América Latina comercializa automóveis que não passaram em testes de segurança

Montadoras globais continuam produzindo e comercializando veículos que não passaram em testes independentes de segurança reconhecidos internacionalmente. Os dados são do relatório Safer Cars For Latin America, e destacam que as empresas se aproveitam das fragilidades de regulamentação de certos países para vender automóveis sem itens como airbags e estrutura de chassi mais rígida – que nunca seriam aceitos em mercados norte-americanos ou europeus.

De acordo com a pesquisa, 22 modelos testados foram identificados como não seguros. Desses, 15 são ou já foram vendidos a consumidores da América Latina. No total, 150 mil carros reprovados em testes padrões de impacto foram negociados na região em 2015, colocando a vida de milhares de cidadãos em risco.

Atualmente, 1.25 milhão de pessoas morrem em estradas pelo mundo, sendo 90% em países de baixa ou média renda. Boa parte das nações são justamente as que não adotaram as regulamentações de segurança recomendadas pela Organização das Nações Unidas (ONU). Só no Peru, por exemplo, 4.234 indivíduos perderam a vida em acidentes de carro no ano passado. No Brasil, foram 46.935.

“Estamos pedindo aos governos da América Latina para que adotem as regulamentações da ONU e que trabalhem junto às organizações de consumidores em campanhas de conscientização do público. Nós também pedimos que fabricantes de veículos parem de vender os que não são comprovadamente seguros e que voluntariamente adotem as regulamentações da ONU”, diz Tamara Meza, da Consumers International Chile, entidade mundial de grupos de defesa do consumidor.

Segundo informações do Programa de Avaliação de Veículos Novos – Global NCAP, o custo para implantar um sistema de airbags adequados e reforçar a carroceria dos modelos adicionaria apenas US$ 200 (cerca de R$ 676) a mais por unidade para as montadoras na hora da produção. Já o valor da adição dos sistemas ABS e ESC é de US$ 50 (R$ 169).

Veículos envolvidos

Os resultados referentes ao nível de segurança dos veículos foram determinados por meio das notas obtidas nos testes de impacto do Programa de Avaliação de Veículos Novos para América Latina e Caribe (Latin NCAP). Elas variam de 0 a 5 estrelas, sendo 5 a melhor nota.

Vinte e dois carros obtiveram classificação de 0 ou uma estrela, que retrata um nível de segurança péssimo. Destes, seis são ou foram vendidos no Brasil (todos sem airbag): Fiat Palio, Fiat Palio ELX 1.4, Fiat Uno Evo, Ford Ka Fly Viral, Chevrolet Celta, Peugeot 207 Compact 5P 1.4 e Volkswagen Gol Trend 1.6.

Chevrolet Celta Advantage 2014

Em 2011, Chevrolet Celta tirou apenas uma estrela nos testes de colisão do NCAP Latin | Foto: Divulgação

Vale lembrar que nem todos os modelos continuam disponíveis nas concessionárias das marcas, já que o teste mostra resultados coletados entre 2010 e 2016. Montadoras como Chery, Geely, JAC, Hyundai, Lifan, Nissan, Renault e Suzuki também aparecem na lista dos carros menos seguros.

“Os dados falam por si só. Existe um padrão ambíguo inaceitável sendo aplicado na América Latina. As vidas dos consumidores são colocadas em risco onde as regulamentações do governo são fracas. Fabricantes lucram com essas falhas nas regulamentações e continuam vendendo carros que não são seguros”, afirma Amanda Long, Diretora Geral da Consumers International.

Falta informação

Um dos grandes problemas que ajuda a colocar a vida de mais pessoas em risco a cada dia é a falta de informação. Muitas vezes, o cliente compra um carro sem nem mesmo saber o resultado que ele obteve em testes de segurança. “Uma pesquisa realizada por membros da Consumers International em 12 concessionárias de quatro países da América Latina (Chile, Peru e Argentina) e da América Central (México) mostra que a equipe de vendas, muitas vezes, não informam ao consumidor as características de segurança existentes naquele veículo, a menos que solicitem”, explica Justin Macmullan, executivo da Consumers International.

Para ele, as informações sobre segurança são tão importantes quanto as de desempenho, preço, conforto e acessórios tecnológicos. Por isso, vale a pena checar e obter o máximo de dados referentes ao automóvel antes de comprá-lo.

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Maria Beatriz Vaccari
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Maria Beatriz Vaccari

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