Veículos sem motorista?
Carro que dirige sozinho deverá começar a chegar às ruas em cinco anos, porém, sua viabilidade depende de mudanças na legislação e na infraestrutura
Até pouco tempo, os carros que dirigem sozinhos eram considerados coisa de ficção científica ou vistos apenas nos cinemas. Alguns anos se passaram, e eles deixaram de ser imaginação. Atualmente, empresas como Volvo, Google, Baidu, Ford e PSA Peugeot Citroën já contam com protótipos, que estão, inclusive, sendo testados pelas ruas e estradas de diversos países.
“Esses automóveis conseguem circular de forma autônoma porque contam com sensores que detectam obstáculos e percebem todo o ambiente ao seu redor. Isso é feito com a ajuda de câmeras e lasers, permitindo o mapeamento do ambiente em três dimensões”, explica Flavio Tonidandel, professor de ciência da computação da FEI.
O profissional diz ainda que sem esses acessórios os carros não conseguiriam entender o que devem ou não fazer em uma rodovia, na cidade ou em cruzamentos. A tecnologia empregada neles trabalha de forma agregada e possibilita que se calcule e detecte distâncias, evitando colisões com pessoas, outros veículos e objetos.
“Acredito que daqui a 20 anos já teremos carros autônomos nas ruas. É necessário tempo, pois eles necessitam da infraestrutura para funcionar, por exemplo, vias identificadas por sensores”, afirma João Carlos Fernandes, professor do curso de engenharia elétrica do Instituto de Tecnologia Mauá.
Para Tonidandel, o automóvel que anda sozinho com certeza fará parte do trânsito no futuro, mas o tempo dependerá da maturidade da tecnologia. “Se ele for confiável, conseguir interagir com outros não-autônomos e oferecer conforto aos passageiros, é bem possível que seja algo que irá dominar o mercado de automóveis e conduções. Uma coisa é ter um smartphone que trava de vez em quando, outra é ter um carro que trava, principalmente, quando este travamento pode causar acidente”, analisa.
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Segurança e desempenho
Sergio Ribeiro Augusto, que também é professor do curso de engenharia elétrica do Instituto Mauá de Tecnologia, comenta que, se bem desenvolvidos, os carros autônomos podem aumentar a segurança no trânsito. “Eles são programados para não ultrapassar um farol vermelho, não parar sobre a faixa de segurança e manter distância segura entre os carros. Seu sistema de aceleração e frenagem também é controlado.”
Por serem robotizados, eles ainda ajudam a evitar imprevistos causados por cansaço e fadiga. Além disso, os movimentos coordenados podem ser uma boa opção para reduzir e melhorar o trânsito das grandes cidades. Mas, para que circulem de forma correta, é necessário que as estradas, as avenidas e as ruas das cidades estejam devidamente sinalizadas.
“Geralmente, eles usam a sinalização de trânsito para se locomoverem e atuarem de forma segura no ambiente, portanto, precisam dela para detectar que existe uma faixa amarela dupla proibindo a ultrapassagem ou mesmo uma faixa de pedestre. Assim, com ruas e estradas mais bem conservadas e sinalizadas, a tecnologia tem muito menos chances de errar”, garante Tonidandel.
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Legislação
Um dos fatores que complica o desenvolvimento dos autônomos é a legislação. O professor da FEI relata que ela terá que passar por mudanças para que este tipo de carro se consolide no mercado. “Diversas variáveis podem causar problemas no sistema, inclusive aquelas que hoje em dia não parecem ser problemáticas como a questão da sinalização já comentada.”
Tonidandel cita como exemplo um caso de atropelamento por causa de faixas mal pintadas. “Dentro das normas e leis atuais, demoraria anos até que se identificasse o real culpado pelo acidente. A responsabilidade poderia ser do fabricante do software, do sensor, do posicionamento do sensor, da montadora ou do dono do carro. Inclui-se ainda a culpa ao governo e às autoridades de trânsito”, complementa.
Dessa forma, a falta de uma legislação mais clara sobre o assunto ajuda a inviabilizar a entrada do carro autônomo no mercado. Com leis que não englobam seus produtos, as montadoras ficam com receio de receber uma enxurrada de processos.
No Brasil
Mas não é só no exterior que o desenvolvimento de carros autônomos está sendo feito. No Brasil, diversas universidades também trabalham neste tipo de projeto. Caso da Universidade de São Paulo (USP). Por meio do Laboratório de Robótica Móvel do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC), de São Carlos, no interior de São Paulo, ela trabalha no projeto do Carro Robótico para Navegação Autônoma (CaRINA).
Na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o programa de carros que se locomovem sozinhos começou em 2007. Por lá, ele foi apelidado de Cadu, sigla para Carro Autônomo Desenvolvido na UFMG. Outra entidade nacional que faz este tipo de trabalho é a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). O carro em estudo foi elaborado pelo Laboratório de Computação de Alto Desempenho (LCAC), do Departamento de Informática.