Andamos no novo Renault Zoe com direito a viagem rápida e trânsito preocupante
O novo Renault Zoe foi testado por algumas horas pelo Garagem360 na última quinta-feira (20). Reestilizado e com algumas melhorias...
O novo Renault Zoe foi testado por algumas horas pelo Garagem360 na última quinta-feira (20). Reestilizado e com algumas melhorias, o compacto 100% elétrico se mostrou bastante divertido ao volante e comprova a evolução dos modelos movidos a eletricidade. E toda essa boa dinâmica do carro fez eu me empolgar durante a avaliação. Após buscar o carro em São Paulo capital e ir até São Bernardo do Campo, no ABC paulista, para fazer as fotos, me veio uma tremenda vontade em descer a serra até Santos com o modelo. Afinal, a bateria estava cheia, o dia tinha o belo sol do outono brasileiro e eu precisava conhecer melhor o carro. Conheci, de fato, mas também entendi que o Brasil ainda tem um longo caminho para evitar alguns sustos com carros elétricos nas estradas.
Novo Renault Zoe: nas curvas da estrada de Santos
Peguei a rodovia Anchieta rumo ao litoral por volta das 12h30. Como precisava devolver o carro até às 16h, a ideia era ir e voltar sem paradas – até porque estamos no meio de uma pandemia e não vale a pena dar bobeira. Para descer, tudo tranquilo, exceto pelo fato de eu estar no menor veículo no meio de um mar de caminhões. Nesse trecho foi possível conhecer um dos bons recursos do Zoe: o que regenera a energia das frenagens para recarregar a bateria. O painel de instrumentos digital informava 86% de carga no topo da serra. Com o carro no modo B durante boa parte da descida, ele terminou o trajeto com 89% de carga. Isso nenhum carro somente a combustão consegue fazer, já que é impossível aumentar a quantidade de litros no tanque nessas situações.
Descida concluída, playlist embalando a viagem e carga quase cheia. Não tinha como passar apertos na volta, pensei eu. Acontece que a vida é uma caixinha de surpresas e no trânsito nunca temos o total controle da situação. Logo que fiz o retorno para subir a serra, notei que os luminosos da via informavam sobre a interdição da Rodovia Anchieta no sentido capital. Não me preocupei tanto, já que há a Imigrantes para o trajeto. Feliz pelas respostas do Zoe ao volante, que ganha velocidade com desenvoltura e faz curvas de maneira exemplar, com a carroceria grudando no chão, me preparei para a mudança no plano de rota. E por uns 5 km tudo correu bem – o tráfego fluía normalmente, o dia seguia lindo, e George Harrison continua fazendo sua guitarra chorar suavemente no sistema de som do carro.
Nessa altura o relógio marcava 13h20 e eu calculava que entregaria o Zoe até umas 14h. E nesse momento tudo mudou, pois um trânsito monumental se formou na minha frente. Segundo as placas da via, um acidente no km 46 da Imigrantes estava causando um congestionamento imenso, no melhor estilo daqueles de pós-feriado prolongado que passavam na TV antes da covid-19 bagunçar a vida de todo mundo.
E agora?
Eu estava tranquilo nos primeiros minutos, afinal faltava 60 km até meu destino e minha autonomia era de 385 km. Nada poderia dar errado, pensava. Só que notei que para cada 200 metros percorridos vagarosamente, a autonomia caía 1 km. E como me preocupo à toa, já comecei a imaginar o carro em cima de uma plataforma e eu explicando para a Renault que tive a brilhante ideia de ir até Santos com um carro elétrico em um País sem a mínima estrutura para emergências com esses veículos. Desliguei o som, o ar-condicionado, e até cogitei desligar o carro durante as pequenas locomoções que fazia. O medo de acabar guinchado me transformou em um maluco economista de energia, afinal tudo isso interfere na capacidade de autonomia.
Bem, no fim tudo deu certo e nada disso aconteceu. Como mágica, após aproximadamente 10 km nesse sufoco, tudo fluiu e consegui devolver o carro sem nenhum problema. Só que a experiência me fez pensar no quanto as estradas brasileiras não estão prontas para esses carros. Não há nenhum eletroposto de emergência no sistema Anchieta-Imigrantes, um dos mais movimentados do País. Na realidade, quase não há postos de gasolina. Com isso, era inevitável não me desesperar ao ver o tamanho do engarrafamento e o medo de ter que subir toda a serra naquele ritmo.
Por sorte, o Zoe evoluiu bem e se mostrou que pode ser utilizado em viagens curtas sem necessitar de carregamentos de emergência. Ao fim do teste, o carro ainda tinha cerca de 60% de carga e seria capaz de rodar mais 200 km. Ele também agradou pela boa posição de dirigir (mesmo sem ajuste de altura do banco), pelo bom acabamento interno, sistema multimídia atual e intuitivo, além do painel de instrumentos digital de fácil leitura. Entretanto, o que mais se destacou foi a autonomia de 385 km. Sem ela, talvez esse texto acabasse com a foto do carro em cima de um caminhão plataforma da Ecovias. Como tudo deu certo, encerro com uma bela galeria de fotos do elétrico.
Jornalista formado na Universidade Metodista de São Paulo e participante do curso livre de Jornalismo Automotivo da Faculdade Cásper Líbero, sou apaixonado por carros desde que me conheço por gente. Já escrevi sobre tecnologia, turismo e futebol, mas o meu coração é impulsionado por motores e quatro rodas (embora goste muito de aviação também). Já estive na mesma sala que Lewis Hamilton, conversei com Rubens Barrichello e entrevistei Christian Fittipaldi.