Artigo: Reclamações de problemas em veículos provocam recalls
Por Vinicius Melo*
As queixas de consumidores são, na maior parte das vezes, a base dos processos de recall efetuados pelas montadoras. Essas queixas podem ser resultado de acidentes e incidentes envolvendo o veículo, ou até um simples mau funcionamento. Eventualmente, a própria montadora pode descobrir o problema e fazer o alerta.
No recente caso do Onix Plus, por exemplo, pode-se dizer que foi uma situação híbrida: além do incidente envolvendo uma unidade que se incendiou em plena estrada, uma outra pegou fogo no pátio da própria montadora. Constatado o problema, a empresa tomou rapidamente a iniciativa de proceder ao recall, que teve início em 18 de novembro de 2019.
O fluxo funciona da seguinte forma: a partir das questões relatadas, as montadoras fazem testes e exames para identificar a origem dos incidentes. Descoberta a causa, os órgãos governamentais são informados do problema, autorizam a realização do recall e, posteriormente, auditam as campanhas. A montadora promove, então, o chamamento para que os proprietários levem seus veículos para serem consertados no local por ela indicado.
A prevenção de acidentes que possam ter origem em alguma falha no veículo é o principal motivo dos recalls. O Código de Defesa do Consumidor (CDC) determina que uma empresa não pode colocar no mercado produto ou serviço que apresente alto grau de risco à saúde ou segurança das pessoas. E, quando o fornecedor tiver conhecimento de algum defeito após a venda do produto, é seu dever comunicar a existência da falha.
Vale lembrar que as montadoras são proibidas de cobrar para corrigir o problema. Elas também não podem impor nenhum tipo de punição (cobrança de taxa, por exemplo) a quem não levar o carro para o conserto ou demorar a fazê-lo. Assim, a maior dificuldade enfrentada pelos recalls ainda é a adesão, considerada baixa, o que eleva o risco de acidentes provocados por veículos em circulação com defeitos de fábrica.
Os números comprovam . No período de 2009 até o final de 2018 houve 701 recalls, dos quais 517 campanhas para o setor de automóveis, com 9.504.580 consumidores envolvidos e taxa de atendimento de 48,2%. De acordo com o Relatório de 2019, já foram contabilizadas 100 campanhas envolvendo 25 montadoras, mas ainda não há dados disponíveis sobre o grau de participação dos consumidores.
Numa tentativa de elevar a adesão, os ministérios da Justiça e Segurança Pública e da Infraestrutura editaram novas regras para o recall, em vigor desde outubro. Agora, o proprietário do veículo que não atender ao chamamento em até um ano terá registrado no licenciamento que o recall não foi feito, o que poderá até reduzir o valor do carro em uma eventual revenda.
*Vinicius Melo é CEO do Papa Recall – Aplicativoque avisa o motorista se o automóvel cadastrado teve algum chamado da fabricante para conserto ou troca de peças.
