O que você não sabe (e precisa saber) sobre a nova medida do carro popular
A medida provisória do carro popular não se refere a apenas à redução dos preços dos automóveis . Entenda o que mais foi afetado.
O governo federal anunciou na semana passada um programa de incentivos à indústria automotiva que resulta na redução no valor de venda dos carros com preços até R$ 120 mil. Isso provocou reduções de até 11,6% – fora bônus oferecido pelas próprias montadoras – de acordo com critérios de preço, eficiência energética e densidade industrial no País. Mas a medida provisória do carro popular não se refere a apenas isso. Entenda.
Conheça os demais impactos da medida do carro popular
Medida governamental deve estimular a produção e o emprego (Foto: Freepik)
Para especialistas, a medida pode ter como resultado um aumento nas vendas de automóveis, embora não contemple toda a cadeia envolvida no setor.
Desde o início da pandemia de Covid-19, a indústria de automóveis vem sofrendo para se recuperar de diversas intercorrências, como a crise dos semicondutores (microchips) e a consequente falta de componentes de produção. Por isso, o anúncio do governo federal tem um efeito positivo na expectativa de diversas frentes do mercado.
Para o presidente da Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto), Enilson Espínola Sales de Souza, “favorecer a indústria e, consequentemente, o comércio de carro 0km é muito importante. Por outro lado, a Fenauto espera que o governo olhe também para os revendedores de seminovos e usados, de modo a contribuir com a cadeia como um todo”.
Souza lembra que, em um futuro próximo, esse impacto também poderá ser sentido no subsetor de seminovos na mesma categoria que está sendo contemplada agora, a de veículos mais baratos.
Medida pode reduzir taxa de desemprego
De acordo com a economista e professora do curso de Economia da Universidade Positivo (UP), Adriana Ripka, esse é o tipo de medida que pode contribuir para a recuperação econômica do País, gerando empregos. “A discussão feita pelo governo com representantes do setor de automóveis levantou uma série de possíveis medidas que não se resumem a reduzir os preços dos carros ditos populares, mas também a viabilizar o acesso a eles pela população menos favorecida por meio do crédito”, afirma.
Trabalhadores devem se beneficiar com aumento das vendas (Foto: Divulgação/BMW)
Esse movimento busca claramente uma retomada do setor. “De forma geral, as possibilidades mencionadas giram em torno de três questões principais: sociais, de eficiência energética e de densidade industrial”, diz Ripka.
Ela avalia que, em conjunto, o programe de incentivos pode trazer formas diversas de aquecimento da economia, visto que dão estabilidade aos trabalhadores já contratados pela indústria e, ao mesmo tempo, criam novos empregos.
De fato, depois do anúncio feito pelo governo federal, três montadoras confidenciaram à Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) que desistiram dos layoffs que estavam previstos. A afirmação foi feita pelo presidente da entidade, Márcio Lima Leite, durante o Dia da Indústria, celebrado na semana passada.
Mercado busca se adaptar
Outra consequência imediata dessa medida pode ser uma nova onda de crescimento no número de financiamentos contratados. Para Luís Otávio Matias, vice-presidente da Tecnobank, especializada em tecnologia para registro de contratos de financiamentos, esse tipo de incentivo traz uma mudança de humor e senso de oportunidade dos consumidores.
“Isso, por si só, já cria um estímulo para o mercado”, avalia. Matias ressalta que a forma como o incentivo está sendo concedido, privilegiando veículos com mais peças nacionais, é muito importante para um processo de reindustrialização. “A preferência para carros com combustíveis menos poluentes também tem um peso significativo para o estímulo à redução de danos ambientais”, afirma.
No novo cenário, com redução dos preços de automóveis, as concessionárias buscam alternativas para acompanhar a demanda. Segundo especialistas da Dealersites, startup que lidera a digitalização do setor automotivo no Brasil, a saída é apostar em sistemas híbridos, que têm o digital como pontapé inicial na jornada de compra.
Essa tendência é alcançada a partir do trabalho de startups e empresas de tecnologia que trazem soluções para dentro dos processos, com aplicativos, sites responsivos, canais de atendimento e assistentes virtuais.
“A oferta de carros mais acessíveis e a competição acirrada entre montadoras traz um estímulo para dentro do setor e impacta diretamente nas concessionárias, que cada vez mais devem combinar elementos do mundo virtual com o do físico para personalizar a relação com o cliente”, analisa Marcos Pavesi, diretor Comercial da Dealersites.
Trabalho das concessionária deve se adaptar aos novos tempos (Foto: Freepik)
O conceito de comprar e vender carros mudou muito nas últimas décadas. Se antes as concessionárias precisavam dispor de vários modelos de veículos, hoje, os vendedores vêem na internet uma forma de driblar a concorrência. Para Pavesi, o momento é de digitalizar as operações para acompanhar a evolução do mercado, com o foco na implementação de ferramentas que priorizam a inovação.
“Ao longo da pandemia, as concessionárias precisaram dar passos largos rumo à digitalização para acompanhar a mudança de comportamento do consumidor, que agora passa cerca de 90% da jornada de compra em meios digitais”, afirma o executivo.
Jornalista com 20 anos de experiência profissional como repórter nas principais redações de jornais do Brasil, como Gazeta Mercantil, Folha SP, Estadão e Jornal do Brasil e em cargos de coordenação, edição e direção. Formado em Jornalismo pela Caśper Líbero.
