Mover e a Cop30: A ambição do Brasil na descarbonização automotiva e os desafios da execução
Mover e IPI Verde: o Brasil na COP-30 com a política automotiva mais ambiciosa, mas enfrenta desafios na gestão de R$ 3,8 bilhões em incentivos. Entenda o paradoxo, a corrida por créditos e o impacto do IPI Verde.
O Brasil se posiciona no centro do debate global sobre descarbonização, na Cúpula do Clima (COP-30) em Belém, com um plano audacioso: o Programa Mobilidade Verde e Inovação (Mover). Considerada uma das políticas industriais mais ambiciosas da história recente, o Mover foi criado para ser o motor da transição energética no setor automotivo, oferecendo incentivos que podem quadruplicar os valores do seu antecessor, o Rota 2030, e alinhando a competitividade industrial nacional à sustentabilidade global.
Mover e a Cop30: A ambição do Brasil na descarbonização automotiva e os desafios da execução
O programa surge como um símbolo da nova fase da indústria brasileira, focada em inovação tecnológica e redução de emissões. No entanto, o que deveria ser um mecanismo perfeitamente calibrado para impulsionar o país como potência verde, ainda opera sob um paradoxo estrutural que ameaça sua eficácia.
Apesar do seu design promissor, o Mover enfrenta um grande gargalo: a gestão dos créditos tributários. A falta de regulamentação, a imprevisibilidade e, principalmente, a forma de distribuição dos incentivos criaram um sistema desigual.
O modelo de solicitação opera sob a regra de “primeiro a chegar, primeiro a ser atendido”, transformando a captação de recursos em uma verdadeira corrida digital de alta velocidade. No primeiro dia de abertura, grandes empresas rapidamente esgotaram o orçamento anual de R$ 3,8 bilhões destinado à inovação (com alocação ajustada para 73% em 2025), deixando fabricantes de menor porte e empresas de autopeças, que seguem a regra de pedidos trimestrais, desamparados.

O resultado é a aprovação zero de créditos em alguns trimestres, como ocorreu no segundo deste ano, gerando uma distorção de acesso que prejudica a diversidade do setor.
O IPI verde e a revolução no portfólio das montadoras
Paralelamente à disputa por incentivos, o setor vive uma profunda transformação com a iminente entrada em vigor do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) Verde, prevista para 1º de novembro.
O novo modelo tributário é um divisor de águas:
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Bônus (IPI Reduzido): Veículos mais eficientes, sustentáveis e seguros, como modelos híbridos e elétricos, receberão bônus fiscais.
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Malus (IPI Elevado): Modelos menos limpos, movidos exclusivamente a gasolina ou diesel, sofrerão aumentos significativos.
O IPI final será modulado por critérios como potência, propulsão, reciclabilidade, eficiência energética e segurança. A mudança impacta imediatamente o planejamento das montadoras, que estão priorizando modelos híbridos flex (aproveitando o etanol brasileiro), plug-in híbridos flex e elétricos, devido à clara vantagem fiscal.
Um exemplo do impacto: um SUV a diesel pode ter seu IPI elevado em até 12 pontos percentuais, chegando a 18,3%.

O Mover introduziu a reciclabilidade veicular como um pilar de redução do IPI, criando um nicho de mercado e estimulando a estruturação de operações de desmontagem e reaproveitamento de materiais. Contudo, este segmento também está travado pela ausência de regulamentações complementares. A falta de portarias que definam claramente como medir, gerar e validar os créditos de reciclabilidade impede o avanço efetivo dessa economia circular.
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O Caminho à Frente
A transição para uma mobilidade de baixo carbono é o principal termômetro do compromisso brasileiro com o futuro climático global, e a COP-30 reforça essa urgência. Embora o Mover seja o motor dessa mudança, o descompasso entre a ambição e a execução compromete seu potencial transformador.
A falta de previsibilidade, a demora na publicação de regulamentações e o risco de desindustrialização por importação de autopeças são desafios que exigem ajustes finos e rápidos. Equilibrar a atração de investimentos das grandes players com o fomento à inovação das empresas menores será crucial. O sucesso do Mover definirá se o Brasil apenas acompanhará a revolução automotiva mundial ou se tornará um de seus líderes.
Você acredita que o Brasil tem condições de liderar a mobilidade verde global? Como o governo deveria equilibrar o acesso aos créditos tributários para grandes e pequenas empresas? Deixe sua opinião e participe da discussão!
Sou Robson Quirino. Formado em Comunicação Social pelo IESB-Brasília, atuo como Redator/ Jornalista desde 2009 e para o segmento automotivo desde 2019. Gosto de saber como os carros funcionam, inclusive a rebimboca da parafuseta.