Alta do dólar e a crise do mercado automotivo
Neste momento, montadoras têm optado por manter os preços e criar formas de pagamento facilitadas
No dia 22 de setembro, o dólar superou a barreira dos quatro reais pela primeira vez na história da moeda brasileira. Com o câmbio alto, muita gente poderia esperar que o setor automotivo, tal qual a economia do País em geral, iria se enfraquecer ainda mais. Por conta disso, a previsão era de subida dos preços e queda nas vendas.
Pelo menos a parte do aumento do valor dos carros ainda não está ocorrendo. Segundo Antonio Jorge Martins, professor e coordenador do curso de MBA em Gestão Estratégica em Empresas da Cadeira Automotiva da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o próprio momento ruim que o segmento atravessa em 2015 força as fabricantes a não aumentarem os preços imediatamente por conta da flutuação cambial. “O mercado está operando muito abaixo atualmente e as fabricantes não têm condições de formar preços decorrentes da ampliação dos custos”, explica.
O profissional explica ainda que a queda nas vendas não está diretamente ligada à desvalorização do real. “Hoje em dia, temos o índice de confiança baixa e o nível de endividamento das famílias alto. Ninguém quer assumir compromissos de médio e longo prazo”, relata.
Para Luciano D’Agostini, economista e membro do Conselho Federal de Economia, por ora as fabricantes vão abrir mão de parte dos seus lucros para não reajustarem os preços. “Algumas peças são importadas e isso aumenta o custo final de produção do automóvel. No entanto, as empresas estão segurando os preços para não agravarem ainda mais a situação”, afirma.
De acordo com a Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), a comercialização de automóveis caiu 20,49% no acumulado do ano ante o mesmo período de 2014. A produção também foi afetada e registrou decréscimo de 20,1% até o final de setembro, conforme apontam dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Combustível
A recente subida no preço da gasolina e do diesel, 6% e 4% respectivamente, também gerou rumores de que o dólar teria tido influência na alta promovida pela Petrobrás. A medida entrou em vigor no final de setembro e a empresa, endividada na moeda americana, teria tomado a decisão de encarecer o combustível por conta da questão cambial.
D’Agostini afirma que, mesmo que o governo não diga isso de forma oficial, este foi o fator que influenciou o acréscimo. “Existe uma correlação entre e a dívida da petrolífera e o aumento recente da gasolina. A Petrobrás captou muito dinheiro em dólar para realizar suas operações e o reajuste servirá para apaziguar a conta”, complementa.
E o economista prevê ainda que apenas este aumento do combustível não será suficiente e o consumidor deve ser preparar para pagar mais pelo combustível no começo do ano que vem.
Momento para comprar
E com os preços dos automóveis mantidos – pelo menos, por enquanto – será que este é um bom momento para comprar um carro? Martins diz que sim, que a situação é favorável para quem quer aproveitar os valores “congelados”. Porém, ele recomenda cautela. “É uma hora favorável, mas antes é preciso pesquisar bem para obter os melhores preços e as melhores formas de pagamento possível”, indica.
Agora, se o plano for apertar os cintos e fechar a carteira esperando que a cotação do dólar diminua nos próximos meses, o conselho do economista é mais conservador. “No ano que vem será possível encontrar carros 2015 com preços mais baixos, já que as novas linhas estarão chegando às lojas. Então, é melhor esperar”, finaliza.
Rodrigo Loureiro é repórter do site Garagem 360 e da Agência Entre Aspas. Em 2014 atuou na redação do portal UOL Esporte e também já escreveu para as editorias de tecnologia e turismo de outros portais e publicações.