De dedo decepado a combustão espontânea: confira os recalls mais bizarros do Brasil e do mundo:
Fiat Tipo: depois que algumas unidades pegaram fogo sozinhas, a Fiat convocou um recall para substituir o tubo convergedor de ar quente do motor. Mesmo com a manutenção, alguns veículos continuaram pegando fogo, e foi preciso fazer um segundo chamado para consertar vazamentos de fluido da direção hidráulica, já que o líquido vazava pelo escapamento e provocava os incêndios
Fiat Tipo | Foto: Divulgação
Ford Pinto: o veículo, que foi barrado no Brasil por conta do nome sugestivo, protagonizou um recall polêmico nos Estados Unidos. Se o carro sofresse uma colisão traseira, o tanque de gasolina podia quebrar e causar uma explosão. Antes de colocar o modelo no mercado, a Ford já sabia do problema, mas fez as contas e percebeu que indenizar possíveis mortes e casos de queimaduras sairia bem mais barato do que regularizar a linha de produção. No final, depois de mortes e ferimentos graves, a montadora convocou as unidades para recall e teve que pagar milhões em indenizações | Foto: 2000Scooby via VisualHunt.com / CC BY-NC-ND
Citroën C3 Picasso: em 2011, 22 unidades da Inglaterra foram chamadas para recall por conta de um motivo um tanto o quanto exótico: quando o passageiro da frente pisava com força no assoalho do carro, era possível acionar o sistema de frenagem sem querer. Isso acontecia porque as versões inglesas tinham os volantes e pedais migrados para o lado direito da cabine, mas o mecanismo continuava passando por baixo do forro do assoalho da parte esquerda (do passageiro). A solução foi reforçar o isolamento dos fios | Foto: RL GNZLZ via VisualHunt / CC BY-SA
Mercedes-Benz Classe A: durante seu lançamento mundial em 1997, o modelo capotou quando participava do “teste do desvio do alce”. Para evitar que a situação se repetisse, a montadora implantou um sistema eletrônico de estabilidade e fez mudanças na suspensão sem alterar o valor final do carro | Foto: Carlos Octavio Uranga via Visualhunt.com / CC BY-NC-ND
Airbags mortais: Ao menos 16 pessoas morreram por conta das bolsas infláveis defeituosas da empresa japonesa Takata. Os itens projetaram fragmentos contra os ocupantes. O escândalo foi revelado em 2014 e já atingiu grandes montadoras, como Honda, Toyota, BMW e General Motors, que precisaram realizar convocações para recall de seus carros | Foto: Divulgação
Honda foi uma das atingidas pelos Itens defeituosos da Takata | Foto: Divulgação
Toyota Corolla: a má fixação do tapete do carro fazia o item deslizar e travar o pedal de aceleração do veículo. Algumas unidades aceleraram sozinhas e causaram acidentes graves. A Toyota convocou mais de 100 mil unidades brasileiras para fazer manutenções no sistema de fixação dos tapetes e explicar a forma ideal de posicioná-los | Foto: Divulgação
Toyota Corolla | Foto: Divulgação
Ford F-150 (Foto: Divulgação)
Ford F-150 | Foto: Divulgação
Chevrolet Sonic: logo após o lançamento do modelo nos Estados Unidos, a GM percebeu que mais de quatro mil unidades saíram de fábrica sem as pastilhas de freio. A falha afetava o desempenho do carro e virou motivo de recall | Foto: Divulgação
Chevrolet Sonic | Foto: Divulgação
Volkswagen Fox: mais de 500 mil unidades vendidas no Brasil contavam com um defeito que decepava a ponta dos dedos das pessoas que tentavam rebater os bancos do carro. Isso porque o sistema era um pouco “arisco” e funcionava como uma guilhotina. A montadora convocou o recall, modificou o sistema e incluiu avisos indicando a maneira correta de posicionar as mãos e os dedos durante a ação | Foto: Divulgação
Volkswagen Fox | Foto: Divulgação
Chevrolet Saturn Ion, Pontiac Pursuit, Pontiac G5, Cobalt, Saturn Ion, HHRs, Pontiac Solstice e Saturn Sky: outro caso polêmic é o recall de mais de um milhão de unidades da GM nos Estados Unidos. A montadora demorou mais de 10 anos para divulgar que os veículos tinham um defeito na ignição. A falha está relacionada a cerca de 13 mortes acidentais e rendeu uma multa de US$ 35 milhões à empresa norte-americana | Foto: Divulgação
Chevrolet Cobalt | Foto: Divulgação
Fiat Stilo: algumas unidades fabricadas entre 2004 e 2010 tinham um defeito que podia causar a soltura das rodas traseiras durante a condução. Depois do registro de acidentes, a Fiat convocou um recall imediato para substituir o conjunto do cubo da roda. A montadora ainda teve que pagar uma multa de R$ 3 milhões por colocar um produto com defeito de fabricação no mercado | Foto: Divulgação