corridas ficaram em segundo plano. Quando a Fórmula 1 foi criada oficialmente, a Auto Union não estava no campeonato.
Mesmo assim, o Type C marcou época por ter conceitos inovadores em 1936. Sua potência e velocidade são impressionantes mesmo nos dias atuais, e seu design merece ser admirado por qualquer fã de automóveis.
Hoje a Auto Union não existe mais, já que foi comprada pela Volkswagen nos anos 1960. A Audi foi a escolhida para ser a representante da fusão e é a guardiã de alguns exemplares do Type C até os dias atuais.
Carros históricos
Na galeria, veja mais fotos do Auto Union Type C e também de outros carros históricos da Fórmula 1.
- Auto Union Type C |Foto: Divulgação
- Auto Union Type C |Foto: Divulgação
- Auto Union Type C e Type D |Foto: Divulgação
- Auto Union Type C e Type D |Foto: Divulgação
- Auto Union Type C |Foto: Divulgação
- Carros Históricos F1: Lotus 49: em 1967, Colin Chapman apresentou ao mundo o inovador Lotus 49; ele trouxe novos conceitos para a F1, sendo o primeiro carro a exibir uma marca de patrocínio; também ajudou a popularizar os aerofólios na categoria, além de mudar a posição dos radiadores da frente para as laterais, conceito usado até hoje |Foto: [email protected] / ProRallyPix via VisualHunt.com / CC BY-NC-ND
- Lotus 72: outra obra prima de Colin Chapman, o Lotus 72 inovou a aerodinâmica da F1; foi o carro que deu ao brasileiro Emerson Fittipaldi seu primeiro título na categoria, em 1972 |Foto: Plbmak via Visual Hunt / CC BY-NC-ND
- McLaren M23: lançado durante a temporada de 1973, o bólido foi responsável pelo primeiro título de pilotos da equipe um ano depois, nas mãos de Emerson Fittipaldi, que se sagrou bicampeão do mundo; em 1976, deu a James Hunt seu único título de pilotos; foi aposentado em 1977 | Foto: Sum_of_Marc via Visual Hunt / CC BY-NC-ND
- Lotus 79: Colin Chapman realmente era um visionário e, em 1978, apresentou o inovador Lotus 79, que tinha seu assoalho em formato de asa invertida, sendo o primeiro carro da categoria com o recurso; o resultado foi o título de pilotos, com o norte-americano Mario Andretti, e o de construtores para a escuderia | Foto: bobaliciouslondon via Visualhunt.com / CC BY
- Renault RS10: em 1979, a Renault entrou pela primeira vez na F1; embora nunca tenha sido campeã do mundo, a máquina foi a responsável por inaugurar a primeira era turbo da categoria, que durou até 1988 |Foto: bibendum84 via Visual Hunt / CC BY-SA
- Lotus 99t: último carro guiado por Ayrton Senna na Lotus, o 99t foi o primeiro a utilizar a suspensão ativa; apesar de a inovação não ter feito muito sucesso, ajudou o piloto brasileiro a conquistar suas últimas vitórias pela equipe |Foto: BYSER via VisualHunt / CC BY
- McLaren MP4-4: em 1988, a McLaren contratou Ayrton Senna para ser seu piloto, ao lado do bicampeão do mundo Allain Prost, formando uma das maiores rivalidades da história da categoria; arrasador, o MP4-4 sobrou naquela temporada, vencendo 15 das 16 corridas que disputou, fechando com chave de ouro a era turbo e dando ao brasileiro seu primeiro título|Foto: atomicjam via Visualhunt / CC BY-NC
- Williams FW14b: o inglês Nigel Mansell, em 1992, pôde, enfim, comemorar seu título mundial de pilotos; o FW14b venceu 10 das 16 corridas daquele ano, e trouxe inovações como suspensão ativa, cujo conceito foi ampliado depois do Lotus 99t, transmissão semiautomática e controle de tração |Foto: Dan Mumford via Visual Hunt / CC BY-NC-ND
- Ferrari F2002: símbolo do domínio que a Ferrari teve no começo dos anos 2000, o F2002 reinou absoluto na temporada daquele ano, vencendo 15 das 17 corridas disputadas e deu ao alemão Michael Schumacher seu quinto título |Foto: alessio mazzocco via Visualhunt / CC BY-NC
- Ferrari F2004: mais um carro dominante da Ferrari, o F2004 ajudou Schumacher a conquistar seu sétimo e último título, o quinto consecutivo; com o bólido, o alemão venceu 13 das 18 provas daquela temporada| Foto: emperornie via Visual hunt / CC BY-SA
- Red Bull RB7: Sebastian Vettel conquistou seu segundo título a bordo de uma máquina demolidora, em 2011; o RB7 venceu 12 das 19 corridas (sendo 11 com Vettel), além de conseguir 18 das 19 poles possíveis | Foto: nic_r via Visual hunt / CC BY-SA
- Mercedes-Benz F1 W05 Hybrid: primeiro carro campeão da nova era turbo da categoria, o bólido que deu o segundo título mundial para Lewis Hamilton conquistou 16 das 19 corridas de 2014, sendo pole em 18 das 19 etapas | Foto: nhayashida via VisualHunt.com / CC BY
- Mercedes-Benz F1 W06 Hybrid: carro vencedor de 2015, deu o terceiro título de pilotos ao inglês Lewis Hamilton, o W06 foi tão dominante que conseguiu 16 vitórias em 19 etapas e 18 poles | Foto: nhayashida via VisualHunt.com / CC BY
Jornalista formado na Universidade Metodista de São Paulo e participante do curso livre de Jornalismo Automotivo da Faculdade Cásper Líbero, sou apaixonado por carros desde que me conheço por gente. Já escrevi sobre tecnologia, turismo e futebol, mas o meu coração é impulsionado por motores e quatro rodas (embora goste muito de aviação também). Já estive na mesma sala que Lewis Hamilton, conversei com Rubens Barrichello e entrevistei Christian Fittipaldi.