Apuramos: indústria dos carros elétricos realmente compromete empregos?

O aumento dos carros elétricos não necessariamente será o responsável por demissões em massa dentro da indústria automotiva.

A Ford vai demitir cerca de três mil funcionários nos Estados Unidos e Canadá, a ação está ligada ao período de transição e expansão dos carros elétricos da montadora. Mas a tendência dos eletrificados não deve ser vista como a vilã das demissões.

O aumento dos carros elétricos não necessariamente será o responsável por demissões em massa dentro da indústria automotiva (Foto: Divulgação)

Expansão dos carros elétricos é motivo para demissões em massa?

Conforme informações da revista Fortune, a Ford vai demitir cerca de três mil funcionários nos Estados Unidos e Canadá. De acordo com o apurado, grande parte dos colaboradores atuam em projetos de carros a combustão.

No caso específico da Ford, o motivo das demissões é justamente o corte de gastos durante um cenário que a marca visa outros segmentos, como os elétricos.

Além da marca, outras ações como a atitude da Caoa Chery de fechar a fábrica de Jacareí, interior de São Paulo, anunciada no primeiro semestre do ano, levantam a questão de como a tendência dos carros elétricos pode prejudicar a cadeia automotiva.

Na época, a marca explicou que a longa paralisação e consequentemente a redução no quadro de funcionários se deu pela “necessidade da empresa se adequar às novas tecnologias, visando a produção no Brasil de veículos eletrificados.”

As atitudes das montadoras fazem pensar se essa será uma tendência geral, onde as marcas realizarão demissões em massa de profissionais que estão ligados aos projetos de carros a combustão, por exemplo.

No entanto, para o professor do Departamento de Engenharia Mecânica da Escola Politécnica da USP e membro do Centro de Engenharia Automotiva da instituição, Marcelo Alves, a expansão dos elétricos não representa uma tendência de desemprego em massa.

“De fato, os sistemas de propulsão têm menos peças nos modelos elétricos e pode exigir menos pessoas para projetar ou produzir, mas isso não significa que vai gerar um desemprego em massa quando vier a eletrificação”, explicou o especialista ao Uol Carros.

Com exceção dos motores, carros elétricos e a combustão são semelhantes (Foto: Freepik)

Ele também afirma que “a maior parte do restante do carro é igual, tem carroceria, montagem, interior e eletrônica”. Nesse último, inclusive, “existe um aumento nas áreas de eletrônica, circuitos de gerenciamento e baterias.”

Modernização do maquinário

É fato que a passagem de automóveis movidos a gasolina para carros elétricos está ganhando velocidade.

A maioria dos fabricantes de equipamentos originais automotivos (OEMs) espera produzir somente os elétricos até 2040. Alguns esperam atingir a meta ainda mais cedo, conforme anunciado na COP26.

Paulo de Godoy, country manager da Pure Storage, explica em seu artigo sobre o setor da indústria de TI e os carros elétricos que “Um desafio para as montadoras que querem se adaptar para os veículos elétricos é que as linhas de produção existentes são projetadas para veículos movidos à gasolina. Tentar modernizar sistemas mais antigos pode ser uma solução temporária, mas não resultará em uma vantagem estratégica sobre os concorrentes mais ágeis.”

Nesse caso, ele defende a ideia que a atualização de maquinários desenvolvidos originalmente para os carros elétricos fará com que haja um processo mais ágil e desenvolverá melhores produtos.

“O reequipamento pode ajudar no curto prazo, mas você nunca será capaz de otimizar a construção de uma nova solução em uma plataforma antiga. As diferenças são importantes.

Embora o investimento inicial possa ser grande, a construção de um processo de fabricação projetado para o modelo atual trará economia e melhores produtos para o mercado.” Informa o executivo.

O fato é que os carros elétricos já são tendência, e se por um lado há demissões – mesmo que mínimas – por outro, o segmento também exigirá o investimento em nova mão de obra focada no projeto e desenvolvimento dos veículos, bem como dos maquinários.

Especialista defende atualização de maquinário (Foto: Freepik)

Escrito por

Nicole Santana

Jornalista e especialista em comunicação empresarial, com bagagem de mais de três anos atuando ativamente no setor automotivo e premiada em 2016 por melhor reportagem jornalística através do concurso da Auto Informe. Atualmente dedica-se à redação do portal Garagem 360, produzindo notícias, testes e conteúdo multimídia sobre o universo automobilístico.

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